A Rolex e o Daytona: novo capítulo de um mito
O relógio mais associado ao universo do desporto motorizado – e baptizado em honra de um dos mais famosos autódromos do planeta, sendo o preferido de tantos pilotos de eleição – foi finalmente atualizado! Há já vários anos que se esperava que a Rolex apresentasse um facelift, ou mesmo uma versão completamente nova, do seu Oyster Perpetual Cosmograph Daytona em aço, cuja versão vigente havia sido lançada em 2000. Primeiro, pensou-se que a renovação coincidisse com o 50º aniversário do lendário cronógrafo, mas, por essa ocasião, em 2013, a marca da coroa apresentou “apenas” uma edição em platina; este ano, com a adesão da Rolex às redes sociais (já estava no Facebook há algum tempo; arrancou com o Instagram no final de 2015), foi possível antecipar que haveria novidades em breve, devido a vários teasers publicados e também à frequente recordação da história do Daytona, . E, em Março, no maior certame mundial de relojoaria (Baselworld), os indícios confirmaram-se.
Um novo modelo Daytona em aço foi desvelado nas tradicionais duas variantes de mostrador branco ou preto – mantendo praticamente a mesma arquitetura da caixa e o mesmo tamanho, mas com um look substancialmente diferente, devido à integração de uma espetacular luneta negra em Cerachrom com graduação fina de extraordinária precisão, graças a um revestimento em platina através do procedimento PVD, que torna extremamente legível a sua graduação (a escala taquimétrica que permite medir velocidades médias até 400 milhas ou quilómetros por hora).
Essa luneta em cerâmica monobloco do novo Daytona é extremamente durável e resistente, tanto aos raios UV como à corrosão. A opção pelo negro oferece uma aura estética completamente diferente ao visual que o Daytona tradicional em aço vinha apresentando nas últimas duas décadas. Os diversos retoques no grafismo do mostrador incluem, na versão de mostrador branco lacado, anéis pretos nos submostradores que dão ao conjunto um toque mais vintage, mais reminiscente do Daytona original de 1963 (ref. 6239), do emblemático modelo de 1965 com caixa Oyster e botões de rosca (ref. 624) e ainda de uma famosa versão posterior (ref. 6263); o mostrador preto apresenta anéis acizentados. Todas as aplicações (os índices para as horas) são em ouro com a inclusão de matéria luminescente Chromalight.
A mecânica assenta no mesmo mecanismo relojoeiro de suprema qualidade devidamente certificado pelo Controlo Oficial Suíço de Cronometria: trata-se do calibre automático Cosmograph 4130, um movimento cronográfico de roda de colunas e embraiagem vertical com 72 horas de reserva de marcha, frequência de 28 800 alternâncias por hora, balanço Glucydur com regulação Microstar, espiral Breguet e sistema amortecedor Kif; a novidade é que a garantia foi esticada dos dois até aos cinco anos, como sucede em todos os relógios Rolex a partir de 2016.
É certo que o tamanho da caixa (em aço 904L) mantém o diâmetro de 40mm que até puxa um pouco para os 39mm, quando muitos esperariam uma versão um pouco maior – à semelhança do que sucedeu com o Explorer (o Explorer I passou de 36 para 39mm em 2010; pouco depois o Explorer II foi de 40 para 42mm) e também porque a média do diâmetro dos relógios aumentou claramente desde o lançamento da vigente caixa Daytona, na década de 1990. Mas a Rolex sempre evitou mexer no tamanho do seu lendário cronógrafo, até mesmo no auge da moda sobredimensionada (a meio da década passada) – e é inquestionável que a nova versão do Daytona, apesar do mesmo diâmetro, fica bem melhor com o seu tamanho devido ao visual ligeiramente retro. Por vezes, pequenos detalhes fazem mesmo uma grande diferença.
O carisma da Rolex e o facto de se ter tornado num ícone da relojoaria advém precisamente da sua resistência em embarcar nas modas e tendências correntes, a par da sua incondicional busca pela excelência e também da sua posição enganadoramente conservadora – o suposto conservadorismo esconde uma dinâmica busca pela perfeição e o melhor exemplo de evolução (em vez de revolução) é a nova versão do mítico cronógrafo da marca. Se a versão anterior já era um “status symbol” que chegou a ter listas de espera de sete anos no auge da sua fama, o novo Oyster Perpetual Cosmograph Daytona, que começa agora a chegar a conta-gotas ao mercado, já recuperou esse epíteto de relógio em aço de produção regular mais desejado do mundo. Um conselho: corram já a reservar o vosso, porque o que irão pagar por ele (cerca de 13.000 euros, actualmente) quando chegar a vossa vez vão valorizar rapidamente…
A extensa praia de areias duras em Daytona, da Florida, sempre proporcionou uma pista ideal para corridas contra o tempo. Foi lá que Sir Malcolm Campbell alcançou, de 1930 a 1935, e com um Rolex Oyster no pulso, múltiplos recordes de velocidade a bordo de várias versões do seu Bluebird equipadas com motores de avião. As corridas fizeram com que Daytona se transformasse não só no centro nevrálgico do desporto motorizado americano, mas também se tornasse lendária em todo o mundo, passando posteriormente para um circuito inaugurado em 1959 sob o nome Daytona International Speedway. Pouco depois, a Rolex associava-se às 24 Horas de Daytona e essa ligação daria origem em 1963 ao mais famoso de todos os cronógrafos: o Oyster Perpetual Cosmograph Daytona, mítico relógio que tantos pilotos famosos envergaram e que se mantém como um relógio de eleição para muitos desportistas de elite.
Miguel Seabra
Espiral do Tempo