Nissan Qashqai 1.6 dCi 4×2 N-TEC

O sistema de navegação é muito completo e inclui ligação Bluetooth de série

O desenho evoluiu.

Posição de condução elevada - mas correcta -, materiais aceitáveis e boa montagem

Na secção traseira do Qashqai espera-nos uma capacidade de 430 litros - 80 litros maior do que na geração anterior

No painel de instrumentos são apresentadas as informações do leitor de sinais

WEFQE

Um dos grandes feitos do Nissan Qashqai é a forma aparentemente inocente como veio bater à porta do clube do Volkswagen Golf e do Renault Mégane (entre outros, claro) sem nunca ser um pequeno familiar, e, de forma menos discreta, ter-lhes roubado uma porção tão significativa de mercado. Quando um modelo que nem sequer pertence ao segmento – pelo menos no papel, claro -, entra de rompante e destabiliza as referências, restam-nos dois caminhos: admitir que os restantes concorrentes estavam mal alinhados, ou fazer uma vénia a um automóvel extremamente bem feito. No caso do Qashqai restam poucas dúvidas de que é o segundo caso, e a chegada da segunda geração é uma espécie de processo de confirmação, uma passagem da puberdade automobilística para uma fase adulta. As boas bases, como a existência de motores Diesel de baixa cilindrada, uma gama bem estruturada, um aproveitamento brilhante de componentes do grupo Renault complementam-se agora com um design mais maduro, (muito) mais tecnologia e uma preocupação superior com os pequenos pormenores que fazem toda a diferença neste segmento onde o Qashqai (alegadamente, diria a Nissan) se insere: materiais melhores, maior preocupação na montagem, aumento do controlo do ruído, vibração e conforto.

Com tamanho upgrade nestes pontos, já comprovado no anterior ensaio à versão 1.5 dCi com versão de equipamento idêntico, o motor Diesel 1.6 faz cada vez mais sentido. Talvez não o fizesse na geração anterior, dado o despretensiosismo da anterior geração, mas um aumento de qualidade traduz-se, sempre, num aumento das responsabilidades do produto, e, consequentemente, no posicionamento do Qashqai. É com este bloco que o SUV da Nissan atinge o seu pináculo de “refinamento”, silêncio de funcionamento, e, claro, de prestações. As diferenças sentem-se sobretudo no que diz respeito às recuperações, especialmente nas velocidades mais altas: em quinta e sexta relação, a diferença chega a uma redução de 40% nos tempos registados. É muito significativo e ajuda a mostrar aquela que é a diferença mais notória entre os blocos Diesel: os 60 Nm de binário que os separam. Curiosamente, os 20 cv potência adicionais fazem-se notar de uma forma relativamente dissimulada: a cronometragem dos 0 aos 1000 metros mostra uma diferença de 2,1 segundos, o que não é uma diferença particularmente evidente, ainda para mais quando esta se faz sentir no momento de arranque, onde o binário é muito mais importante do que a potência.

Há ainda uma diferença nos consumos que, apesar de no cômputo geral ser marginal, interessa ser avaliada. Apesar da maior disponibilidade do 1.6 dCi, ambos motores têm a sua potência máxima debitada no mesmo regime (4000 rpm), as caixas têm escalonamentos semelhantes, e, a isto, junta-se um aumento de 55 quilos de peso face à versão 1.5 dCi. Tudo isto somado resulta num aumento dos consumos registados: o médio oscila meio litro, mas a diferença chega a ultrapassar um litro nos consumos de 90 e 120 km/h.

Substituir o motor 1.5 dCi por este 1.6 dCi custar-lhe-á, nesta especificação N-TEC, dois mil euros. Ganha (muito) em performance, perde (meio litro) em consumos

De resto, o Qashqai grita facilidade e versatilidade. A posição de condução elevada é excelente para quem gosta de se sentir “em controlo” da situação, as regulações permitem que praticamente qualquer pessoa tenha uma boa posição de condução, e aos comandos só falta mesmo uma inclinação menos evidente no volante. Os bancos, sejam os dianteiros ou traseiros, são correctos e têm o mínimo de apoio lateral. Atrás, há uma bagageira aceitável (430 litros), um piso duplo, e um plano de carga relativamente elevado, mas funcional. Tecnologia também não lhe falta, toda ao mesmo nível dos (sim, adivinhou) restantes pequenos familiares: aviso de mudança de faixa involuntária, identificador de sinais de trânsito, sistema anti-colisão frontal, e, entre outros pormenores, um sistema multimédia com ecrã de 7″ e todas as funcionalidades costumeiras.

Escolher entre o 1.5 dCi e o 1.6 dCi é a prova de que não há almoços grátis. O preço pode nem ser o principal óbice – são dois mil euros de diferença entre motorizações com equipamento N-TEC -, mas é preciso medir bem a real necessidade de ter um poder de ultrapassagem maior ou de ter consumos inferiores. Pessoalmente, encaro a maior potência e binário como um autêntico elemento de segurança: permite-me fazer ultrapassagens de forma mais segura. Mas há, certamente, quem ache que 0,5 l/100 km farão muita diferença a longo prazo… Enfim, fica a dor de cabeça para quem, efectivamente, quiser comprar um Nissan Qashqai, o SUV que mudou a face dos pequenos familiares.