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O complexo sistema rodoviário

Artigo
O complexo sistema rodoviário

“A velocidade dos veículos retirou velocidade às nossas almas”
Fernando Pessoa

Nesta minha primeira participação, não poderia deixar de fazer uma sucinta reflexão sobre o meio onde se situa a temática, o sistema rodoviário.

O Homem, desde os seus primórdios, foi construindo sociedades cada vez mais complexas tornando o tempo num bem escasso. A evolução dos meios de transporte e, por maioria de razão do automóvel, foi ao encontro dessa necessidade de se ligar dois pontos no mínimo tempo possível, imprimindo uma dinâmica sem precedentes na concepção de motores de veículos cujo fim, também, foi o de criar potência e, por esta via, estabelecer recordes de velocidade.

Mas as vias rodoviárias são espaços públicos a que todos, sem exceção, acedemos por direito. Estamos, assim, num espaço partilhável em que podemos encontrar condutores com aptidões diferentes, vias de qualidade diversa, veículos em diferentes graus de evolução.

É neste contexto que foi teorizado o sistema rodoviário segundo, pelo menos, duas perspectivas: a primeira debruça-se sobre os três principais componentes do sistema- O Veículo, a Via e o Homem, a jusante encontramos uma segunda perspetiva que traz a este sistema- a Educação, a Engenharia e a Fiscalização, sendo estes os elementos fulcrais que visam moldar os comportamentos, as atitudes, as mentalidades.

Partindo do pressuposto de que as relações individuais num ambiente aberto a todos devem ser reguladas, foram, por isso, criados os primeiros códigos legislativos que, desde logo, visaram harmonizar a convivência entre utilizadores num cada vez mais complexo sistema, os códigos da estrada.

Um código da estrada não é muito diferente de um qualquer outro código de conduta, seja no âmbito penal, civil, comercial, do trabalho, etc. É essencial para evitar os acidentes, para conformar procedimentos, para regular relações, enfim, para trazer alguma paz neste domínio, este é o modo como devem ser encarados.

É precisamente no desenvolvimento de todos estes elementos que devemos colocar, como meta a atingir, um desígnio superior, salvar vidas. Sabemos que os acidentes na estrada provocam vítimas cujos números são, tantas vezes, chocantes. Não nos podemos acomodar com a previsão de que nos próximos dois dias pelo menos três pessoas vão morrer nas nossas estradas e por isso o nosso inconformismo, necessário e que deve ser apropriado por todos nós, seja qual for a nossa qualidade, condutor, peão, formador, engenheiro, profissional de emergência médica ou construtor de veículos.

Se bem que a realidade portuguesa tenha vindo a mudar ao longo dos últimos quinze anos, com uma clara contenção de consequências (vítimas) e com uma inequívoca mudança de índices da sinistralidade rodoviária, existe, no entanto, e ainda, um longo caminho a percorrer.

Gabriel Mendes
Chefe da Divisão de Trânsito e Segurança Rodoviária da GNR

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