Ferrari aposta nos híbridos para aumentar (ainda mais) os lucros
Apesar das dúvidas que muitos ainda colocam relativamente ao acerto de tal decisão, Sergio Marchionne, o omnipresente CEO da FCA e da Ferrari, será, por esta altura, um homem feliz e satisfeito por, no início deste ano, ter tornado a marca do Cavallino Rampante independente do conglomerado a que durante décadas pertenceu. E tem razões para isso.
Desde logo porque o mítico fabricante de Maranello acaba rever em alta as suas projecções para 2016. Depois de ter anunciado um valor na casa dos 800 milhões de euros, a Ferrari prevê, agora, que o seu EBITDA (o resultado alcançado pela empresa antes de juros, impostos, amortizações e depreciações) se situe em torno dos 850 milhões de euros no final do ano.
Esta previsão tem por base, fundamentalmente, o aumento de 8% das receitas no terceiro trimestre do ano, assim como o aumento das vendas em 1% no mesmo período. O que se ficou a dever, em boa parte, à forte procura registada pelos seus modelos equipados com motores V12, em especial o GTC4 Lusso e o recém-lançado LaFerrari Aperta, a versão descapotável do seu superdesportivo.
Mas Marchionne tem por meta que a Ferrari seja bastante mais lucrativa, e para isso é fundamental que consiga vender mais do que 10 mil automóveis por ano. Ora, a Ferrari prometeu aos seus accionistas vender cerca de 8 mil unidades em 2016 e, gradualmente, elevar as vendas até 9 mil exemplares/ano até 2019. A partir daí, ainda nada foi adiantado, alegadamente para defender a exclusividade da marca, mas também porque a legislação em vigor a isenta de cumprir determinadas exigências em termos de emissões e economia de combustível, desde que o seu volume de vendas anual se situe abaixo das 10 mil unidades.
Agora, regista-se uma inflexão no discurso. O CEO da marca acaba de sugerir que a Ferrari poderá mesmo vender mais de 10 mil automóveis/ano a partir de 2025. O que só será possível se conseguir reduzir o consumo e as emissões de CO2 da sua gama de produtos, desiderato para cujo alcance a tecnologia híbrida tenderá a ser decisiva, como o prova o anúncio do seu responsável máximo, de que, a partir de 2019, todos os Ferrari contarão com alguns elementos híbridos.
Aliás, Marchionne foi mesmo mais longe, e prometeu mesmo uma mudança fundamental na forma como a Ferrari fabricará os seus modelos. Para além dos híbridos, tal incluirá uma combinação entre motores de combustão e a electrificação que garantirá, inclusive, um aumento da performance dos veículos. Sendo, também, mais do que provável um alargamento da sua gama, nos próximos anos, no sentido de poder conquistar um leque mais amplo de clientes, através de propostas focadas em características que vão para além da competência tecnológica e da performance, como é da tradição na marca.
Veja-se o exemplo do novo GTC4 Lusso T, um quatro lugares animado por um motor V8 turbo de capacidade relativamente contida, que a Ferrari afirma ter sido concebido para uma utilização diária. Garantido parece ser que o aumento da rentabilidade do construtor italiano, pelo menos num futuro a médio prazo, só poderá ser garantido por aquilo que sabe fazer melhor: automóveis. Quanto à intenção de tornar a Ferrari num negócio de artigos de luxo, através da sua expansão para além da comercialização de automóveis, e do que lhe está relacionado, é uma extensão que, segundo refere agora Marchionne, terá de adoptar um “ritmo mais razoável”.