A náutica de recreio como um dos fatores para o desenvolvimento económico nacional
Antes de entrar no tema do artigo deste mês, não posso deixar de realçar a enorme importância deste novíssimo projeto editorial, de seu nome próprio Absolute Motors. A expressão “em boa hora” é ridiculamente pequena para realçar a importância que um projeto como este representa no panorama editorial atual.
O mundo da informação sobre motores, na sua generalidade e do mundo automóvel, das duas rodas e da náutica (sobretudo a motorizada), em particular, amplia-se e torna-se mais plural e interessante, profícuo e dinâmico. Ao António Pereira dou os meus parabéns e deixo o meu agradecimento por me ter convidado para escrever sobre um setor que poderá e deverá, em pouco tempo, ser uma das enormes mais valias para a economia nacional.
É exatamente por aí, pelo potencial que o setor náutico pode aportar à nossa economia, que começo este meu primeiro artigo de opinião. O turismo costeiro e marítimo há muito que deixou de ser somente o mercado de “Sol e Praia”, tendo passado a incluir outras vertentes intrinsecamente ligadas ao meio aquático em geral e à náutica em particular. O turismo de praia, que eu apelidaria aquático, tem a sua expressão máxima na procura do prazer que a água proporciona, seja à superfície, ou imersos nela.
É este turismo a que se chama náutico, onde se engloba o turismo de cruzeiros e a navegação de recreio, que é, cada vez mais, uma alavanca essencial da economia de muitas regiões costeiras e insulares da Europa. Este setor da economia emprega já perto de 3,2 milhões de pessoas e neste momento gera um total de 183 mil milhões de euros de valor acrescentado bruto para a economia da União Europeia. Este valor representa mais de um terço do produto bruto da economia marítima. Não incluindo os setores profissionais dos transportes e pescas.
“O turismo é uma atividade em crescimento” – esta afirmação tem sido recorrente na última década, mas em 2013 atingiu novos valores que em momentos de crise generalizada julgaríamos impossíveis. Para se ter uma ideia mais concreta, o número de dormidas em hotéis e em estabelecimentos similares ultrapassou os 2,5 milhões, 2,6 mil milhões para ser exato, isto só na Europa dos 28. Este valor corresponde a um aumento de 1,6 % em relação a 2012.
A exploração de todo o potencial dos mares e da orla costeira contribuirá sobremaneira para o desenvolvimento de riqueza, qualidade de vida e bem-estar das regiões costeiras e, consequentemente, para o desenvolvimento da economia nacional. Esse desenvolvimento, desde que estudado, sistematizado e aplicado sem falhas, irá contribuir ao mesmo tempo para o desenvolvimento sustentável e a longo prazo de todas as atividades relacionadas com o turismo.
As minhas expectativas para estas estratégias agora aprovadas pela EU são muito moderadas, sobretudo no que diz respeito à sua futura implementação no nosso país, pois a náutica neste retângulo, sempre foi vista como “coisa de ricos” e nunca como um fator de criação de postos de trabalho e desenvolvimento económico. É pena, pois todos os estudos nacionais e internacionais sobre a náutica de recreio indicam que por cada lugar de marina ocupado, são criados entre 3 a 5 postos de trabalho diretos.
Temos definitivamente de olhar para a náutica com espírito empresarial global nacional, mas temos também (e esta parte é a mais complicada) de ajudar a mudar mentalidades e apagar preconceitos sobre um setor que é um gigante adormecido para a economia nacional. Quando menciono este problema, não me refiro, de todo, aos agentes económicos do setor, pois se tem havido enormes evoluções na náutica é a eles e só a eles que se deve essa evolução. Refiro-me sim à falta de pensamento organizado, estratégia e visão nacional por parte do Estado para o setor.
Salva-se a dinâmica e o empreendedorismo dos agentes económicos do setor e ainda as ações de grupos organizados da sociedade civil que geram pensamento e ação para este tão desejado e necessário desenvolvimento. Não poderia deixar de mencionar o excelente trabalho publicado pelo Grupo de Trabalho da Náutica de Recreio, do Fórum Permanente para os Assuntos do Mar que publicaram em 2013 um excelente ensaio intitulado “Náutica de recreio em Portugal – Um pilar do desenvolvimento local e da economia do Mar. Propostas de atuação e planos de ação”. Neste livro estão expressas todas as necessidades e benefícios para uma Náutica de Recreio saudável e geradora de riqueza. É só implementar!
Boas marés, boas navegações, boas iniciativas.
Saudações náuticas,
Vasco Macide
Editor Náutico da Absolute Motors