Novo Polestar 2 desde €49 900. Primeiras impressões ao volante
Cerca de cinco anos volvidos sobre o seu nascimento, está oficialmente presente em Portugal a Polestar. Apesar de ser um dos mais jovens construtores de automóveis da actualidade, anunciado como autónomo e senhor da sua própria identidade, tal não significa, necessariamente, falta de conhecimento nesta área, nem sequer de experiência. Pelo menos de forma indirecta, ou não tivesse a marca sueca sido criada a partir da antiga divisão desportiva da Volvo (marca com a qual partilha boa parte dos componentes mecânicos dos seus modelos), além de ser liderada por Thomas Ingenlath (durante anos responsável máximo pelo design da Volvo), e de integrar o grupo Geely, um dos principais conglomerados chineses do sector – sendo, aliás, na China que estão instaladas as suas unidades fabris.
No que ao mercado diz respeito, a aventura do novel fabricante nórdico teve início com o Polestar 1, um híbrido plug-in de vocação desportiva, com 600 cv e 1000 Nm, lançado em 2018 e produzido numa série limitada a não mais do que 1500 exemplares – naturalmente, já todos vendidos, e cuja fábrica servirá, no futuro, para produzir pequenas séries especiais. A partir daqui, todos os modelos da Polestar são 100% eléctricos, e, deste modo, a sua primeira (e, para já, única) proposta destinada ao público em geral é o Polestar 2, lançado em 2020, e que agora inicia a sua carreira comercial no nosso país.
Seguir-se-ão o Polestar 3, um SUV a apresentar no final deste ano, que será uma espécie de “primo” do Volvo XC90 da próxima geração, com o qual partilhará a base mecânica, mas sempre em configuração de cinco lugares, com formas mais dinâmicas e mais focado no prazer de condução. Em 2024, será lançado o Polestar 4, a versão de produção do protótipo Precept, e primeiro Polestar assente num châssis criado pela própria marca, no caso composto por perfis de alumínio colados. Ao passo que o Polestar 5 é esperado para 2024.
Por outro lado, é de referir que a Polestar, sem deixar de reconhecer que a maioria tenderá a comparar as suas criações com as da Tesla (mormente o Polestar 2 com o Model 3), também tem como ambição conquistar clientes tradicionalmente adeptos de modelos ainda equipados com motores de combustão interna, oriundos de marcas de prestígio como a Audi, a BMW ou a Mercedes. E que outro dos seus grandes objectivos é cativar adeptos para a mobilidade totalmente eléctrica, que crê ser a solução do futuro para o sector automóvel.
Para alcançar tal desiderato, e, como referido, de momento, a Polestar dispõe, apenas, do Polestar 2, que define como um “fastback de cinco portas”, ou seja, um automóvel com proporções capazes de garantir o agrado interior e o carácter prático de um SUV, mas com um visual que evoca uma berlina desportiva, para reunir o melhor dos dois mundos. As suas formas simples e fluídas, suaves até, inspiram-se, como não espantará, na arquitectura escandinava, merecendo destaque especial a iluminação exterior integralmente por LED, com os grupos ópticos dianteiros e traseiros a assemelharem-se de forma óbvia aos de alguns modelos da Volvo. Não obstante, o resultado final cativa, nomeadamente pela tal pureza de linhas, complementada por uma quase ausência de elementos cromados, e pelas jantes de generosas dimensões (19” com pneus 245/45 na versão de acesso; 20” com pneus 245/40 nas variantes mais dotadas).
Assente na plataforma modular CMA da Volvo, já conhecida, por exemplo, do XC40, o Polestar 2 mede 4606 mm de comprimento, 1800 mm de largura e 1479 mm de altura, para uma distância entre eixos de 2702 mm. Significa isto que é maior em todos os sentidos do que o SUV sueco, o que lhe permite oferecer uma apreciável habitabilidade, nomeadamente nos lugares posteriores. Quanto ao espaço para bagagens, existe um compartimento com 41 litros sob o capot dianteiro, complementado por uma bagageira cuja capacidade varia entre 405 litros com os cinco lugares montados, e 1095 litros com o banco traseiro totalmente rebatido – em ambos os casos, incluindo os 41 litros existentes sob o respectivo piso.
Com uma decoração condicente com o design exterior, o habitáculo prima, também, por não recorrer a qualquer produto de origem animal. Mesmo o revestimento interior mais requintado, denominado WeaveTech, e proposto como opção, não só é mais leve do que o couro, como recorre a uma elevada percentagem de materiais reciclados, além de ser anunciado como muito durável e de fácil limpeza, mesmo estando praticamente desprovido de ftalatos, composto químico também conhecido como plastificante, que se destina a aumentar a flexibilidade dos materiais, e costuma ser encontrado no vinil por norma utilizado nos interiores dos automóveis.
Fundamental para uma marca que se pretende vanguardista, e fortemente apostada na digitalização, é o interface com o condutor, assente num painel de instrumentos digital de 12,3” configurável, e num evoluído sistema de infoentretenimento, comandado através de um ecrã táctil central vertical de 11,15”, que permitiu eliminar boa parte dos botões, interruptores e manípulos de comandos característicos dos automóveis convencionais. O Polestar 2, para orgulho do seu construtor, é, também, o primeiro automóvel do mundo a fazer uso do novo sistema operativo Android Automotive, desenvolvido em colaboração com a Google, e o qual permite controlar as principais funções e configurações do veículo através do mencionado ecrã central.
Além da rapidez de operação, e da inclusão de aplicações como o Google Maps ou o Google Play Store, o sistema integra, igualmente, o assistente vocal Google Assistant, sistema de reconhecimento de voz natural com “auto-aprendizagem”, através do qual é possível controlar uma multiplicidade de funções apenas através da fala. O grande senão desta solução, pelo menos para os utilizadores de dispositivos Apple, será porventura, o não ser ainda compatível com o Apple CarPlay, situação que renderá a ser revista a seu tempo, mas que não deixa de causar alguma estranheza num produto que pretende ser de referência nesta matéria… Em compensação, estão disponíveis as actualizações remotas, quer para o sistema de infoentretenimento, quer para algumas funções do Polestar 2, nomeadamente no domínio da gestão da bateria.
Em termos de segurança, a proximidade com a Volvo é mais do que assumida, tanto no que diz respeito à segurança activa, como no que concerne á segurança passiva. Neste particular, referência obrigatória para os sistemas avançados de assistência à condução, fazendo parte do equipamento de série de todas as versões, entre outros, a travagem autónoma de emergência com alerta de colisão frontal e reconhecimento de peões e ciclistas; o sistema de leitura de sinais de trânsito; o assistente à manutenção na faixa de rodagem; os dois assistentes de direcção (um destinado a evitar colisões frontais na faixa oposta; o outro tendo como missão evitar, ou mitigar as consequências, potenciais saídas de estrada); e o alerta de atenção do condutor.
Para animar o Polestar 2 estão disponíveis duas configurações de motor, uma de tracção dianteira, a outra de tracção integral, combináveis com dois packs de baterias. A versão de acesso Standard Range recorre a um motor eléctrico dianteiro de 231 cv e 330 Nm, conjugado com uma bateria com 69 kWh de capacidade (67 kWh úteis), anuncia 7,4 segundos nos 0-100 km/h, 160 k/h de velocidade máxima, uma autonomia de 474 km no ciclo WLTP e um peso de 1940 kg. A variante Long Range distingue-se apenas pela bateria de 78 kWh (75 kWh úteis), que eleva o peso para 1994 kg, mas amplia a autonomia para 542 km, mantendo-se as prestações inalteradas.
Já a derivação mais dotada Long Range Dual Motor monta um segundo motor de 231 cv e 330 Nm no eixo traseiro, por isso dispondo de tracção às quatro rodas, para um rendimento combinado de 408 cv e 660 Nm, sendo a bateria sempre de 78 kWh. Neste caso, os 0-100 km/h são cumpridos em 4,7 segundos, a velocidade máxima é de 205 km/h e a autonomia passa a ser de 482 km, para um peso de 2113 kg.
Exclusivamente para esta versão está opcionalmente disponível, por €6000, o Pack Performance, do qual fazem parte uma versão de software capaz de elevar a potência para 476 cv, passando os 0-100 km/h a ser cumpridos em 4,4 segundos. Incluídos neste pacote estão, ainda, a suspensão rebaixada 5 mm, com molas e barras estabilizadoras de afinação específica, e dotada de amortecedores Öhlins Dual Flow Valve ajustáveis (22 opções de regulação e três níveis de amortecimento seleccionáveis pelo concutor); o sistema de travagem composto por discos dianteiros perfurados com 375 mm de diâmetro, actuados por pinças Brembo de quatro pistões pintadas de dourado; e as jantes em alumínio forjado de 20” diamantadas, revestidas por pneus Continental SportContact de medida 245/40R20.
Quanto à bateria, que oferece sempre uma garantia de 8 anos ou 160 000 km para 70% da sua capacidade, tanto pode ser carregada em postos de carregamento rápido de corrente contínua, em 35 minutos recuperando 80% da respectiva carga (isto porque a de 69 kWh pode receber carga até 130 kW, e a de 78 kWh até 155 kW), como através do carregador de bordo de 11 kW, que equipa de série todos os Polestar 2 – no caso da de 78 kWh, os tempos de carregamento são de 24h00 numa tomada de corrente normal monofásica de 16 A, e de 8h00 numa Wallbox trifásica a 16 A (21h00 e 7h00, respectivamente, no caso da bateria de 69 kWh). Com camada inferior em forma de “H”, e superior em forma de “L”, a bateria de iões de lítio a 400 V utiliza cobalto rastreado por tecnologia blockchain, para garantir que o mesmo é extraído de forma responsável, sendo que, em todo o mundo, somente dois fornecedores deste elemento foram capazes de adoptar esta abordagem, e ambos são parceiros da Polestar.
A apresentação à imprensa portuguesa do novo Polestar 2 incluiu um primeiro contacto dinâmico com o modelo, sempre bem-vindo, e ainda mais porque não teve outras limitações que não o tempo disponível para o efeito, o que permitiu percorrer cerca de centena e mais de quilómetros em várias condições de circulação. A unidade utilizada para o efeito foi aquela em que a marca mais aposta no mercado luso, a de tracção dianteira e motor de 231 cv, equipada com a bateria de 78 kWh.
Ao volante, a primeira impressão transmitida pelo Polestar 2 é que o interior acaba por evocar mais do que o esperado os modelos da Volvo, tanto mais que os comandos no volante, os botões na consola centeal e nas portas, e as saídas de ventilação são exactamente os conhecidos dos modelos da marca de Gotemburgo, e mesmo o painel de instrumentos, apesar de um visual próprio, adopta um princípio de funcionamento sobejamente conhecido de quem já tenha conduzido um Volvo da nova geração. Ao mesmo tempo, o posto de condução é muito correcto, acolhedor e envolvente, além de oferecer uma boa visibilidade para o exterior; a ergonomia é bastante apurada; e a qualidade de construção, ao nível da montagem e dos acabamentos, parece estar uns furos acima da das propostas da Volvo.
Os primeiros quilómetros foram percorridos em cidade, a situação ideal para testar o “One Pedal Drive”, sistema que, quando activado, permite optar entre dois níveis de intensidade da regeneração de energia em desaceleração para praticamente dispensar o recurso pedal de travão em meio urbano – e cuja utilização se revelou deveras fácil e eficiente, cumprindo aquilo a que se propõe. O modo Creep, por seu turno, é aquele que define se, quando o veículo está imobilizado, após ser libertado o pedal de travão, a marcha se inicia automaticamente, ou somente quando pressionado o acelerador. Configurável é, ainda, o “peso” a direcção, funcionalidade de utilidade bastante relativa, já que as duas alternativas à afinação padrão (uma mais “leve”, a outra mais “pesada”) são caracterizadas por um tacto algo artificial.
Em marcha, primeira nota para a resposta pronta às solicitações do acelerador, não tão intensa quanto o esperado face ao rendimento anunciado, mas acabando por contribuir para uma condução muito fácil e agradável em cidade. A afinação firme da suspensão, quase inevitável num automóvel com quase duas toneladas de peso que se pretende eficaz uma condução mais empenhada, impede que os pisos menos bem conservados sejam imperceptíveis para quem segue a bordo, mas também não chega a ser propriamente desconfortável. De resto, tudo se passa com grande fluidez, sendo evidente a robustez tanto da estrutura como da construção interior, não se detectando ruídos parasitas.
Passando a uma estrada nacional, com alguns encadeados de curvas, e adoptando um ritmo mais intenso, o Polestar 2 responde com prontidão às ordens de quem o comanda, graças a uma direcção suficientemente rápida e precisa, e a um châssis equilibrado, cujo maior mérito é garantir reacções sempre neutras e muito previsíveis, apesar do peso considerável, mas bem distribuído entre os dois eixos (numa proporção 51/49). Já em auto-estrada, a motorização dá muito boa conta de si, mas o que mais se destaca é a tranquilidade sentida a bordo, por via de uma grande estabilidade a velocidades mais elevadas, a um “pisar” que inspira confiança e a um meritório desempenho aerodinâmico, que, conjugado com uma eficaz insonorização, garante que praticamente não existem ruídos a bordo oriundos do exterior. Um ensaio mais prolongado e completo, a realizar muito em breve, permitirá não só confirmar todos estes atributos, como aquilitar o desmpenho do Polestar 2 em situações mais exigentes.
No plano comercial, meta da Polestar é simplificar o processo de aquisição, que pretende seja o mais digital possível, pese embora também existam espaços físicos onde será possível conhecer, experimentar e comprar os seus modelos. Não existem stands no sentido convencional do termo, mas sim os Polestar Space (locais situados em centros urbanos de fácil acesso) e Polestar Destination (onde também será possível efectuar a entrega do veículo ao cliente, ainda que a opção de entrega em casa esteja, igualmente, prevista). Em Portugal, uns como outros serão inaugurados até final do ano em Lisboa e no Porto (até lá, a marca estará presente em locais emblemáticos da capital, da Invicta e do Algarve, nos quais será possível efectuar test-drives ao Polestar 2), enquanto que a rede de trinta pontos de assistência e pós-venda será a mesma da Volvo.
Quanto à gama, é, de igual modo, bastante simples, contemplando somente quatro opcionais (jantes de 20”, estofos em napa ventilados, pintura metalizada e gancho de reboque) e três pacotes de equipamento, um deles o já referido Performance, exclusivo da versão mais potente. Assim, o Pack Pilot Lite, por €2500, inclui o alerta de tráfego cruzado; a assistência activa à manutenção na faixa de rodagem (apoiada pela monotorização do ângulo morto); o alerta de colisão pela traseira; o cruise control adaptativo com função stop&go; a câmara panorâmica de 360°; os retrovisores exteriores electrocromáticos; e a iluminação dianteira com função de curva. Ao passo que o Pack Plus, por €4500, inclui o sistema de pré-climatização do habitáculo; o sistema de som Harman Kardon com treze altifalantes e amplificador de 600Watt; o pára-brisas e esguichos dos limpa paáa-brisas aquecidos; os bancos dianteiros e o volante aquecidos; ; os estofos WeaveTech; o tejadilho panorâmico; os banco dianteiros com regulações eléctricas, extensão do assento e funções de memória para o condutor; o carregador por indução de 15 Watt para smartphones; e os vidros traseiros escurecidos.
À venda em Portugal já a partir de 24 de Maio, e com primeiras entregas a clientes previstas para Outubro, o Polestar 2 custará em Portugal €49 900 na versão Standard Range Single Motor, €53 400 na versão Long Range Single Motor, e €56 900 na versão Long Range Dual Motor. Em todos, o equipamento de série inclui, entre outros, sistema de som com rádio digital DAB, 8 altifalantes e amplificador de 250 Watt; sensor de chuva; portão traseiro eléctrico com função “mãos-livres”; bancos dianteiros parcialmente eléctricos com memória para o condutor; sensores de estacionamento dianteiros e traseiros; câmara de estacionamento traseira; ar condicionado automático bizona; bancos dianteiros aquecidos; sistema de monitorização da pressão dos pneus; fixações Isofix; e alarme.