A evolução dos preços dos combustíveis em 2014
Apesar de hoje já haver uma opinião informada sobre a evolução dos preços dos combustíveis, aparecem ainda alguns detratores desta indústria com afirmações não suportadas por qualquer análise quantitativa. E vão normalmente no sentido de lançar suspeições sobre a Indústria, arranjando sempre argumentos do tipo “sobe muito depressa e desce muito devagar”, para insinuar que há jogos escondidos no sentido de se aproveitarem do pobre e desprotegido consumidor.
Antes de prosseguir, convinha recordar que este é um mercado liberalizado, embora às vezes não pareça face à febre intervencionista do Governo (mas esse será tema para outra altura), e que portanto, os atores definem estratégias e lançam mão de todas as ferramentas possíveis para maximizar o binómio quantidade / margem. O mercado é suficientemente competitivo, e o número e tipo de operadores muito diversos garantem que essa maximização é feita sem prejuízo dos consumidores, ao mesmo tempo que sustentam a saúde económica das empresas. Infelizmente ainda há quem pense que este binómio não é conciliável e que ter lucro (legítimo) é um pecado. Uma economia forte precisa de consumidores satisfeitos e empresas rentáveis.
A evolução dos preços dos combustíveis ao longo de 2014, principalmente no 2º semestre, é uma boa prova de como as regras do mercado estão a funcionar e os consumidores são os primeiros a beneficiar.
O Brent, cotação que serve de referência para o mercado português, passou de 81 €/barril no final de 2013 para 83 €/barril no final do 1º semestre de 2014 e 48 €/barril no final do ano. Desvalorizou, portanto cerca de 41% ao longo do ano. Os produtos refinados acompanharam essa queda, tendo a gasolina passado de 0.54 €/litro para 0.59 €/litro e 0.32 €/litro no mesmo período, e o gasóleo respetivamente de 0.59 €/litro para 0.58 €/litro e 0.39 €/litro. Desvalorizaram portanto cerca de 40 % a gasolina e 35% o gasóleo, ao longo do ano.
Quanto aos preços médios de venda ao público (PMVP) tiveram o seguinte comportamento: a gasolina passou de 1.55 €/litro no final de 2013 para 1.60 €/litro no final de Junho e 1.29 €/litro no final do ano; quanto ao gasóleo os valores foram respetivamente de 1.38 €/litro, 1.35 €/litro e 1.11 €/litro. Desvalorizaram, portanto, em valor absoluto, 0.26 €/litro a gasolina e 0.28 €/litro o gasóleo. Obviamente que em termos percentuais essa redução foi menor já que a cotação dos produtos representa apenas cerca de 25 % na gasolina e 35 % no gasóleo, devido aos valores fixos de vários componentes do custo, muito em particular o gasóleo. Verifica-se que a queda nos PMVP, mesmo descontando o efeito do IVA, foi superior à das cotações, particularmente no gasóleo em que se cifrou em mais cerca de 3 c/l.
Peço desculpa por esta multitude de valores, mas achei conveniente lançar-lhes mão para ilustrar a mensagem que pretendo sublinhar: o mercado dos produtos petrolíferos funciona e os consumidores vêm refletidos, nos preços que pagam, as variações da matéria-prima. Desafio a darem-me outros exemplos em que o mesmo aconteça com a mesma magnitude e velocidade de resposta. Na área energética certamente que isso não acontece, e mesmo noutras áreas não serão muitos os exemplos. Daí a minha estranheza pela necessidade sentida pelo Governo de interferir neste mercado, quando há outras áreas em que talvez essa intervenção fosse mais justificada.
António Comprido
Secretário-geral da APETRO