Mercedes-Benz CLS 350 BlueTEC Shooting Brake

A decoração em vários tons de castanho condiz na perfeição com a exótica cor da carroçaria

O volume da bagageira é uma das principais mais valias da carrinha face ao coupé

Os opcionais bancos com massagem também dispõem de memórias e de regulação eléctrica

O portão trseiro eléctrico é de série na derivação Shooting Brake do Mercedes CLS

As jantes de 19", com enormes pneus Pirelli PZero, incrementam o apelo estético mas, em mau ºiso, são um risco e condicionam o conforto

Confesso adepto do Mercedes CLS desde o seu nascimento, já lá vão dez anos, nos últimos dois a minha preferência passou a recair pela carrinha, que considerava visualmente mais apelativa e dinâmica do que o coupé. Já com a chegada do restyling da sua segunda geração, que agora inicia a respectiva comercialização, voltei a ter como variante de carroçaria predilecta o quatro portas, pelo superior distinção e elegância que considero é capaz de oferecer. Mas sem que isso signifique que a Shooting Brake deixou de ter argumentos, seja em que plano for, para conquistar uma legião de indefectíveis – bem pelo contrário!

A este nível, e para mais em modelos que estão longe de se impor pela racionalidade, é impossível não sucumbir à tentação de começar qualquer análise pela apreciação estética. Resumir a nova CLS Shooting Brake, neste particular, numa palavra, é fácil – lindíssima! Se em causa estiver uma unidade configurada como a presente nestas páginas, é só trocar o adjectivo – fabulosa!

De facto, não há quem consiga ficar indiferente à passagem de uma carrinha com este porte, com este arrojo estético, dotada de jantes de 19” e pintada numa cor que oscila entre o dourado e o acobreado, mas com aquele acabamento mate que lhe garante um adicional de distinção e exclusividade. Um efeito pouco discreto, é certo, mas fantástico, assim se esteja disposto a pagar os €2600 exigidos por esta pintura especial (uma pintura metalizada normal custa menos de metade).

Não é possível ficar indiferente ao apelo visual da nova Mercedes CLS Shooting Brake, para mais quando pintada nesta cor especial mate que lhe confere um toque extra de dinamismo

O habitáculo também começa por encantar pela sua soberba aparência. A requintada decoração de qualquer CLS da nova geração ganha aqui uma especial atracção devido aos revestimento em pele castanha em dois tons do interior, o que acrescenta cerca de €4000 à factura final (ainda que nesta verba também se inclua a iluminação interior Ambiente e o forro do tejadilho especial. Mas que a sensação de luxo é outra, lá isso é, tanto mais que a combinação com as aplicações em madeira de Álamo de tom claro e a própria cor da carroçaria é perfeita (mesmo que o resultado final seja um pouco “luminoso” demais para o meu gosto).

Mas tudo isto é algo de que também é possível usufruir no CLS coupé. O que ajuda a justificar os €4100 adicionais que a Shooting Brake custa face ao seu “irmão” de quatro portas (quando em causa está aversão 350 BlueTEC) são outros pormenores. Como a maior altura interior atrás (uma das condicionantes mais notórias da berlina), devido ao prolongamento do tejadilho e às forma como o mesmo é interiormente escavado para permitir albergar melhor passageiros mais altos no banco traseiro. Ou o facto de a lotação subir para cinco lugares. Não esquecendo o acesso mais fácil à bagageira (devido ao plano de carga mais baixo), o portão traseiro eléctrico ou a própria capacidade da mala, que passa de 475 litros para 590 litros com o banco posterior na sua posição normal, mas na carrinha pode crescer até uns ilustrativos 1550 litros quando se opa pelo respectivo rebatimento. Ou seja: estilo, sim, mas com a versatilidade que se espera de uma carrinha.

Graças ao prolongamento do tejadilho, e à configuração da respectiva secção traseira, o espaço disponível em altura atrás é mais generoso do que no quatro portas, para além de que o banco posterior tem lotação para três ocupantes

Do que não restam dúvidas é que, seja em que configuração de carroçaria for, e não sendo opção eleger um mais nobre motor a gasolina, o 3.0-V6 turbodiesel de 258 cv e 620 Nm faz muito mais jus à extrema qualidade e refinamento do CLS do que o quatro cilindros de 2,2 litros, 204 cv e 500 Nm da versão 250 BlueTEC. Não que tal seja de imediato perceptível através de uma simples avaliação numérica. É certo que €26 300 (a diferença de preço que separa as versões 250 BlueTEC e 350 BlueTEC) dificilmente se justificariam através de um ganho de 2 km/h na velocidade máxima, de cerca de 1,5 segundos nas acelerações, e de somente 0,5 segundos, em média, nas recuperações – até porque o consumo aumenta, em média, 1,0 l/100 km. Mas, ao ser muito mais suave, silencioso e refinado do que o tetracilíndrico, é o V6 que torna o ambiente a bordo praticamente imperturbável, tanto mais que, quando se faz ouvir, nas solicitações mais impetuosas, é através de uma sonoridade muito mais encorpada, grave e agradável do que o mais “áspero” 2.2.

Aliás, para além disto, também por ser ainda mais “redondo” e linear do que o motor Diesel de acesso à gama, o desempenho do 3,0 litros turbodiesel pode até (mas não deve…) ser confundido com um menor ímpeto, algo que os números (e, acima de tudo, a condução) desmentem de imediato. E o resultado final só não é mais meritório por via da caixa de velocidades 9G-Tronic de nove relações – inequivocamente mais eficaz que a anterior 7G-Tronic de sete velocidades, ainda assim ainda está uns furos aquém da referência do mercado (a ZF de oito velocidades utilizada por diversos concorrentes), não sendo excepcionalmente rápida e continuando a exibir algumas hesitações e reacções mais bruscas nas solicitações mais exigentes, inclusive quando comandada manualmente em sequência através das patilhas no volante – mais até do que quando combinada com o motor 2.2 de 204 cv, porventura por ter que lidar com um binário substancialmente superior. Vale-lhe o facto de as duas últimas relações, muito longas (a velocidade máxima é atingida em 7ª) garantirem uma elevada economia de utilização em viagem e, porventura mais importante, um quase total isolamento do mundo exterior, bem de acordo com todo o luxo oferecido pelo CLS.

Pela sua suavidade e silêncio de funcionamento, entre os Diesel, o motor 3.0-V6 é o que melhor “casa” com todo o luxo e requinte oferecidos pelo CLS

O comportamento, esse, está de acordo com o referido luxo: a não ser em piso realmente degradado, onde os pneus de baixo perfil não perdoam, o conforto de marcha é soberbo (a opcional suspensão pneumática Airmatic também ajuda nesta matéria, embora, aqui, não seja tão evidente como no CLS 250 BlueTEC coupé a diferença entre os seus modos Confort e Sport), a facilidade de condução uma constante, mas não exibe a mesma acutilância revelada no quatro portas, nem permite tirar tão bom partido da excelência dos Pirelli PZero de medida 255/35 na frente e 285/30 atrás. Menos reactiva às mudanças de direcção impostas pelo volante, a agilidade em curva ressente-se e nunca é tão elevada como no quatro portas, como o não é o envolvimento da condução ou o próprio divertimento de quem segue ao volante.

Mas também é certo que tal facto poderá não passar de mero pormenor para o cliente tipo da CLS 350 BlueTEC Shooting Brake, mais sensível a argumento como o requinte, o luxo, a segurança ou a facilidade de condução. E ao extremo prazer que é realizar viagens mais longas a bordo de um dos mais refinados automóveis da sua categoria. Se possível for dispender qualquer coisa como €32 000 em extras, como na unidade ensaiada, aí, a experiência tenderá a tornar-se memorável – uma análise atenta à nossa ficha técnica, onde os mesmos são descritos em detalhe, ajudará a explicar porquê. Sendo imperioso não abdicar dos fantásticos bancos dianteiros multi-contorno com apoios laterais activos e massagem. Bem sei que, no final, o preço se aproxima já perigosamente dos €120 000, mas a qualidade da experiência de condução também é de outra dimensão.

É, sobretudo, nas viagens mais longas que a Mercedes CLS 350 BlueTEC Shooting brake exibe os seus melhores atributos, praticamente isolando os seus ocupantes do mundo exterior