A instabilidade nos países produtores de petróleo e a volatilidade dos preços dos combustíveis
Depois de um longo período de pouca volatilidade dos preços dos combustíveis, assistimos nos últimos dias a uma enorme torrente de notícias, algumas delas com carácter alarmante, sobre os ajustamentos em alta que se verificaram nas duas últimas semanas. A razão próxima desta subida está no clima de guerra civil que se verifica no Iraque, um importante país produtor do médio oriente que, lenta mas consistentemente, vinha a recuperar os seus níveis de produção, tão fortemente afetados aquando das intervenções militares que levaram à queda do regime.
Um dos pecados que se apontam à intervenção militar dos USA e seus aliados, foi o de ter desmantelado as forças armadas e o aparelho de estado iraquianos, criando um vazio propício ao aparecimento e crescimento de grupos e milícias que combatem o regime instalado. Não tenho a pretensão de ir mais além na análise político-militar deste conflito e apenas o referi como a causa próxima para o aumento das cotações do petróleo que foi, quase de imediato, seguido pelas dos produtos derivados, entre eles a gasolina e o gasóleo, que se fazem sentir no bolso dos consumidores.
A questão que se pode colocar é o porquê de um impacto tão rápido, quando não se verificaram interrupções na produção e os produtos que consumimos hoje provêm de petróleo extraído antes da crise rebentar. Ora isso deve-se sobretudo ao ascendente que os mercados financeiros têm sobre as transações físicas dos produtos em causa. O que quero dizer, é que não é por quebra da oferta que os preços subiram, mas tão só pelas expectativas criadas nos mercados financeiros de que tal possa vir a acontecer. Depois, face às margens muito apertadas, quer da refinação quer da comercialização de produtos petrolíferos, os ajustamentos de preços são imediatos, já que a lógica é a do custo de reposição da matéria-prima e não do custo de aquisição. Esta lógica funciona quer nas subidas, como é o caso, quer nas descidas, ao contrário do mito instalado de que as subidas são mais rápidas e amplas do que as descidas.
Dada esta explicação para a subida verificada nas últimas semanas, importa comparar o que se passou com situações análogas no passado. A análise da evolução das cotações leva-nos a concluir que o mundo está hoje mais bem preparado para reagir a estas crises, não se assistindo a flutuações tão amplas. A explicação para isso, passa por vários fatores, dos quais enumerarei apenas dois: a crescente capacidade de produção fora do médio oriente, nomeadamente nos USA com as fontes não convencionais de petróleo e gás, e o arrefecimento do crescimento nas economias emergentes, as grandes responsáveis pelo aumento do consumo nos últimos anos. No primeiro caso, a maioria do petróleo produzido é consumido internamente levando a uma redução das importações e, consequentemente, a uma maior disponibilidade para satisfazer as necessidades de outras regiões. No segundo caso, a menor pressão na procura permitiu também a estabilidade que mencionámos no início deste artigo.
Sabendo de antemão, e com base na experiência, que a maioria das previsões nesta área falha, atrevo-me a dizer que me parece que os mercados estão mais bem preparados para lidar com estas situações e que, por isso, não antevejo uma escalada de preços. Contudo, tudo isto mudará de figura se a instabilidade político-militar no Iraque se agravar significativamente, afetando diretamente a produção em larga escala e se essa instabilidade se estender a outros países do médio oriente. Não nos esqueçamos que a situação na Síria continua sem solução à vista e os recentes desenvolvimentos no conflito israelo-palestiniano podem não ajudar.
António Comprido
Secretário-geral da APETRO