A eficiência energética no sector dos transportes
Todos concordamos que os sistemas de transporte são essenciais para o comércio e para a competitividade económica, permitindo melhorar os padrões de vida dos cidadãos, num mundo cada vez mais globalizado.
Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), o consumo mundial de energia no sector de transportes tem aumentado a uma média de 1,1 por cento ao ano, sendo o petróleo e outros combustíveis líquidos os mais utilizados. O sector dos transportes é responsável pela maior parte (mais de 60%) do total do crescimento do consumo mundial de petróleo e de outros combustíveis líquidos, em comparação com um menor aumento no setor industrial e com um declínio na utilização final de energia em todos os outros sectores.
A maior fatia do crescimento do consumo de energia nos transportes, ocorre nos países não pertencentes à OCDE, que têm que dar resposta ao crescimento económico e populacional, estimando a AIE, um aumento de 2,2%, em média, até 2040. Contrariamente, o consumo de energia da OCDE neste sector, deverá diminuir 0,1%/ano, no mesmo período, como resultado de um crescimento económico relativamente mais lento, das melhorias na eficiência energética e de níveis de população estáveis ou em declínio.
De realçar que o mais rápido crescimento do consumo de energia no setor dos transportes ocorre na China e na Índia, com aumentos médios anuais acima dos 4%, sendo contudo, “per capita”, muito menor do que nas regiões da OCDE.
Na Europa, de acordo com a Agência Europeia de Energia, os transportes são responsáveis por cerca de um terço do consumo final de energia dos países membros e por mais de um quinto das emissões de gases de efeito estufa. O sector dos transportes é também responsável por uma grande parte da poluição do ar urbano e da poluição sonora.
Os transportes são portanto o sector com maior consumo final de energia e assim deverá permanecer. Como tal, e dado o peso que representam os combustíveis de origem fóssil, devido à relação custo/benefício que proporcionam e à ausência, no imediato, de alternativas fiáveis, práticas, sustentáveis e económica e tecnicamente aplicáveis, qualquer solução futura, tem obrigatoriamente que os ter em consideração.
Julgo pois que a transição para uma economia de baixo carbono, que permita combater as alterações climáticas, mas também permitir a segurança energética e a menor dependência das importações de energia de origem fóssil em muitos países, implica a “descarbonização” progressiva do sector, passando pela utilização de outras fontes de energia, menos poluentes mas, fundamentalmente, por políticas de melhoria da eficiência energética.
Segundo um relatório da Agência Internacional de Energia, a adopção de políticas que melhoram a eficiência energética dos sistemas de transporte urbano, poderiam levar a economias da ordem dos $70 biliões, em gastos com veículos, combustível e infraestruturas de transporte, de agora até 2050.
Melhorar a eficiência energética, muitas vezes chamado de ‘gigante silencioso’ é, no meu entender, a chave para a redução das emissões globais de CO2, tanto a curto como a longo prazo, dado existir ainda um longo caminho a percorrer, em todos os domínios, dos tecnológicos aos legislativos e nos diversos componentes dos veículos, dos pneus, aos motores, passando pelos combustíveis, pelos lubrificantes, pela aerodinâmica e até, e igualmente importante, pela alteração de hábitos que levem a uma utilização mais eco eficiente dos veículos.
A este propósito, há que referir que muito está a ser feito mas muito estará por fazer.
Na UE, os carros vendidos em 2013 foram 4% mais eficientes do que no ano anterior e quase 10% mais eficientes do que o carro médio vendido em 2010. A média de emissões de dióxido de carbono por quilómetro, continuou a cair. O nível médio de emissões de CO2 de um carro novo, vendido em 2013 foi de 127g de CO2/km, significativamente abaixo da meta para 2015, de 130 g, de acordo com dados provisórios da Agência Europeia do Ambiente (AEA). No entanto, os fabricantes terão de continuar a reduzir os níveis de emissões para cumprir a meta de 95g de CO2/km até 2021.
De realçar também que na EU, o número de carros novos registados tem vindo a diminuir continuamente, desde o seu pico de 15,5 milhões em 2007, aos 11,8 milhões em 2013 e que em média, os carros mais eficientes foram comprados na Holanda (109g CO2/km), na Grécia (111g CO2/km) e em Portugal (112g CO2/km), enquanto os países onde se vendem os carros menos eficientes foram a Letónia (147g CO2/km), seguido pela Estónia (147g CO2/km) e pela Bulgária (142g CO2/km), o que parece denotar a existência de dois mercados distintos na Europa.
Parece-me pois que teremos de alterar o paradigma que nos conduziu no passado e que há necessidade de criar um novo sistema de transporte sustentável, baseado na justiça de tratamento das diferentes fontes de energia, com base na sua eficiência energética, no seu impacto ambiental, em toda a cadeia, isto é da sua produção à sua utilização, de total abertura quanto à utilização de novas tecnologias comprovadamente fiáveis, práticas, sustentáveis e economicamente aplicáveis, acompanhado por políticas de melhoria da eficiência energética.
Havendo evidentemente muito a fazer, e numa altura em que se começa a discutir com mais vigor a Economia Verde, há que proceder com cautela, sob o ponto de vista legislativo e fiscal, para que não se criem assimetrias profundas e não se causem sérios danos à já tão débil economia nacional.
Aníbal Vicente
Gerente da Sogilub