A queda do preço do petróleo: bom ou mau?
Antes de falar no tema principal do meu artigo de hoje, gostaria de recordar o que escrevi em Julho, a propósito da então subida do preço do petróleo: “Sabendo de antemão, e com base na experiência, que a maioria das previsões nesta área falha, atrevo-me a dizer que me parece que os mercados estão mais bem preparados para lidar com estas situações e que, por isso, não antevejo uma escalada de preços”. Passados apenas 5 meses, passámos para o extremo oposto, com uma descida acentuada de mais de 40% das cotações do crude nos mercados internacionais. Por isso, tudo o que hoje se possa dizer sobre a evolução previsível dos mercados, corre seriamente o risco de ser desmentido pelos factos nos próximos tempos.
Contudo, a minha intenção de hoje é de fazer uma breve análise sobre as consequências desta queda: é bom ou mau? Como sempre é bom para uns e mau para outros. Obviamente que para os países produtores, esta queda acentuada acarreta uma drástica redução das suas receitas com implicações significativas nas respetivas economias. Alguns acumularam suficientes excedentes financeiros e poderão resistir à crise por um período mais ou menos prolongado. É o caso tipo da Arábia Saudita e de alguns outros estados do Golfo. Mas outros, quer membros da OPEP, quer terceiros, dificilmente escaparão a medidas de “austeridade” ditadas pela quebra da sua principal fonte de receita. Países como o Irão, Iraque, Venezuela, entre outros, terão que rever os seus orçamentos internos quer a nível da despesa quer do investimento. Para além dos estados, também as Companhias Petrolíferas Internacionais verão o seu valor de mercado cair e muito provavelmente também revisitarão os seus planos de investimento com o adiamento ou, pelo menos, desaceleração de alguns projetos.
Do outro lado, estão fundamentalmente os países consumidores que verão a sua fatura energética atenuar-se significativamente, contribuindo para um melhor resultado da sua balança comercial. As indústrias e os consumidores em geral beneficiarão de preços dos combustíveis mais baixos, podendo aquelas vir a refletir essa baixa no preço dos seus produtos e serviços. Portugal será com certeza um desses casos. Contudo, mesmo aí, as empresas com interesses na produção, caso da Galp Energia e da Partex, verão as suas receitas reduzirem-se com os impactos atrás descritos.
Para além destes efeitos mais imediatos, parece-me que o mais importante é refletir sobre as implicações a médio e longo prazo. Aqui podemos falar em dois planos: o preço baixo da energia desincentiva não só o investimento na produção de petróleo mas também nas chamadas energias alternativas que se tornarão menos competitivas. Para além disso, poderão arrefecer um pouco os esforços na melhoria da eficiência energética, com consequências negativas para o impacto no ambiente e clima. Não é difícil perceber que esta desaceleração levará, dentro de alguns anos, a uma redução da oferta. A economia, que até poderá sofrer um impulso com esta baixa do custo da energia, virá a confrontar-se com um potencial desequilíbrio entre a oferta e a procura, com a consequente pressão nos preços, no sentido da subida.
Em conclusão, como quase tudo na vida, não há situações totalmente virtuosas ou viciosas. Os preços baixos hoje, poderão criar as condições para uma escalada mais tarde. É por isso que se fala muito num preço “justo”, que eu prefiro chamar “equilibrado”, que permita manter os investimentos necessários para que continue a haver de forma continuada e sustentada uma oferta da energia necessária ao crescimento da população mundial e à melhoria da sua qualidade de vida, com o devido respeito pelo meio ambiente, sem cair em exageros causadores de efeitos perniciosos. E acima de tudo esta instabilidade, é um obstáculo material ao planeamento dos Estados e das empresas.
António Comprido
Secretário-geral da APETRO