Especial de Corrida
Motores e mecanismos: o fascínio pela mecânica constitui a base cultural e emocional para a proliferação de associações entre as mais prestigiadas empresas de relógios e de automóveis. Descartando os relógios promocionais baratos que se inserem na estratégia de marketing e fidelização de muitas escuderias, há dezenas de marcas puramente relojoeiras que têm associado o seu nome a marcas de automóveis ou a um qualquer evento automobilístico.
Para algumas, essa associação é encarada como uma espécie de Toque de Midas com fins comerciais; para outras, a partilha de assinaturas não passa de um exercício de estilo. No entanto, existem casos substanciais em que as raízes comuns são bem mais profundas e as afinidades situam-se a um nível cultural; é nesses casos que a interdisciplinaridade tem beneficiado sobremaneira a indústria relojoeira.
A mescla de tradição e vanguardismo inerente aos dois sectores inspirou uma nova linha de relógios Jaeger-LeCoultre com o selo da Aston Martin. A união arrancou há sensivelmente uma dúzia de anos, mas a ligação da lendária manufatura relojoeira de Le Sentier ao automobilismo remonta à década de 1920: nessa altura, 95 por cento das competições automobilísticas eram ganhas por viaturas com instrumentação Jaeger.
E o primeiro modelo resultante da parceria – o AMVOX 1, então apresentado conjuntamente com o Vanquish S – ostentou precisamente um mostrador que recuperava a disposição em 270 graus e o contraste de tons escuros com algarismos claros dos antigos velocímetros; as correias de calfe granulado tiveram a mesma assinatura Bridge of Weir dos interiores de pele dos Aston Martin. Mas foi depois desse modelo inicial e suas variações (baseados num alarme mecânico como complicação mecânica adicional) que surgiu a grande inovação que passou a caracterizar a parceria entre a Jaeger-LeCoultre e a Aston Martin: uma linha de cronógrafos baseados num revolucionário sistema de activação sem os tradicionais botões laterais – porque basta pressionar com os dedos sobre o vidro para que a contagem do cronógrafo seja iniciada, parada e recolocada a zero!
Mas atenção: trata-se de um processo basculante puramente mecânico e não táctil pela via térmica: baseia-se num sistema de rolamentos que permite à caixa e à luneta bascularem relativamente à base, ativando uma série de alavancas que por sua vez transmitem os impulsos que controlam as funções cronográficas graças a um sistema de embraiagem vertical. Pressiona-se o vidro às 12 horas e arranca a contagem; volta a carregar-se às 12 e o cronógrafo pára; uma nova pressão às 6 e todos os indicadores (discos das horas e minutos, ponteiro dos segundos) regressam ao zero. Para evitar ativações involuntárias, o flanco apresenta um cursor que permite bloquear as funções do cronógrafo ou apenas a função de retorno a zero – impedindo que qualquer gesto involuntário afecte a cronometragem ou a despolete inadvertidamente.
A inspiração automobilística não se fica pela mecânica nem pela estética do relógio. Também as bracelete em tela técnica ou em pele perfurada evocam os bancos desportivos e anatómicos dos automóveis de competição; a conotação automobilística está sempre presente na selecção de materiais utilizados nas braceletes da linha Aston Martin – incluindo exemplares em calfe com acabamentos Cordura e Alcantara para replicar os luxuosos estofos da escuderia britânica. O fecho de báscula faz de cinto de segurança e é fabricado no mesmo material da caixa – seja aço, titânio, ouro ou platina.
Miguel Seabra
Espiral do Tempo