Mercedes-Benz CLA 200

Aviso: eis um automóvel que vale a pena conhecer melhor, até porque uma avaliação superficial tenderá para retirar conclusões precipitadamente erradas, caso caiamos na tentação (o que não é difícil…) de nos deixar levar por ideias pré-concebidas. Exemplos? Como há já algum tempo que a Mercedes deixou de fazer corresponder directamente as siglas identificativas dos seus modelos à capacidade dos motores nos mesmos instalados (por vezes vezes isso ainda acontece, noutros casos o marketing fala mais alto), a versão de acesso à oferta a gasolina do mais pequeno dos coupés de quatro portas da marca dá pelo nome de CLA 200, mas sob o capot está um motor de “apenas” 1,6 litros, e não um 2.0, como alguns poderão crer. Por outro lado, e uma vez que tem por base a plataforma do novo Classe A, por isso sendo um tracção dianteira, também haverá quem intua que tal facto condicionará o desempenho dinâmico do modelo, logo, o prazer de condução proporcionado – algo que também não corresponde à verdade.

Aliás, se há algo de que se não pode acusar o CLA é de falta de personalidade ou originalidade. Tanto assim é que, de momento, nem parece ter rivais directos no mercado. Os que mais se lhe aproximam ainda são o Audi A3 Limousine (um três volumes de quatro portas de formato, e postura, bem mais convencionais) e o BMW Série 2 Coupé, que só oferece duas portas (pelo menos até a marca bávara decidir criar uma variante Grand Coupé…).

E reconheça-se que, pelo menos visualmente, o CLA não se limita a ser um Classe A “tricorpo”, apesar de com este partilhar a generalidade das soluções técnicas. Se afinidades estilísticas tiverem que ser estabelecidas, mais justo será considerá-lo como um “mini-CLS”, exibindo formas muito equilibradas e correctamente proporcionadas, aerodinamicamente eficientes (Cx de apenas 0,25), que se traduzem numa aparência dinâmica e agressiva, desportiva até, e em que o elemento menos consensual será a secção traseira, de formato acentuadamente descendente.  No caso da unidade ensaiada, não é de somenos salientar que a mesma incluía o pack AMG Sport, pelo que este realça a sua beleza estética.

As concessões feitas ao design implicam que o espaço disponível nos lugares traseiros do CLA seja diminuto em altura e comprimento, e que o acesso aos mesmos não seja o mais fácil

Sentimentos mais contraditórios são provocados pelo habitáculo. Sendo as portas traseiras uma mais valia quando se trata de aceder aos lugares posteriores (mais vale tê-las do que as não ter…), note-se que há que fazê-lo com algum cuidado, para evitar bater com a cabeça no tejadilho de linha marcadamente descendente, mesmo por parte de quem seja de estatura média. Para mais, e também por culpa das concessões feitas ao design exterior, o espaço disponível atrás não é dos mais generosos, tanto para as pernas como, principalmente, em altura.

Em compensação, a qualidade geral é de nível superior e a decoração interior deliciosa, praticamente imaculada, sendo notável como a marca da estrela reinterpretou um clássico, tornando-o moderno: estamos, inequivocamente, a bordo de um Mercedes, mas de um Mercedes bastante mais jovial do que era habitual, em que convivem conceitos como sobriedade e classe sem que tal implique um ambiente demasiado soturno e insípido. Principal reparo: o ecrã do sistema de bordo, apesar do seu excelente grafismo, resolução, visibilidade e operacionalidade, não é táctil e, pior, a sua integração no tablier não é esteticamente a mais feliz, parecendo ter sido ali colocado de modo forçado…

O posto de condução também é merecedor de encómios. Frente a uma apelativa instrumentação de fundo branco, o condutor do CLA 200 facilmente encontrará a melhor posição ao volante, contando ainda com originais bancos desportivos (incluídos no pack AMG Sport) capazes de oferecer um bom encaixe e um apreciável apoio lateral. O único senão é que, devido aos encostos de cabeça integrados, estes não são a opção ideal para quem goste de adoptar uma postura mais descontraída, nomeadamente quando é necessário realizar viagens mais longas, acabando por tornar-se desconfortáveis.

O motor 1.6 de 156 cv tem notória apetência pelos regimes intermédios, beneficiando os consumos mas desiludindo os que esperavam aqui encontrar correspondência à agressividade das linhas exteriores

O motor de 1595 cc, sobrealimentado por turbocompressor, emana uma sonoridade agradável nos regimes mais elevados, exibindo ainda um funcionamento suave e progressivo, acabando por revelar nos regimes intermédios os seus melhores atributos (provam-no os consumos a velocidades moderadas e estabilizadas), no que é ajudado por uma caixa bem escalonada nas quatro primeiras relações (as duas últimas já são um pouco longas), suave e relativamente precisa, embora não muito adepta de um manuseamento mais rápido e impetuoso. Não será, assim, difícil de adivinhar que o CLA 200 acaba por desiludir face ao que a aparência exterior parece prometer oferecer, já que, quando se pretende adoptar um ritmo mais empenhado, este quatro cilindros não só não se revela muito entusiasmante, como a necessidade de o manter acima das 4000 rpm para usufruir de algum fulgor faz facilmente disparar os consumos para valores acima dos 13,0 l/100 km.

E é pena que  assim seja, porque o comportamento dinâmico acaba por revelar-se uma agradável surpresa. Extremamente envolvente, o CLA 200 pode não ter a agilidade do seu primo Classe A, mas compensa tal facto com uma motricidade de grande nível (aqui, o pack AMG Sport, mercê da suspensão desportiva, e das jantes de 18” revestidas por pneus largos e de baixo perfil, dá um contributo decisivo), que torna a descrição de qualquer curva num autêntico prazer. A direcção, superiormente assistida, é tão directa e precisa quanto comunicativa; os travões potentes e progressivos aumentam a confiança ao volante; a frente, devido à muita tracção, denota a sua tendência subviradora só mesmo nos limites; e o trem traseiro cumpre com brio a sua tarefa, controlando muito bem os movimentos laterais.

A lamentar, somente o facto de o ESP não desligar por completo (apenas é possível inibir o funcionamento do controlo de tracção) e o amortecimento algo seco imposto pela afinação desportiva da suspensão AMG, traduzido numa esperada diminuição do conforto em mau piso. E, já agora, o preço: se €36 550 já é um valor pouco simpático, os quase dez mil euros em extras que esta unidade incluía, e que muito contribuem para o seu apelo, acabam por também não ser muito motivantes.

Não obstante ser um tracção dianteira, o CLA 200 é muito competente e eficaz, extremamente agradável de conduzir, e a emoção só não é maior devido à impossibilidade de desligar o ESP