Medalhas que luzem
Hoje apetecia-me falar-vos sobre o funcionamento da Justiça em Portugal, dos seus corredores, das suas preguiças, das iniciativas legislativas, de acórdãos e (poucas) sentenças, dos erros propositados de instrução, dos prazos, das prescrições, da lentidão, das diferenças negadoras do “Estado de Direito” – enfim, dos lesados que, no final do dia, somos todos nós, comuns cidadãos.
Os casos abertos ou a marinar atados a cordel no chão de marquises e despensas constituem uma lista capaz de em fonte pequena cobrir a distância entre a Terra e o seu satélite natural.
Casos muito graves, como aparentam ser os grandes dossiês de crédito da CGD de 2005 a 2013, a destruição de valor do BCP, o BES/GES/ex-PT, a Ongoing, os Vistos Gold, o Marquês, e muitos outros aparentemente menores, num rol imenso de processos que no mínimo exigem esclarecimento tão célere quanto transparente para acabar com a tradicional e doce impunidade dos responsáveis.
O sistema alimenta-se a si próprio e engorda avidamente. Matéria árida, eventualmente sem solução nas atuais circunstâncias de regime, que há 15 séculos atrás fez implodir o Império Romano Ocidental.
Prefiro, então, realçar os últimos feitos de excelência internacionalmente concretizados por portugueses por esse Mundo, motivo suficiente de orgulho para todos nós e para os mais cabisbaixos levantarem os queixos.
Para além das medalhas do Nelson Évora e da Patricia Mamona nos Europeus, e do cirurgião José Fragata e a equipa do Hospital de Santa Marta, com o seu implante de coração mecânico, Carlos Tavares, CEO do Grupo PSA, conseguiu já a sua medalha de bronze no plano europeu.
Ao tomar a iniciativa de pular em cima da GM, o feito deste engenheiro-gestor português é já um exemplo discípulo da mentalidade dos nossos Descobridores.
Carlos Tavares sabe que ao comprar a Opel à GM, aumenta de forma significativa a oportunidade da PSA a prazo. Aos cerca de três milhões de veículos vendidos pela PSA juntam-se agora mais de um milhão da Opel-Vauxhall.
Este incremento substancial de escala, colocando a PSA com 17% de quota de mercado na Europa, com potencial de presença em mais de 50 países por todo o mundo, potencia em muito os resultados da PSA, mesmo considerando ser a Opel deficitária há muitos anos.
A inteligência desta decisão – eventualmente aproveitando os ventos favoráveis das novas regras “Trumpistas” relativamente às fábricas americanas no estrangeiro – está, para mim,num simples aspeto: em vez de ambicionar atacar o segmento Premium, a PSA preferiu incrementar o seu volume nos mesmos segmentos onde está presente – A, B, C e D generalistas, enquanto segmentos automóveis, e nos C e D no que diz respeito aos consumidores, mantendo-se leal aos segmentos “mass market” em que a sua quota deverá ficar muito próximo dos 22% este ano.
Investindo no volume (numa indústria com elevados custos de desenvolvimento), e mantendo a aposta na reconhecida capacidade de R&D que caracteriza desde sempre a PSA e a Opel, esta decisão tem tanto de fora de tendência como de raciona. E a verdade, penso eu, é que este incremento refletir-se-á numa enorme oportunidade de ganhos de eficiência e, portanto, de competitividade, de tal ordem que a operação PSA poderá incrementar os seus resultados globais em mais de 50% nos próximos cinco anos.
Carlos Tavares tem investimentos de natureza pessoal em Portugal e ele sabe bem porquê. Portugal tem, atualmente, enormes competências humanas, técnicas, de infraestruturas e, sabe-se agora, de matérias primas (lítio), e esta nova fase da PSA poderá também representar uma oportunidade de investimento no nosso país.
Parabéns, Eng. Carlos Tavares! A sua medalha de ouro está para breve.
Mário Lopes