Alpine A110 Lègende
Alpine
A110
Lègende
2018
Desportivos
2
Traseira
1.8
252/6000
250
4,5
6,4 (Combinado WLTP)
160 (Combinado WLTP)
68 400/69 792 (Unidade testada)
Comportamento excepcional, Motor e prestações, Caixa rápida, Direcção soberba, Estética exterior e interior, Consumos razoáveis
Visibilidade traseira, Grafismo do sistema de infoentretnimento, Pormenores interiores
Velocidade máxima anunciada (km/h) | 250 |
Acelerações (s) | |
0-100 km/h | 4,7 |
0-400 m | 12,8 |
0-1000 m | 23,3 |
Recuperações 60-100 km/h (s) | |
Em D | 2,7 |
Recuperações 80-120 km/h (s) | |
Em D | 2,9 |
Distância de travagem (m) | |
100-0 km/h | 36,3 |
Consumos (l/100 km) | |
Estrada (80-100 km/h) | 5,6 |
Auto-estrada (120-140 km/h) | 6,8 |
Cidade | 7,9 |
Média ponderada (*) | 7,42 |
Autonomia média ponderada (km) | 606 |
(60% cidade+20% estrada+20% AE) | |
Medidas interiores (mm) | |
Largura à frente | 1340 |
Largura atrás | – |
Comprimento à frente | 1130 |
Comprimento atrás | – |
Altura à frente | 990 |
Altura atrás | – |
O Alpine A110 Lègende pode ser considerado como a mais dotada das versões de acesso do modelo que assinala o renascimento da marca de Dieppe. Pelo menos entre aquelas que, hoje, é possível adquirir – isto porque o A110 Première Edition, como o seu nome indicia, foi produzido em série limitada quando do lançamento do novel desportivo francês, e rapidamente esgotou!; e porque a recém-lançada variante A110 S já monta um motor mais potente, assim podendo ser considerada como a de topo… neste momento.
Mas nada disto, nem o facto de contar já com mais de um ano no mercado, retira qualquer interesse ao coupé de dois lugares, motor central e tracção traseira que assume o legado histórico do mítico A110 criado, em 1961, por Giovanni Michelotti e vencedor, entre muitas outras provas, das edições de 1971 e 1973 do Rali Portugal. Opinião semelhante parece ter a maioria daqueles que com ele se cruzam na via pública: seja pela sua deliciosa aparência exterior, seja pelo facto em ainda existirem muito poucas unidades em circulação, este é um automóvel que, por onde quer que passe, de imediato se torna, e a quem o ocupa, no centro de todas as atenções.
Notável, a forma como os designers da marca conseguiram combinar modernidade e eficiência aerodinâmica (tão apurada, que foi, até, possível dispensar a asa traseira, elemento que não só aumentaria o peso do conjunto, como desfiguraria o perfil do veículo) com a referida herança do primeiro A110. Algo que é particularmente evidente na secção dianteira, dominada pelos dois pares de ópticas redondas, a que se juntam a nervura central no capot, os farolins traseiros dispostos horizontalmente, a dupla “bossa” no tejadilho, o fundo plano ou o extractor traseiro. Inequívoco parece ser que o novo A110 convence quase todos os que com ele se deparam, despertando curiosidade, e causando, as mais das vezes, surpresa e admiração.
Não menos convincente é o estilo interior. Mesmo que o tom de castanho da pele que reveste bancos, volante e secção superior do tablier, destinado a garantir ao habitáculo um ambiente mais sofisticado e distinto, possa não ser da preferência de todos, os verdadeiros apreciadores deste género de veículo tenderão mais a atentar na atmosfera verdadeiramente desportiva que se vive a bordo. Garantida, entre outros, por elementos como o botão de arranque colocado na consola central, entre as excelentes baquets Sabelt (no caso, as opcionais dotadas de regulações eléctricas e aquecimento); as enormes patilhas de comando da caixa colocadas atrás de um volante com uma pega e dimensões perfeitas; o logótipo Sabelt aplicado nos cintos de segurança; ou as cores da bandeira francesa visíveis nas portas e no indicador de mudança engrenada existente no painel de instrumentos.
Dependurada entre os bancos está uma estilizada bolsa que serve como “porta-luvas”, ou, para os mais preciosistas, como porta-objectos. Sendo este o ponto em que convém referir as duas “micro-bagageiras” existentes em ambos os extremos da carroçaria, a dianteira com 96 litros, a traseira com 100 litros, nas quais cabe sempre menos do que se gostaria, mas, onde, com algum engenho e arte, também se consegue fazer com que caiba sempre um pouco mais do que aquilo que, a priori, se esperaria.
Claro que também é possível identificar detalhes que provam que o objectivo da Alpine, com o novo A110, foi criar uma máquina infernal a um preço minimamente acessível, como sempre foi apanágio do seu fundador, Jean Rédélé. Será isso o que justifica o recurso a alguns plásticos menos nobres; a um sistema de infoentretenimento com tudo o que é essencial, mas algo básico em termos de grafismo e interactividade; ou a um sistema de acesso e arranque sem chave menos evoluído do que utilizado em determinadas versões do Clio ou do Zoe – modelos dos quais também provêm alguns comandos… Mas o facto é que esses são pecadilhos que estão longe de ensombrar de forma definitiva o ambiente que se vive a bordo, e menos ainda colocam em causa os atributos do modelo naquelas que são as áreas em que brilha ao mais alto nível.
Superada uma certa dose de “contorcionismo” exigida para aceder ao habitáculo, em especial aos condutores de mais elevada estatura, a quem o reduzido espaço disponível em altura também poderá criar algumas dificuldades de acomodação, (muito) poucos serão os capazes de criticar a soberba posição de condução – extremamente baixa, com banco, volante e pedaleira perfeitamente alinhados, e com todos os elementos essenciais à tarefa da condução ao perfeito alcance da mão, ou no raio de visão ideal. É inegável que a visibilidade para trás é mínima, mas isso também dificilmente preocupará a maioria, já que poucos serão os utilizadores da estrada capazes de se manterem nos retrovisores do A110 durante muito tempo…
Pressionado o botão de arranque, ganha vida o quatro cilindros turbocomprimido montado em posição central traseira, logo atrás dos bancos. Trata-se da unidade de 1798 cc já conhecida do novo Renault Mégane R.S., capaz de fazer 7000 rpm, mas, aqui, numa derivação com “apenas” 252 cv e 320 Nm, o que não deixa de garantir ao A110 Lègende excelentes prestações, já que o peso do conjunto é de uns contidos 1123 kg, graças ao châssis e à carroçaria compostos, em 96%, por alumínio. Neste particular, bastará referir que, em condições reais de utilização, o modelo confirma os valores anunciados pelo seu construtor: 4,5 segundos nos 0-100 km/h, 12,7 segundos nos 0-400 m e 23,2 segundos no quilómetro de arranque.
Ainda antes de passar ao “ataque”, referência para os consumos, supreendentemente razoáveis a velocidades legais e minimamente estabilizadas, em estrada como em auto-estrada, voltando a provar o quanto estes modernos e relativamente pequenos motores conseguem ser, ao mesmo tempo, poderosos e bastante poupados, desde que utilizados com esse objectivo. Mesmo em cidade, uma média liminarmente aquém dos 8,0 l/100 km ter-se-á que considerar um bom registo para um automóvel com mais de 250 cv.
Já numa toada mais intensa, o melhor será contar com valores na casa dos 11,0 l/100 km, que sobem para perto dos 14,0 l/100 km a ritmos verdadeiramente acelerados, e para próximo dos 20,0 l/100 km quando se pretende tirar, em permanência, do A110 tudo aquilo que ele tem para oferecer. Ainda assim, nada que espante, tendo em conta as características e o potencial do modelo, sendo o principal senão a reduzida capacidade do depósito de combustível (não mais do que 45 litros), que se traduz em recorrentes paragens para reabastecimento, tanto mais frequentes quanto mais intenso for o ritmo adoptado. Outra prova de que o A110 não foi feito, propriamente, para viajar.
Por outro lado, e mesmo não sendo essa a principal vocação do A110 Lègende, é igualmente merecedor de referência, o facto de o motor e de a caixa pilotada Getrag de dupla embraiagem e sete velocidades, com função launch control e trocas de mudança bastante suaves, adaptarem-se perfeitamente a uma utilização quotidiana, graças a uma resposta mais do que suficiente para as exigências do dia-a-dia, sem brusquidão nem incómodos de maior. É, também, nestas circunstâncias que melhor partido se tirará da elevada qualidade do sistema de som Focal oferecido de série, por serem os únicos momentos em que não se preferirá ouvir a sonoridade do motor.
Mas como é pouco provável que alguém pretenda um A110 Lègende para uso diário, pelo menos do tipo “convencional”, melhor, mesmo, será conhecer os seus predicados quando utilizado para aquilo que foi criado. Ao seu dispor, o utilizador tem os modos de condução Normal, Sport e Track, elegíveis através do botão vermelho existente para o efeito no volante, bastando um toque no mesmo para alternar entre os dois primeiros, exigindo a selecção do último, e mais radical, uma pressão mais demorada.
A cada um deles corresponde uma configuração própria do painel de instrumentos, assim como uma resposta progressivamente mais assertiva da direcção, do motor e da caixa de velocidades. Adicionalmente, no modo Track, não só deixa de haver trocas automáticas de mudanças quando se vence a mola do kickdown ou atinge a red line (as passagens de caixa são sempre decididas pelo condutor), como o controlo electrónico de estabilidade de torna mais permissivo – embora, em qualquer dos três modos de condução, seja possível desligar por completo o ESP através do respectivo interruptor.
A primeira sensação transmitida pelo A110 Lègende é a do imediatismo da resposta a toda e qualquer solicitação do condutor. Veja-se o motor: bem coadjuvado pela rapidíssima caixa de velocidades, embora disponibilize o seu binário máximo de forma constante entre as 2000-5000 rpm, o que permite rolar com à vontade numa utilização mais descontraída, é quando mantido entre as 4500 rpm e as 7000 rpm (a que atinge o seu regime máximo de funcionamento) que oferece o melhor de si, garantindo uma resposta brutal, acompanhada de uma sonoridade ainda mais intensa, que invade por completo o habitáculo, logo ali atrás da cabeça dos ocupantes. Factor de gozo adicional, o “gorgolejar” do escape quando se levanta o pé do acelerador!
Convencido pela forma como o veículo é catapultado para a frente, e as suas costas são esmagadas contra os bancos, sempre que o acelerador é pressionado com decisão, o condutor do A110 Lègende irá, depois, deliciar-se com a terrível eficácia em curva. Sendo aqui decisivos factores como o baixo peso (repartido numa proporção de 44% para a frente e 56% para trás), a elevada rigidez estrutural, as evoluídas e bem afinadas suspensões por triângulos sobrepostos em ambos os eixos, os óptimos pneus Michelin Pilot Sport 4, ou o potente sistema de travagem – com enormes discos ventilados de 296 mm de diâmetro nas quatro rodas, actuados por pinças de quatro pistões na frente, e de um pistão atrás, possui um tacto duro mas deveras progressivo, assim como uma competência que incute grande confiança a quem segue ao volante (pena o travão de estacionamento eléctrico, um tanto a despropósito numa proposta tão purista).
Indesmentível é que o A110 Lègende é verdadeiramente brilhante e viciante numa condução nos limites, quase parecendo um “kart” devido às suas reacções prontas ao mínimo toque no volante que comanda uma direcção muito directa, rápida e bem calibrada, e com um óptimo feedback. A frente é extremamente rápida na inserção em curva, e a traseira mantém-se estável quando assim se pretende, mas está sempre disposta a aceitar outro tipo de atitude quando a tal instada, assim esteja o ESP desligado – seja em potência à saída das curvas, seja nos desequilíbrios em apoio, tudo se controlando, depois, com grande facilidade através do correcto doseamento do acelerador e do volante, prestando aqui o autoblocante electrónico, que actua através dos travões, um contributo precioso.
Tudo no A110 Lègende é, pois, tão imediato quanto natural, tão expectável quanto eficiente. Equilíbrio, agilidade e eficácia são as palavras de ordem, e quanto mais retorcidos forem os percursos, e mais variados os encadeados de curvas, mais vem ao de cima o seu brilhantismo em utilização desportiva, acelerando de forma extraordinária, movendo-se com fantástica rapidez e exibindo uma destreza e uma facilidade fantásticas nas mudanças de direcção, pela forma soberba como são geridas as trocas de apoio. Uma fonte praticamente inesgotável de prazer ao volante, especialmente quando se adopta aquele registo de apontar a frente para o local certo na entrada em curva, e dominar as derivas de traseira em potência à saída da mesma!
Terminado o “recreio para adultos”, e chegado o momento de regressar a casa, nota final para a mestria da escola francesa no capítulo das ligações ao solo, e para o savoir faire da Renault neste particular, ambas patentes no A110 Lègende. É que, apesar da altura ao solo reduzida, dos pneus de baixo perfil e do amortecimento muito firme (embora o peso reduzido permita que este também não seja assim tão drástico), a suspensão acaba por absorver com notável à vontade boa parte das irregularidades do piso, ao ponto de, em determinadas situações, conseguir “poupar” os ocupantes a um “sofrimento” que parecia, à partida, inevitável. Ou seja, não que este veículo seja, propriamente, um “tapete rolante”, mas, para um desportivo tão radical, acaba por ser espantosamente cómodo – tanto quanto o termo e o conceito possam fazer sentido quando aplicados a um automóvel deste género.
Quanto ao preço, €68 400 é quanto a Alpine pede pelo novo A110 Lègende. Não é para todos, mas também nunca seria essa a intenção da marca francesa. Pela dificuldade em identificar no mercado português verdadeiros opositores ao modelo, pelo menos em termos de conceito, ter-se-á que considerar esta como uma verba aceitável, tendo em conta tanto as provas por si dadas neste teste, como a sua inegável exclusividade.
Motor | |
Tipo | 4 cil. em linha, central, traseiro |
Cilindrada (cc) | 1798 |
Diâmetro x curso (mm) | 84,0x81,1 |
Taxa de compressão | 12,0:1 |
Distribuição | 2 v.e.c./16 válvulas |
Potência máxima (cv/rpm) | 252/6000 |
Binário máximo (Nm/rpm) | 320/2000-5000 |
Alimentação | injecção directa |
Sobrealimentação | turbocompressor+intercooler |
Dimensões exteriores | |
Comprimento/largura/altura (mm) | 4180/1798/1252 |
Distância entre eixos (mm) | 2420 |
Largura de vias fte/trás (mm) | 1798/1980 |
Jantes série (FR–TR) | 7 1/2Jx18″ – 7 1/2Jx18″ |
Pneus série (FR-TR) | 205/40 – 235/40 (Michelin Pilot Sport 4) |
Pesos e capacidades | |
Peso (kg) | 1123 |
Relação peso/potência (kg/cv) | 4,45 |
Capacidade da mala/depósito (l) | 96 (FR)-100(TR)/45 |
Transmissão | |
Tracção | traseira |
Caixa de velocidades | pilotada de dupla embraiagem de 7+m.a. |
Direcção | |
Tipo | cremalheira com assistência eléctrica variável |
Diâmetro de viragem (m) | 11,74 |
Travões | |
Dianteiros (ø mm) | Discos ventilados (296) |
Traseiros (ø mm) | Discos ventilados (296) |
Suspensões | |
Dianteira | Triângulos sobrepostos |
Traseira | Triângulos sobrepostos |
Barra estabilizadora frente/trás | sim/sim |
Garantias | |
Garantia geral | 3 anos ou 100 000 km |
Garantia de pintura | 3 anos sem limite de km |
Garantia anti-corrosão | 12 anos |
Intervalos entre manutenções | 20 000 km ou 12 meses |
Airbag para condutor e passageiro (desligável)
Airbags laterais dianteiros
Airbags de cortina
Controlo electrónico de estabilidade
Assistente aos arranques em plano inclinado
Cintos dianteiros com pré-tensores+limitadores de esforço
Travão de estacionamento eléctrico
Ar condicionado automático
Computador de bordo
Painel de instrumentos totalmente digital de 10,0"
Cruise-control+limitador de velocidade
Bancos desportivos Sabelt em pele
Banco dianteiros do condutor regulável em altura+apoio lombar
Pedaleira em alumínio
Volante desportivo em pele regulável em altura+profundidade
Volante multifunções
Direcção com assistência eléctrica variável
Vidros dianteiros eléctricos
Sistema de infoentretenimento com ecrã táctil de 7″+leitor de mp3+tomadas 2xUSB/Aux+sistema de som Focal com 4 altifalantes+comandos por voz
Mãos-livres Bluetooth (telemóvel+áudio)
Sistema de navegação
Acesso+arranque sem chave
Retrovisores exteriores eléctricos+aquecidos
Faróis por LED
Sensores de estacionamento FR/TR+câmara de estacionamento traseira
Jantes de liga leve de 18"
Kit de reparação de furos
Pintura metalizada (€861)
Emblema Alpine nos guarda-lamas dianteiros (€123)
Bancos Sabelt tipo Confort com regulações de seis vias e aquecimento (€418)