Mazda6 SW 2.2 Skyactiv-D 150 Excellence Pack Leather Cruise Navi AT

É inegável que o número 6 tende a ser benfazejo para a Mazda, e já na sua anterior geração o Mazda6 foi um modelo que conquistou com eficácia sucesso tanto a crítica como os consumidores. Seria, assim, de antever que a marca nipónica apostasse forte na nova geração do seu familiar médio; mas pouco seriam os, antes de o conhecer, capazes de prever a competência que a casa de Hiroshima iria colocar no desenvolvimento do seu novo familiar médio. Lançado em simultâneo na versão de quatro portas e carrinha, é esta última que aqui é analisada – animada pela única motorização para já proposta no mercado nacional (2.2 Diesel de 150 cv) e com a dotação de equipamento de série mais generosa.

O primeiro sinal de que estamos perante um automóvel que se destaca dos demais na sua classe é dado pela aparência exterior. A Mazda apelida de Kodo a linguagem de design actualmente em vigor nas suas fileiras (estreada no protótipo Takeri, exibido no Salão de Tóquio de 2011), termo japonês que significará algo como “a alma do movimento”, e que no caso em apreço se destina a identificar uma linha estilística que alegadamente se inspira nos movimentos dos animais selvagens. Cada qual decidirá se a analogia é vislumbrável, mas o que não merecerá contestação é que o novo Mazda6 é um automóvel que se distingue facilmente da maioria, exibindo formas marcantes e originais, mas capazes de se combinar de forma harmoniosa, do que resulta uma aparência distinta, com a dose necessária de dinamismo e um forte carácter, que em boa parte lhe é garantido pela secção dianteira bastante marcante e expressiva.

Este primeiro impacto visual não tem, infelizmente, correspondência plena no interior, e aqui reside um dos raros pontos fracos da nova carrinha da Mazda. Claro que é mais uma questão de gosto, mas, e sobretudo por comparação com as linhas da carroçaria, é pena a decoração demasiada sombria e austera, para além de que a ausência de um maior refinamento, e o recurso a alguns materiais menos nobres em certas zonas mais recônditas do habitáculo, também não contribuem para que a Mazda6 possa ombrear com as suas maiores rivais – especialmente as europeias – neste particular. O sistema de navegação Tom Tom Live também não exibe o grafismo mais sofisticado ou distinto do mercado, embora aqui a vantagem resida num preço de aquisição (quando é opcional) bastante inferior ao habitual em dispositivos semelhantes com montagem de fábrica.

Difícil de perceber continua a ser a insistência dos construtores orientais, em geral, e dos japoneses, em particular (regra a que a Mazda não fugiu com o novo 6), para espalhar botões por tudo quanto é sítio em redor do condutor, alguns em locais cujo acesso está longe de ser o mais fácil. Uma opção que em nada facilita a operação da muita tecnologia que a Mazda6 SW oferece ao seu utilizador, e que vai ao arrepio das mais recentes tendências vigentes noutras latitudes, em que a concentração destes comandos é a palavra de ordem, por forma a permitir ao condutor focar-se o mais possível na sua tarefa primordial.

Espaçoso, o interior peca, contudo, por um design e uma decoração pouco inspirados, em nítido contraste com o arrojo e a originalidade das linhas exteriores. A qualidade de alguns materiais e certos pormenores de ergonomia também mereciam ser revistosPelo contrário, na vertente prática, a Mazda6 SW pouco tem que se lhe aponte. Graças às generosas dimensões exteriores (a distância entre eixos, embora 80 mm inferior à da berlina, é uma das maiores do segmento, tal como o comprimento total), e à concepção moderna, o espaço disponível para passageiros é muito amplo, inclusivamente atrás, onde viajam com apreciável comodidade três pessoas, e com todo o desafogo apenas duas. Os espaços de arrumação também são merecedores de elogios, pela quantidade em que estão disponíveis, pela volumetria e formato que oferecem e pela sua correcta localização e posicionamento.

Sempre fundamental numa carrinha é a bagageira, e também aqui a Mazda6 SW convence. Desde logo pela respectiva capacidade: 522 litros, ampliáveis até um máximo de 1664 litros através do rebatimento do banco traseiro. Mas não só – também é de destacar o portão traseiro com formato optimizado e uma chapeleira que se movimenta solidariamente com este nos seus movimentos de abertura e fecho (detalhe mais comum de encontrar em modelos oriundos de marcas de prestígio); assim como o banco traseiro rebatível em duas partes assimétricas, dotado de um excelente mecanismo de libertação, bastando um só toque para o operar – uma engenhosa solução que permite, por exemplo, que qualquer pessoa o consiga rebater a partir do acesso à mala.

Dinamicamente, também não faltam trunfos à Mazda6 SW 2.2 Skyactiv-D 150, que conta não só com um sofisticado châssis, com evoluídas suspensões em ambos os eixos (McPherson na frente e multilink atrás), como com diversas soluções técnicas destinadas a incrementar ao máximo a sua eficiência energética. Aqui, referência para o sistema start/stop i-Stop (que o construtor nipónico anuncia como o que oferece o rearranque mais rápido da indústria automóvel, mas que se mostrou um pouco lento a desligar o motor após as paragens) e para o i-Eloop (um condensador armazena a electricidade gerada pela travagem para alimentar os sistemas eléctricos do veículo, sendo a sua carga total suficiente para alimentar todos os componentes eléctricos – o excedente é armazenado na bateria “normal” -, permitindo que raramente seja necessário recorrer ao alternador para recarregar a bateria).

Um dos principais trunfos do novo Mazda6, a unidade de 2,2 litros é do que melhor se faz actualmente em matéria de motores turbodiesel

Mas o grande destaque tem que ir para o novo motor de 2,2 litros, aquele, entre os Diesel, é o que trabalha com a taxa de compressão mais baixa do mundo – apenas 14,0:1 -, virtude que se traduz num menor esforço exigido aos respectivos componentes, permitindo que estes sejam mais leves (nomeadamente a cambota e o bloco em alumínio, com paredes dos cilindros mais finas). Do seu rol de argumentos fazem ainda parte a distribuição variável, os injectores piezoeléctricos multiperfurados, o veio de equilíbrio ou o turbo de geometria variável, sendo o rendimento anunciado de 150 cv/4500 rpm e de 380 Nm/2000 rpm.

Já capaz de cumprir a norma Euro 6 de protecção ambiental, esta unidade motriz convence desde o primeiro momento. Desde logo porque o seu funcionamento suave e silencioso, conjugado com um muito meritório isolamento acústico do habitáculo, o tornam praticamente imperceptível para os ocupantes – e, quando se faz ouvir, a sua sonoridade até é muito agradável, e mais ainda quando nos lembramos estarmos na presença de um Diesel.

Mas não só. A resposta é sempre viva e pronta, o que, conjugado com a faixa de utilização mais ampla da sua categoria, faz deste um propulsor sempre solícito e disponível para obedecer às solicitações do acelerador, não sendo raro ficar o condutor com sensação de ser o seu rendimento bastante superior ao anunciado. As prestações de muito bom nível confirmam isso mesmo, a estas se juntando consumos por demais convincentes, pelo que só a velocidade máxima ficará aquém das expectativas, em boa parte devido ao escalonamento longo das últimas relações de transmissão.

O supremo equilíbrio da carrinha da Mazda manifesta-se também no capítulo dinâmico, conjugando um grande conforto com uma elevada facilidade de utilização e uma eficácia que chega a tornar a condução bastante divertida

Melhor do que discorrer sobre as capacidades da Mazda6 SW 2.2 Skyactiv-D é delas usufruir. O lugar mais apetecido a bordo brinda o seu ocupante com um posto de condução correcto e fácil de definir, graças às múltiplas regulações do volante (com uma boa pega e dimensões correctíssimas) e do banco, com este último a oferecer ainda um razoável apoio lateral (se bem que, pessoalmente, não a enjeitasse se a posição ao volante fosse um pouco mais baixa). O motor desperta praticamente sem se dar por ele, confirmando logo à partida o excelente trabalho levado a cabo pelos engenheiros nipónicos.

De realçar que a versão ensaiada contava com caixa automática de seis relações, opção muito a ter em conta para quem gosta de usufruir de uma maior descontração ao volante, mas que acaba por condicionar de algum modo aqueles que gostam de adoptar, mesmo que ocasionalmente, uma toada mais empenhada, já que esta transmissão, apesar de suave, nem sempre é tão rápida e eficaz quanto o desejável a interpretar as necessidades da condução. E se é um facto que o recurso ao respectivo selector, para a comandar manualmente em sequência, praticamente permite contornar esta limitação, o facto é que seriam muito bem vindas as patilhas no volante para executar a mesma tarefa.

Ainda assim, isto não é, nem de longe, suficiente para ensombrar o meritório desempenho dinâmico desta carrinha. A par de tudo o que já foi referido, há ainda que contar com um centro de gravidade mais baixo do que na anterior geração, e a um châssis que recorre numa proporção substancialmente acrescida a aço de alta e ultra-alta resistência, o que se traduz num peso mais contido e numa rigidez acrescida em nada menos do que 45%. Na prática, e também por via da correcta afinação das suspensões, a Mazda6 SW é uma carrinha que oferece a quem a conduz uma preciosa combinaç\ao entre eficácia e conforto, oferecendo muito prazer ao volante em qualquer circunstância, seja numa utilização citadina, em viagem com a família ou naqueles dias em que dela apetece tirar tudo o que tem para dar. Sempre precisa e com reacções muito previsíveis, conta com uma frente muito obediente, com uma direcção com óptima sensibilidade (apesar da assistência eléctrica) e com um sistema de travagem que também convence e cumpre com o que dele se espera.

O posicionamento da Mazda6 em Portugal é outro ponto a seu favor. Se é um facto que os €49 900 pedidos pela versão ensaiada não parecem muito simpáticos, também é forçoso atentar que a mesma é a mais dotada da gama, incluindo todos os itens de equipamento previstos para o modelo, acabando por constituir uma alternativa deveras interessante a algumas propostas oriundas de marcas de prestígio, naturalmente desprovidas de tantos “mimos”. Sendo que, neste particular, também há opções para todos os gostos, já que a versão de entrada é proposta por €34 380 e, não obstante não incluir tantas mordomias, já oferece, de série, um recheio bastante apreciável.