No futuro
No espaço que habitualmente é cedido para a nossa participação decidimos, desta vez, fazer um exercício virtual que nos leva para um futuro provável. Se por um lado se concluirá que a ação humana é a responsável por uma percentagem muito considerável da sinistralidade rodoviária registada, por outro lado verificaremos que o homem tem a capacidade para criar sistemas que o ajudam a errar menos, sendo que o cometimento do erro é uma das características mais visíveis da condição humana.
Estamos assim num tempo em que os ocupantes de um veículo não possuem uma ação direta no exercício da condução. Os veículos estão dotados de sistemas que lhes permitem ligar dois pontos (partida e destino) sem que ocorram acidentes rodoviários e, por consequência, não existirá registo de vítimas por sinistros rodoviários. As velocidades são adequadas à sinalização, lida por sensores, às condições atmosféricas, à intensidade de tráfego e à presença de utilizadores vulneráveis.
As ultrapassagens só são realizadas quando reunidas todas as condições de segurança. As distâncias entre veículos são sempre as adequadas para que em casos imprevistos haja o espaço conveniente para o veículo parar sem sobressaltos. As manobras são sempre sinalizadas através dos sistemas luminosos. Não ocorrerão manobras perigosas.
As vias rodoviárias serão, deste modo, verdadeiras vias de comunicação que comportam pessoas e mercadorias, salvaguardando-se a integridade física dos ocupantes e a integridade económica dos bens transportados. A potência dos motores, as velocidades de ponta, o tempo que se demora até chegar aos 100 km/h, deixa de ser a característica que promove as máquinas. Promove-se a vida.
E com este estado de coisas rompe-se com o modelo agora existente, quase como se passássemos em revista “As intermitências da morte” de José Saramago, em que nesse cenário global, primeiro acabavam os Seguros e, por fim, as entidades fiscalizadoras de trânsito.
Até que este pequeno exercício utópico tenha algum dia lugar, resta-nos este constante apelo à mudança de comportamentos e atitudes, a uma condução responsável, ao cumprimento das regras de trânsito, à exata observância dos limites de velocidade estabelecidos, ao respeito recíproco entre utentes das vias. Enfim, este diálogo permanente com o factor, do sistema rodoviário, que erra hoje e vai errar amanhã, o Homem.