Conclusões precipitadas… e abusivas!
José Miguel Trigoso fazia, neste mesmo espaço, há dois dias atrás, uma análise acerca dos mais recentes dados referentes à sinistralidade rodoviária em Portugal cuja leitura (ou releitura!) vivamente recomendo (para tal, aqui fica a ligação directa). Tomo a liberdade de citar, inclusivamente, a seguinte passagem: “Estes dados, só para citar alguns mais relevantes servem para ilustrar de forma muito clara que a análise estatística da evolução da sinistralidade não se pode fazer sem estudo aprofundado das condicionantes, pelo que lamentamos muito a forma muitas vezes precipitada como se tiram conclusões muito rápidas, normalmente erradas”.
Julgo servir a “carapuça” a muitos dos envolvidos, mais ou menos directamente, nestas matérias. Nomeadamente às autoridades, aos organismos oficiais e a certos governantes, que se apressam a atribuir a si mesmos os louros quando os números lhes são favoráveis, não se escusando a assacar culpas quase exclusivamente aos condutores quando o oposto acontece; e a algum jornalismo mais sensacionalista, que não raro encontra aqui mais uma forma de crucificar o sempre “inconsciente” e “irresponsável” condutor português (como se os autores de tais peças “jornalísticas” não fossem, eles próprios, as mais das vezes, também condutores…).
A este propósito, e porque nesta época do estio e das férias por excelência proliferam as “reportagens” sobre as operações de controlo das infracções ao volante um pouco por quase tudo o que é órgão de comunicação social, ouso deixar uma sugestão: não chegará já, a jornalistas como a agentes das autoridades, de tentar estabelecer uma ligação directa e inequívoca entre excesso de velocidade e sinistralidade rodoviária, tendo por imagens de fundo as perseguições feitas pelos veículos descaracterizados em auto-estradas? Uma leitura atenta do relatório agora publicado pela ANSR permite concluir, sem margem para dúvidas, mesmo ao menos versado nestas matérias, que, por muitos abusos que ainda por lá se cometam, estas são as vias de circulação mais seguras que existem no nosso país (como seria de esperar).
Por isso, por muito que a nossa rede de auto-estradas tenha custado (e ainda esteja a custar) a pagar a todos nós, seria do mais elementar bom senso, numa perspectiva preventiva, estimular ao máximo a circulação por tais vias. Pena é que não seja possível serem gratuitas, para que por mais e mais vezes pudessem ser utilizadas – com isso, decerto teríamos registos de sinistralidade ainda mais animadores. Quanto aos meios que a essa tarefa estão afectos, e se a “caça à multa” não for mais do que mito urbano, sugiro sejam aplicados em acções porventura menos proveitosas para o erário público, mas seguramente mais eficazes nessa missão que devia ser a primordial neste domínio: reduzir a perda de vidas humanas.