A diabolização do Diesel
Temos assistido nos últimos tempos a uma campanha estranha contra a utilização dos veículos com motores de combustão interna, agitando, como é timbre nestas situações, argumentos de índole ambiental. Como sempre, extremam-se posições sem nos determos na análise da realidade, das consequências das afirmações que se fazem e, até, sem muitas vezes perceber os interesses que podem estar por trás de argumentos, que soam bem aos ouvidos das populações, quando reproduzidos de forma tendenciosa e incompleta.
Talvez valha a pena perceber o porquê de na Europa, ao contrário de outras regiões do globo, se ter assistido a uma inversão completa no rácio entre veículos ligeiros equipados com motores de explosão, usando gasolina, e veículos de combustão interna, usando gasóleo. Na realidade, há algumas décadas, aqueles prevaleciam sobre estes, que eram essencialmente usados em veículos comerciais pesados e ligeiros.
Com o intuito de proteger os legítimos interesses da atividade profissional, o imposto sobre produtos energéticos (ISP), numa significativa maioria dos países da Europa Continental, era e é inferior no gasóleo quando comparado com o da gasolina. Esta opção de política fiscal, que até pode ser compreendida pela razão atrás exposta, potenciou a opção pela proliferação dos veículos a gasóleo mesmo para utilização particular. Hoje em dia a maioria dos carros ligeiros vendidos neste espaço geográfico são a gasóleo, já que o preço deste combustível é inferior.
Obviamente que a indústria automóvel europeia, optou por centralizar os seus esforços de aperfeiçoamento nesta tecnologia, proporcionando aos utilizadores veículos com menores custos no consumo, mesmo que o investimento inicial pudesse ser mais elevado. Vemos assim como medidas fiscais, de incentivo ou punitivas, podem orientar as escolhas dos atores de um determinado mercado, sem que obrigatoriamente a opção seja a mais racional do ponto de vista tecnológico e até económico. Com efeito, a evolução referida criou um desfasamento completo entre a oferta de combustíveis rodoviários pelo aparelho refinador europeu e a procura, levando a importações crescentes de gasóleo e a excedentes de gasolina, com a consequente perda de valor para a economia europeia.
Contudo, a evolução tecnológica daqueles motores e dos combustíveis e lubrificantes utilizados, levou a reduções significativas do consumo, com a consequente redução de emissões, complementadas com a introdução dos catalisadores e dos filtros de partículas, que reduziram drasticamente outros efeitos nocivos para o ambiente. A título de exemplo, podemos referir que os limites de emissões de NOx foram reduzidos em 84% e as partículas em 90%! Isto significa que, sem prejuízo da melhoria também significativa que começa a verificar-se nos motores de explosão (a gasolina), a opção Diesel tem contribuído de forma decisiva para a redução de emissões e o cumprimento das apertadas normas europeias, de que o Euro 6 é o exemplo mais recente. Todos os carros vendidos a partir do próximo mês de Setembro já cumprirão esta norma.
O incentivo deverá, pois, ser no sentido da renovação das frotas, substituindo os veículos mais antigos, o que corresponderá a uma melhoria significativa, quer em termos de redução de emissões, quer em termos de qualidade do ar. Esta via será muito mais custo-eficiente do que as tentativas de cortar etapas na evolução tecnológica, investir pesadamente em infraestruturas de abastecimento e prescindir de receitas fiscais vitais para o equilíbrio orçamental dos Estados. Pede-se, apenas, realismo, bom senso e equilíbrio nas decisões e nas campanhas de informação (?) lançadas sobre o tema da mobilidade individual.