E o Verão está a chegar…
Os últimos dias têm estado mais quentes. Já cheira a Verão, como diz o nosso povo, que tanto dele precisa para o seu equilíbrio. Somos assim, os povos do Mediterrâneo, precisamos de Sol e de calor. Sentirmos as estações do ano está no nosso ADN.
Sem qualquer desprimor para com todos aqueles que nasceram em zonas urbanas, talvez que a minha origem Beirã esteja a dominar o meu pensamento e a motivar a reflexão que aqui deixo. Talvez que os cheiros provenientes do mato e das florestas, nas diversas alturas do ano, estejam mais vivos na minha memória. Talvez que as minhas brincadeiras de criança, na liberdade dos campos, tentando identificar as aves, descobrindo cogumelos (míscaros) ou apenas contemplando a graciosidade dos coelhos que assustados corriam a esconder-se nas suas tocas, umas vezes armado em temerário explorador solitário, outras na valentia da companhia dos fieis amigos, tenham de repente levado a esta lembrança e, a esta tristeza: vão começar os Incêndios.
Talvez que por aquilo que descrevi, em cada incêndio arda um bocadinho de mim. Mas é uma inevitabilidade que todos os anos a situação se agrave? Há alguma coisa que possamos fazer? Tenho a certeza que sim, há sempre alguma coisa que possamos fazer, tanto mais que em Portugal, tal como sucede na Bacia mediterrânica, cerca de 98% dos incêndios florestais têm a sua origem no Homem, sendo apenas 2% provocadas por causas naturais, normalmente as trovoadas secas de verão.
Aliás, basta constatar que estando as causas de ignição dos incêndios florestais normalmente agregadas em 4 categorias: Naturais, Negligentes, Intencionais e Desconhecidas, só as primeiras não são imputáveis ao Homem, resultando as últimas da sua incapacidade de as detectar. Claro que o fogo é um elemento indissociável dos ecossistemas de Portugal, mas a sua elevada extensão e as proporções que atingem não são uma inevitabilidade.
Se tivermos em consideração que para ocorrer um incêndio são necessários, simultaneamente, combustível, fonte de ignição e condições meteorológicas propícias, e destes três factores, apenas a meteorologia foge ao nosso controle, muito podemos fazer quanto aos dois restantes. Estou convicto que de primordial importância, será a percepção e o reconhecimento da importância das florestas, em todas as suas vertentes: social, económica e ambiental.
As florestas são fonte de bens como madeiras, combustíveis, alimentos e matérias-primas (ex. resina, celulose, cortiça, frutos, bagas). As florestas contribuem para uma melhor qualidade do ar, da água, do solo e de todos os seres vivos. As árvores libertam oxigénio e contribuem para a diminuição de GEE (gases efeito de estufa), prestando um importante contributo para a fixação de CO2. O vapor de água libertado pelas plantas para a atmosfera ajuda a regular o clima. A floresta também ajuda a proteger o solo, prendendo-o e prevenindo assim a erosão e melhorando a sua capacidade de retenção das águas.
É na flora das florestas, nas suas árvores e nos seus elementos, que assenta a biodiversidade. É pois fundamental a sua preservação e para isso é imprescindível que cada um de nós, enquanto cidadão, cuide dela e reconheça a sua importância para a própria vida humana, para a vida na Terra, ou seja, para a própria Terra. Podemos e devemos mudar o nosso comportamento cívico, através de gestos tão simples como: não colher ou estragar plantas numa floresta ou em qualquer espaço verde, não atirar fósforos nem pontas de cigarro pelas janelas dos veículos, não fumar, nem fazer fogueiras na floresta, tomar todas precauções quando efectuar uma queimada, pedindo a devida autorização prévia às autoridades competentes.
Contudo, acabo como comecei, correndo o risco de ser considerado romântico e ingénuo. A mudança dos nossos comportamentos e atitudes só será possível pela interiorização da importância da Floresta e até da sua beleza e da diversidade que ela permite e que eu trago no meu subconsciente. Deverá ser tarefa de todos, explicar e levar os jovens a conhecerem e a apreciar a floresta, tal como aconteceu comigo e sem disso dar conta, nos meus tempos de rapaz.
Aníbal Vicente
Gerente da Sogilub