Breve Reflexão II
No passado dia 23 de setembro, no ISCTE, sob os auspícios da Associação dos Cidadãos Auto Mobilizados, decorreu um colóquio com um título muito sugestivo – “Desastre Rodoviário na Europa. Não seremos todos vítimas? ”. E serve de ponto de partida, tal frase, para se fazer uma breve reflexão sobre a forma como a sinistralidade nos afeta a todos, de uma forma genérica, direta ou indirectamente.
Desde logo, os custos morais e físicos que recaem sobre as vítimas diretas, familiares e amigos. Depois relevam os danos económicos que a sinistralidade pressupõe, com o Estado (e o Privado) a despenderem recursos monetários equivalentes a 1,5 do PIB.
Mas há ainda a contabilizar o aumento das taxas e do custo com os seguros, que é um sistema de auto suporte de todos os tomadores de seguro (todos nós), que varia, na relação direta, conforme o valor gasto por ano com a sinistralidade rodoviária.
Porém, existe ainda um outro valor, que não se calcula, mas que importa sublinhar, e falamos do sentimento de insegurança, que as notícias sobre os acidentes graves com vítimas provocam na perceção coletiva da sociedade. Sendo certo que o caminho entretanto percorrido augura o alcance das metas que nos propusemos alcançar enquanto sociedade, no seu todo, não é menos verdade que os índices de sinistralidade são hoje um indicador para definir as sociedades como desenvolvidas ou não, ao mesmo tempo que revelam o grau de maturidade (aqui dito no sentido positivo) dos cidadãos, enquanto condutores, peões e formadores na área da cidadania.
A sinistralidade rodoviária é um fenómeno social em que importa, acima de tudo, que estejamos todos do mesmo lado, em que as preocupações vão além de se saber as localizações dos radares ou como fugir às operações STOP. Tudo começa em cada um de nós, sabermos em cada momento se praticamos uma condução consciente e cuidadosa, se prestamos toda a atenção quando atravessamos uma rua, se ajudamos os nossos idosos a sentirem-se seguros num ambiente rodoviário relativamente complexo, se as infraestruturas estão bem concebidas e se ajudam à sua compreensão, se a educação rodoviária tem o seu espaço próprio na educação para a cidadania e se está a ser cumprida, se a justiça se realiza em tempo oportuno sobre as vítimas e os arguidos.
É tempo de tentarmos perceber se queremos, definitivamente, alcançar índices de sinistralidade que nos definam como um Estado desenvolvido, com cidadãos informados, cumpridores e zelosos pelo Bem Jurídico – a Vida. Uma sociedade saudável, também passa por aqui.
Gabriel Mendes
Comandante da UNT da GNR