Ao volante do novo Mercedes Classe A. Em Portugal em Maio
Começar a descrição de um novo modelo pelo seu historial poderá não será o recurso mais original. Mas fará todo o sentido quando em causa está o automóvel com o qual a Mercedes logrou contrariar o adágio, provando que o que nasce torto, afinal, pode muito bem acabar por endireitar-se. E como!
Apresentado no Salão de Genebra de 1997, o Classe A original (W 168) protagonizaria, pouco depois, o inesquecível episódio em que, conduzido por um jornalista sueco, capotava ao realizar o, a partir então, mundialmente célebre “Teste do Alce”. Suspensas as suas vendas e produção, regressaria ao mercado, meses depois, com uma suspensão mais firme e o ESP incluído no seu equipamento de série, alterações introduzidas também nas unidades já entregues a clientes.
Já quando, em 2012, foi lançada a sua terceira geração, o Classe A deixou, definitivamente, para trás esse conturbado início de vida. De tal forma que, duas décadas e três gerações volvidas, conquistou já qualquer coisa como três milhões de clientes, sendo que, no seu conjunto, a gama desenvolvida com base no mesmo (Classe B, CLA, CLA Shooting Brake E GLA) contabiliza já mais de seis milhões de unidades vendidas, assegurando cerca de um quarto das vendas da marca da estrela.
Inicialmente adoptado por um cliente mais maduro, que pretendia um Mercedes de dimensões mais contidas e era apreciador da sua posição de condução mais elevada, o Classe A passou a ser uma proposta bem mais juvenil, com 60% dos seus clientes desde 2012 a provirem de outras marcas, pelo meio reduzindo-se a respectiva média de idades em dez anos, assegura, hoje, em conjunto com os seus derivativos (Classe B, CLA, CLA Shooting Brake e GLA). É, pois, um modelo absolutamente decisivo para o seu construtor, e mais ainda quando a própria Mercedes assegura ser a sua nova geração um automóvel que, sem nada perder em termos de desportividade nem prazer de condução, está mais maduro e confortável do que nunca, capaz de redefinir o conceito de luxo no segmento dos familiares compactos de prestígio.
Tanto assim é, que até pode servir como um vislumbre do que poderá ser a mudança do paradigma das motivações de compra no futuro. Mas já lá iremos. Para já, foco naqueles que continuam, embora não se sabendo por quanto tempo, a ser os factores a que os consumidores ainda vão dando mais importância num automóvel.
Comecemos pela estética. Com a aparência dinâmica, com um certo toque desportivo até, que marcou em definitivo o seu antecessor, o Classe A exibe agora um estilo mais puro, assim como dimensões e proporções aperfeiçoadas (cresceram, nomeadamente, a distância entre eixos e a projecção traseira), assumindo-se como o passo seguinte da filosofia de design Pureza Sensual da Mercedes, mas com uma superior funcionalidade.
Cada qual avaliará por si o resultado final, que esta é área sempre tão determinante quanto sensível e discutível. Mas refira-se que, logo num primeiro olhar, o novo Classe A é de imediato identificável como um Classe A, ganhando ainda maior apelo com os opcionais faróis por LED (ou Multibeam LeD) e a grelha com look diamante. Dignos de menção são ainda o facto de as medidas das jantes disponíveis terem aumentado uma polegada face à anterior geração (variam, agora, entre 16” e 19”), que o CX passou de 0,26 para 0,25 (é anunciado como o melhor da classe), e que o sistema Airpanel, constituído por uma cortina activa composta por dois painéis colocados na grelha frontal, é elemento que ajuda a optimizar a aerodinâmica e os consumos, embora também seja uma opção.
A dinâmica foi outro trunfo que muito contribuiu para o invejável sucesso do Classe A da anterior geração, O novo, como é obvio, não pretende ficar-lhe atrás, bem pelo contrário, antes apostando num desempenho de excelência, para o que conta com uma superior rigidez estrutural e suspensões mais evoluídas. A suspensão dianteira volta a adoptar uma solução do tipo MacPherson com triângulo inferior, mas com uma geometria optimizada e maior quantidade de componentes em alumínio, para reduzir o peso não suspenso. Já eixo traseiro é do tipo semi-rígido nas versões de acesso, ou multi-link, com quatro braços, nas variantes mais potentes e em todas as que disponham de tracção integral 4Matic – podendo, opcionalmente, contar com uma configuração rebaixada 15 mm e dotada de molas e amortecedores específicos, para um desempenho mais desportivo, ou mesmo dispor de amortecimento activo. O sistema Dynamic Select, que permite optar entre os modos de Condução Eco, Normal, Sport e Individual (personalizável pelo condutor), é de série em todas as versões.
A oferta de motores, na fase de lançamento, inclui três unidades com turbocompressor e injecção directa de combustível. Para já, só existe uma opção de transmissão: caixa pilotada de dupla embraiagem e sete velocidades 7G-DCT, uma evolução da conhecida da anterior geração, no caso da versão mais potentes, ou uma nova, fornecida pela Getrag, nas mais acessíveis).
Na base da gama está o A 200, animado pelo novo propulsor a gasolina de 1332 cc desenvolvido em conjunto com a Renault, em substituição do anterior 1.6. Com 163 cv, 250 Nm e filtro de partículas, conta com sistema de desactivação de cilindros, que, em carga parcial, entre as 1250-3800 rpm, está apto a desligar dois cilindros através da inibição do funcionamento das válvulas de admissão e escape do segundo e terceiro cilindros, com o intuito de reduzir consumos e emissões, anunciando 5,2 l/100 km no ciclo combinado. Numa fase posterior, também será proposto com caixa maual de seis relações e tracção total.
A opção Diesel toma forma no A 180 d, que, mais uma vez, monta o conhecido motor Renault de 1,5 litros, agora com 116 cv e 260 Nm, que a Mercedes afirma ter sujeito a profundas alterações, sendo exclusivos desta aplicação os apoios, o volante bimassa, o alternador, o compressor do ar condicionado, o software de gestão e o sistema start/stop.
O mais dotado da família é, por ora, o A 250, equipado com uma evolução do anterior quatro cilindros de 2,0 litros com distribuição variável Camtronic e integrando igualmente um filtro de particulas, apta a disponibilizar 224 cv e 350 Nm. Também será disponibilizado, mais tarde, com transmissão integral.
Fpi na Croácia que a Mercedes proporcionou à imprensa o primeiro contacto dinâmico com o novo Classe A, onde as atenções foram para as suas versões mais acessíveis, aquelas que, previsivelmente, dominarão as vendas em Portugal, em particular a 180 d. Os percursos não eram especialmente longos ou exigentes, mas chegaram para perceber que, em qualquer dos casos, o pisar é bem mais refinado, mais próximo do típico de modelos de segmentos superiores, como o Classe C.
O comportamento convence, em boa parte graças a uma frente eficaz, rápida na inserção em curva, estável na manutenção da trajectória, e com muita motricidade à saída, suportando bem as solicitações mais exigentes, e evitando a subviragem prematura. E, apesar do eixo de torção atrás, o conforto é de bom nível, tal como o isolamento do habitáculo.
O motor a gasóleo não tem como principal atributo o baixo ruído de funcionamento, o que também já não é novidade, mas é bastante comedido em termos de consumos e acaba por desenvencilhar-se de forma satisfatória na generalidade das situações. A nova unidade 1.3 a gasolina despacha-se, como seria de esperar, bastante melhor, ainda que, em carga e a alto regime, também não constitua, propriamente, uma ode ao silêncio.
Aqui chegados, é, então, altura de avaliar o interior. Extremamente acolhedor, é um facto, e mais ainda nas unidades presentes nesta apresentação aos jornalistas, dotadas de muitos dos mais apetecíveis elementos presentes na lista de opções, inclusive os mais refinados acabamentos e materiais de revestimentos – o que nem assim impediu que se identificassem alguns (poucos, reconheça-se) plásticos poucos convincentes para um automóvel premium, mesmo que destinado ao segmento dos compactos.
Tendo por base uma plataforma totalmente nova, o Classe A cresceu 120 mm em comprimento (4419 mm), 16 mm em largura (1796 mm), 6 mm em altura (1440 mm) e 30 mm entre eixos (2729 mm), o que se traduz num espaço habitável mais generoso. A mala oferece 370 litros com os cinco lugares montados (mais 29 litros que anteriormente), a volumetria da maior parte dos espaços destinados à arrumação de objetos também aumentou. Quanto à decoração, é marcada pelo tablier ininterrupto, pelas cinco saídas de ventilação em forma de turbina e, em opção, pela iluminação ambiente interior por LED capaz de variar entre 64 cores, e de oferecer alguns efeitos espectaculares.
Mas não é, de todo, por isto que para o fim ficou a avaliação do interior. Como todos os Mercedes totalmente novos dos últimos tempos, e os que aí virão, o novo Classe A estreia soluções que nem os mais exclusivos modelos da marca ainda oferecem. A mais espectacular, a integrar no futuro na restante gama da casa da estrela, o sistema de infoentretenimento MBUX (Mercedes-Benz User Experience) proposto em três patamares, que começar por distinguir-se através dos ecrãs que o compõem – o que serve de painel de instrumentos digital, e o instalado ao centro do tablier. Na versão Homescreen, ambos são de 7”; na Basescreen, o central é de 10,25”; na Fullscreen, um verdadeiro must have, contam os dois com 10,25”.
Além do ambiente futurista que confere ao habitáculo, tudo é fácil amplamente configurável, até o opcional e muito completo head up display, através do ecrã táctil central, do novo e soberbo touchpad instalado entre os bancos, ou dos botões sensíveis ao toque existentes no volante. Uma verdadeira delícia para os amantes das novas tecnologias.
São tantas as funções do MBUX, que é impossível aqui descrevê-las a todas, e muito menos em detalhe. Mas não é possível deixar de referir os comandos vocais, iniciados através da expressão “Olá, Mercedes”, que já permitem controlar inúmeras funções; assim como a inteligência artificial, que lhe confere a capacidade de auto-aprendizagem (evolui em permanência, mormente na capacidade de formular sugestões ao utilizador com base no que apreende serem as suas preferências e necessidades), ou a navegação com realidade aumentada, indicações em tempo real através de imagens vídeo projectadas sobre a cartografia tridimensional e funções baseadas na comunicação entre veículos.
A App Mercedes me é o elemento que assegura diversos serviços conectados, caso da inédita partilha do veículo. Disponível em Julho, basta ao proprietário do Classe A criar e partilhar uma chave digital com um grupo de utilizadores, e estes passam a poder aceder ao veículo através do seu smartphone, e a utilizá-lo nos períodos por este definidos. O truque está na segunda chave, que se mantém inactiva no interior do veículo até que o tal código seja activado por um dos utilizadores, voltando a ser inactivada quando deixada no seu interior e este dá por findo o período de utilização.
Este é, também, o primeiro Classe A com condução semi-autónoma, herdando do Classe S várias soluções neste particular. Entre muitos outros dispositivos, destaque para o cruise-control adaptativo com função stop&go nos engarrafamentos, assistência activa à direcção (mantém o veículo centrado na faixa de rodagem, e muda de faixa autonomamente, bastando, para tal accionar o “pisca”) e ajuste automático da velocidade aos limites da via, assim como na aproximação a curvas, cruzamentos, rotundas e afins. E, também, para a monitorização do ângulo morto, activa mesmo com o veiculo se imobiliza (durante três minutos após a paragem), alertando o condutor quando este pretende abrir a porta, e sair do veículo, quando se encontra um objecto em movimento nas imediações – algo que nem o Classe S ainda oferece.
As primeiras entregas do novo Classe A em Portugal estão previstas já para o início de Maio. E para que os seus clientes possam optar, pelo mesmo preço, por uma versão mais económica, ou por uma derivação mais dinâmica, a Mercedes propõe o A 180 d e o A 200 pelo mesmo preço de €32 450, orçando o A 250 em €47 100. Em qualquer deles, a linha Style é de série, pelo que o diferencial de preço é desprezível face ao anterior modelo, devido à inclusão das jantes de 16”, dos estofos em pele e tecido, da câmara traseira e da versão Homescreen do MBUX, com pré-instalação da navegação.
Estão, ainda, disponíveis, com todos os motores, vários packs de equipamento, para que os elementos que os compõem sejam propostos a um preço mais atractivo do que quando adquiridos individualmente. A Linha Style Plus inclui as jantes 17” e os faróis LED High Performance, custando €1050. A linha Progressive, compostas pelas jantes de 17”, pelos bancos em pele, pelos acabamentos a imitar carbono, pelo volante em pele, pelos faróis LED High Performance e pelo ar condicionado electrónico custa €1650 (€1450 no caso do A 250). A linha AMG exige o dispêndio de €2250.
No Pack Advantage, por €1150, incluem-se o sistema MBUX com navegação e ecrã central de 10,25”, os sensores de estacionamento e os espelhos rebatíveis electricamente. Por €2900, o Pack Premium acrescenta a este lote o segundo ecrã de 10,25″, o acesso sem chave, os bancos aquecidos, o sistema de som com dez altifalantes, a iluminação ambiente de 64 cores e as embaladeiras iluminadas. A tradicional Edition 1, disponível durante cerca de um ano após o lançamento, obriga a gastar €2650, incluindo vários elementos exteriores e interiores exclusivos em verde, linha AMG exterior, faróis LED High, bancos desportivos, luz ambiente de 64” e jantes de 19”.
Resta referir que o novo Classe A, e as suas três opções de motor, são só o primeiro período do novo capitulo da sua história. Até porque a família de compactos da marca vai passar a contar oito membros: o recém-mostrado hatchback, os já conhecidos Classe B, CLA, CLA Shooting Brake e GLA, os novos Classe A Limousine e GLB… e mais um que ainda está por ser revaldo. Quanto a novas versões, as de tracção integral 4Matic chegam em Outubro, para 2019 estando previstos o A35 AMG (a revelar ainda este ano), o A 200 d (animado pelo mesmo motor 2.0 turbodiesel de 150 cv do Classe E, combinado com caixa manual e automática), o A 45 AMG (a mostrar no Salão de Genebra, espera-se ofereça uma potência na casa dos 400 cv) e uma variante híbrida. A versão totalmente eléctrica, e dado que a nova plataforma foi desenvolvida a pensar nessa possibilidade, está praticamente garantido será uma realidade, embira o mais provável é que surja integrada na gama da EQ, a nova submarca da Mercedes para os eléctricos.