Citroën C5 Cross Tourer 2.0 HDi 160 CVM6 Exclusive

A suspensão hidropneumática pode ser comandada a partir da bagageira, para facilitar as operações de carga e descarga

Além de vários patamares de altura, a suspensão dispõe ainda de dois modos de amortecimento: normal e Sport

O ESP só pode ser desligado abaixo dos 50 km/h, mas possui uma afinação específica, para poder melhor lidar com pisos que não o asfalto

O motor 2.0 HDi de 163 cv continua a oferecer boas prestações combinadas com consumos reduzidos

O portão traseiro de comando eléctrico é proposto de série na C5 Cross Tourer 2.0 HDi

Longe vão os tempos em que os estrategas e engenheiros da Volvo inauguraram o segmento das carrinhas “aventureiras” com a primeira geração da XC70. Como longe estariam eles de imaginar que o conceito então criado se viria a tornar uma moda para todo o sector, hoje quase “epidémica”. Claro que muito mudou desde os anos em que a carrinha sueca e a sua rival Audi A6 Allroad dominaram este subsegmento de mercado a seu bel-prazer. Cientes de que, tantas vezes, a aparência vale mais do que o conteúdo, quase todas as marcas se tornaram menos exigentes nesta matéria, ao ponto de, nos dias que correm, proliferarem as propostas com ar “TT” mas poucas ou nenhumas capacidades para enfrentar outros terrenos que não o asfalto. Aqui, não raro, é o look o que mais conta – também pela noção de “vida activa” que estes modelos conseguem transmitir dos seus proprietários.

Algures a meio caminho entre os dois extremos de um mesmo conceito situa-se a nova Citroën C5 Cross Tourer. Não dispõe de tracção total, nem sequer de pneus mais adaptados a outros pisos que não o alcatrão. Mas a suspensão hidropneumática Hidractive III+, mesmo não tendo sido originalmente criada com tal propósito, acaba por lhe conferir algumas aptidões “todo-o-terrenísticas”; do mesmo modo que o controlo electrónico de estabilidade lhe permite enfrentar com mais à vontade, por exemplo, estradões de terra. Isto se em questão estiver a versão aqui analisada, equipada com o motor 2.0 HDi de 163 cv – já que a variante 1.6 HDi dispõe de uma suspensão absolutamente convencional.

Não são muitos, nem exagerados, os elementos que distinguem a Citroën C5 Cross Tourer de uma versão convencional da sua gama. Discrição é a palavra de ordem

A chegada da Cross Tourer serviu, também, para revisitar um modelo que há algum tempo não conduzia. Visualmente, as diferenças para uma C5 Tourer limitam-se a pouco mais do que o emblema específico colocado no portão traseiro; às aplicações em alumínio nos pára-choques; às caixas dos retrovisores exteriores cromadas; e aos embelezadores das cavas das rodas. Ou seja, o primado da discrição, para não afastar os que pretendam ter neste o seu “carro de serviço” e queiram evitar as invejas alheias, num conjunto ainda suficientemente elegante e actual.

Já o interior despertou-me sentimentos mais contraditórios. Pela positiva, o amplo espaço habitável e a generosa bagageira, dotada de um portão traseiro de operação eléctrica e que oferece a funcionalidade adicional de contar com um comando autónomo da suspensão hidropneumática no seu painel interior direito, o que permite seleccionar a partir daí o modo mais baixo da mesma para facilitar as operações de carga e descarga. Pelo contrário, provando que o passar dos anos não perdoa, e que soluções outrora interessantes facilmente ficam datadas, a ergonomia é um dos factores que urge ser revisto numa futura actualização do modelo: não bastasse a profusão de botões um pouco por todo o tablier, por vezes agrupados de forma pouco óbvia, e com o “must” do comando dos quatro “piscas” estar já frente ao lugar do passageiro, também o volante de centro fixo possui tantos comandos que se torna praticamente caótico.

O interior, apesar de espaçoso, já não consegue disfarçar o peso dos anos, sobretudo em termos de ergonomia. Há botões um pouco por todo o lado, da consola central ao volante de centro fixo, com o comando dos quatro “piscas” a ser relegado para um local já frente ao lugar do passageiro…

Vale à C5 Cross Tourer 2.0 HDi um desempenho dinâmico do mais convincente. O motor 2.0 turbodiesel de 163 cv, mesmo não sendo tão suave e silencioso comno os mais recentes BlueHDI do Grupo PSA, continua a garantir prestações e consumos ao nível dos melhores representantes da sua classe. Tal facto, conjugado com o notável conforto oferecido pela suspensão Hidractive III+, torna as deslocações por demais agradáveis, sejam as viagens mais longas ou mesmo os percursos urbanos ou suburbanos. Pena, apenas a direcção demasiado leve e filtrada, que podia (e devia) ser mais informativa.

Em ritmos mais empenhados, o modo Sport do amortecimento garante um bom controlo dos movimentos da carroçaria sem prejudicar em excesso o conforto de marcha, satisfazendo, assim, as pretensões dos pais de família mais apressados. Para fugir ao asfalto, o controlo de estabilidade, desligável apenas abaixo dos 50 km/h, possui uma calibragem específica, de seu nome Snow Motion, que facilita a evolução por estradas de terra, sendo menos intrusivo do que aquilo que se esperaria.

O Controlo de estabilidade com calibragem específica Snow Motion, a par dos dois níveis de altura sobreelevada da suspensão pneumática, permitem incursões por pisos que não o asfalto, desde que não muito exigentes ou radicais

E se alguém houver que queira sujeitar a sua C5 Cross Tourer 2.0 HDI a provações mais exigentes, sempre pode fazer uso das duas posições sobreelevadas da suspensão: a primeira permite ganhar 40 mm na altura ao solo, desde que a velocidades abaixo dos 40 km/h; a segunda aumenta mesmo 60 mm a referida a altura, mas só podendo ser utilizada abaixo dos 10 km/h. No modo normal, a altura ao solo já é 15 mm superior à de uma C5 convencional até aos 70 km/h.

Por tudo isto, a Citroën pede €44 308, o que não deixa de ser um valor competitivo quando se atenta no generoso equipamento de série incluído no nível Exclusive (único disponível com esta motorização), ou quando comparado com a principal concorrência, que face à C5 Cross Tourer apenas pode acrescentar, de substantivo, uma imagem porventura não tão discreta. Ainda assim, o principal obstáculo ao êxito desta carrinha tenderá mesmo a ser a sua variante 1.6 HDi, não tão dotada em termos de equipamento, menos potente e desprovida de suspensão hidropneumática – mas mais barata cerca de €9000. E como o apoio comercial de €4000 (que pode ser acompanhado de um extra de €1500 quando da entrega de um veículo com dez ou mais anos, ou de €1000 se este tiver até 10 anos) é válido para ambas as versões, mais uma vez aqui, é de esperar que a forma se volte a impor ao conteúdo…