China o paraíso dos eléctricos do Ocidente?
Década e meia passada sobre a sua adesão à Organização Mundial do Comércio, a China terá realizado já não ser a melhor estratégia, pelo menos no que ao sector automóvel diz respeito, obrigar as empresas estrangeiras, que queiram operar directamente no seu mercado, a estabelecerem joint-ventures com marcas locais, como forma de estas acederam à mais recente tecnologia desenvolvida no Ocidente. É um facto que, sendo a China o maior mercado automóvel mundial, não há fabricante não o encare com especial atenção, e poucos foram os que não criaram as tais empresas em parceria com as locais – só que a almejada transferência de tecnologia não se terá concretizado da forma originalmente pretendida, e a maioria dos construtores de automóveis detidos pelo Estado chinês, quase todos envolvidos em joint-ventures com fabricantes estrangeiros, não lograram criar marcas rentáveis, continuando a respectiva sobrevivência a depender dos lucros gerados por essas parcerias, ao contrário do que acontece com algumas marcas locais privadas, que até já começam a expandir-se para outros mercados.
Também por isso, as autoridades chinesas, que há anos vinham aligeirando as regras de acesso ao seu mercado por parte de empresas estrangeiras do sector automóvel (marcas e fabricantes de componentes), decidiram revogar a lei que as impedia de deter mais de 50% nas suas joint-ventures destinada à produção de baterias. Ou seja, passou a ser possível a uma empresa não chinesa produzir, na China, automóveis eléctricos e baterias sem ter que partilhar a sua tecnologia com um parceiro local.
A medida, além de fomentar o investimento no país numa área com cada dia maior predominância no sector, poderá traduzir-se, ao mesmo tempo, num salto decisivo para o desenvolvimento da mobilidade eléctrica a nível global, tendo em conta a dimensão do mercado chinês, e os incentivos que o governo de Pequim tem vindo a implementar para fomentar as vendas de automóveis eléctricos no país. Sendo esta uma área em que, pelo seu potencial, o segredo continua a ser, em boa parte, a alma do negócio, e é natural que quem detenha soluções tecnológicas mais avançadas não as queira partilhar com terceiros.