Fiat Punto 0.9 Twinair 105 cv S&S Lounge

A presença do motor 0.9 Twinair na gama do Fiat Punto não constitui propriamente uma novidade: há-o desde 2012. Mas a introdução de uma nova variante de potência –  a mais potente, de 105 cv –  constitui uma oportunidade curiosa para revisitar este modelo que, por força da refrescadíssima concorrência, começa a ser esquecido, como se o mercado automóvel sofresse de um Alzheimer precoce. “Agarrado” a estes 105 cv de potência surgem um Punto na sua carroçaria de cinco portas e uma versão de equipamento Lounge: tudo somado, é uma experiência automobilística que se converte num preço de 16 350 euros, sem contar com eventuais opcionais. Encontrar um modelo rival é, neste momento, um estudo que revela as fragilidades deste modelo: a campanha do Fiesta 1.0 Ecoboost 100 cv coloca-o abaixo dos 15 mil euros; e a do Corsa 1.0 115 cv, abaixo dos 16 mil euros. Para não dizer que qualquer um destes modelos surgirá, à partida, muito melhor equipado.

O bloco de dois cilindros e injecção indirecta Twinair é único. Debita 105 cv nesta versão e tem uma sonoridade e um funcionamento muito “sui generis”

Pelo meio, considerações sobre o Fiat Punto per se: já se sente muito desactualizado em inúmeros pontos. A posição de condução é uma das melhores características, fruto de uma plataforma que oferece ao banco do condutor uma posição de condução altamente ajustável. A simplicidade ergonómica também é bem-vinda, assim como o espaço a bordo, ainda hoje uma referência no segmento, mas que surge por força das dimensões gerais da carroçaria que ultrapassam os quatro metros de comprimento, quando a tendência do segmento tem sido a de encurtar ou de manter as carroçarias para ficar abaixo do quarto metro de comprimento. A caixa manual de seis velocidades, específica desta versão, tem um escalonamento consideravelmente curto nas primeiras quatro relações, esticando-se na quinta e sexta relações.

A caixa tem uma acção mecânica, mas oferece alguma resistência inesperada à engrenagem, faltando-lhe algum polimento . Mas é na direcção que se nota, e bem, o passar dos anos: a assistência é esquizofrénica (em curva de raio constante, a assistência tem oscilações) e, em linha recta, a velocidades de auto-estrada, é necessário efectuar pequenas correcções, de forma quase independente do estado do piso e de qualquer possível inclinação do mesmo. Em cidade, as coisas melhorar imenso porque, de certa forma, a direcção nasceu para isto. O modo “city” é impecável para manobras de baixa velocidade e, mesmo sem sensores de estacionamento, o estacionamento é facilitado pela boa visibilidade, a já referida posição de condução e pelas próprias formas do Punto.

O motor 0.9 Twinair com 105 cv distingue-se da variante de 85 cv pelo aumento do regime a que a potência máxima é debitada, passando de 5250 para 5500 rpm. O limite de rotação máxima atinge-se com facilidade – demasiada facilidade -, sendo muito habitual que, numa condução desportiva, o motor chegue ao seu limite electrónico sem que demos por isso. O facto do motor ser muito pequeno e leve faz com que toda esta capacidade de aumentar a rotação se assemelhe mais com um motociclo do que propriamente um automóvel. Além das prestações aceitáveis (0-100 km/h em 11,5), e dos consumos francamente medíocres (média calculada de 6,5 l/100 km), interessa mencionar que ao adquirir um Punto com este motor, está a comprar um motor sem igual: o trabalhar é característico, e, tanto ao volante como a passar por ele na rua,  a sonoridade é única. E é, a par das prestações superiores face a um “mero” motor 1.2 a gasolina, o selling point da tecnologia Twinair, que se coloca dois mil euros acima do 1.2 69 cv que compõe a entrada de gama do Punto. Se bem que, de momento, a Fiat está a praticar uma “valente” campanha de desconto que coloca o Punto 1.2 69 cv a um preço-canhão de 11 mil euros…

Apesar da excelente posição de condução, a direcção e a caixa de velocidades já estão alguns furos abaixo das referências do segmento

De registar, ainda, algumas ausências que mostram o quão datado está o Fiat Punto face à restante concorrência: o ESP (e todos os sistemas a ele “agarrados”, como o Hill Hold e o controlo de tracção), por exemplo, é oferecido como um opcional que custa 550 euros, quando já é de série na vasta maioria dos rivais de segmento; e, ainda, a ausência de um sistema substancialmente mais evoluído de infotenimento que não seja o datado rádio com leitor de mp3 – o actual sistema de Bluetooth e de fichas auxiliares já não chega para compensar a ausência de um verdadeiro sistema multimédia. É verdade que, contas feitas, o Fiat Punto Twinair 105 cv oferece uma relação preço-potência relativamente satisfatório, mas, por outro lado, o utilitário italiano é daqueles que já não consegue, mesmo, disfarçar a idade…