Bosch será o elemento comum na manipulação das emissões
Um estudo dedicado à manipulação das emissões poluentes nos motores a gasóleo de vários construtores. levado a cabo por investigadores das universidades da Califórnia, nos EUA, e de Bochum, na Alemanha, e apoiado pelo Conselho Europeu de Investigação (CEI) e pela Fundação para a Ciência dos EUA, é citado pela Bloomberg para apesentar a Bosch como o elemento comum a todos os casos que se conhecem neste domínio. Intitulado “Como é que o fizeram: uma análise dos dispositivos de manipulação de emissões nos automóveis modernos”, o trabalho alega que terá sido o fabricante de componentes a criar o software que permitiu à VW contornar, durante anos, as normas de emissões em vigor; e recorre a documentação técnica para afirmar, também, que um código desenvolvido igualmente pela Bosch foi utilizado num dispositivo destinado, mais uma vez, a manipular as emissões, desta feita alegadamente instalado pela FCA (Fiat Chrysler Automobiles) no Fiat 500X.
É conclusão dos investigadores que esse software contava com um modo específico, activado sempre que o um veículo estava a ser sujeito a um teste de emissões, e que permitia, depois, que as emissões de poluentes subissem drasticamente em condições reais de utilização. Como base nos referidos documentos técnicos, os autores do estudo afirmam explicitamente: “Encontrámos fortes indícios de que ambos os dispositivos de manipulação foram criados pela Bosch, e depois activados pela VW e pela Fiat nos seus respectivos modelos”.
Em comunicado, a Bosch recusou pronunciar-se sobre este estudo, tendo em conta “a sensível natureza legal destas matérias”, e reiterou a sua indisponibilidade para comentar “questões sob investigação e em litigância”. Já os autores do estudo reconhecem que as suas conclusões se baseiam, em parte, em documentos que não foram fornecidos pela Bosch, antes encontrados num portal da VW na Internet, destinado a oficinas de reparação e aos adeptos da reprogramação do software de motores, pelo que não podem estar absolutamente seguros acerca da respectiva autenticidade. Ressalvando que, no limite, foram os fabricantes de automóveis que decidiram como utilizar o software ilegal nos seus veículos.
Independentemente disso, e embora os dispositivos ilegais utilizados pela VW e pela FCA analisados no estudo fossem diferentes, ambos permitiriam que os veículos limitassem as suas emissões de óxidos de azoto (NOx) aos valores legalmente exigidos durante os testes laboratoriais. Permitindo-lhes, depois, que as suas emissões poluentes fossem substancialmente superiores numa condução real (no caso dos modelos da VW, até 40 vezes mais do que o permitido, segundo a EPA, a agência de protecção ambiental dos EUA).
Os documentos mencionados ilustrarão a forma como tais dispositivos eram capazes de detectar os indícios de que, a dado momento, um determinado veículo estaria a ser sujeito a um teste de emissões. “É um diagrama de um dispositivo ilegal”, nas palavras de Kirill Levchenko, cientista da área informática da Universidade de San Diego e co-autor do estudo, a propósito de um diagrama da Bosch analisado, relativo ao dispositivo utilizado pela VW. Num outro documento, referente ao dispositivo alegadamente utilizado no Fiat 500X, a Bosch também identificará dois modos de funcionamento, um denominado “condução real”, e o outro como “homologação”, este último activo durante pouco mais de 26 minutos, que será o tempo de duração de vários testes de emissões.