O preço dos combustíveis rodoviários e o consumo
Uma pergunta recorrente, é se há uma correlação direta entre o preço dos combustíveis e o seu consumo. Na situação atual de acentuada queda dos preços, a questão torna-se ainda mais pertinente.
Os dados estatísticos mostram que não há uma forte correlação entres estes dois parâmetros e perguntar-se-á porquê? Não seria expectável que um menor preço impulsionasse o consumo e, em sentido inverso, preços altos induzissem uma redução?
Se nos debruçarmos mais sobre os restantes fatores que podem influenciar o consumo, verificamos claramente que é o estado da economia que realmente importa. E porquê?
Se segmentarmos o mercado de um modo simples, podemos fazê-lo em: transportes pesados de mercadorias e passageiros, e veículos ligeiros usados, por sua vez, em atividades profissionais ou privadas. Analisemos então cada um destes setores:
- No caso do transporte de mercadorias parece fácil entender que o consumo estará diretamente relacionado com a taxa de ocupação dos veículos, dependendo dos fretes que, por sua vez, refletem a atividade industrial e comercial. Quanto mais pujante estiver a economia, maior o número de transações de bens e, consequentemente, maior necessidade de os movimentar. Pelo contrário, o preço é quase irrelevante para o consumo, embora não o seja para a rentabilidade do sector – ninguém vai pôr camiões a circular vazios só porque o gasóleo está mais barato.
- No transporte pesado de passageiros, a relação será menos óbvia mas normalmente, a uma maior atividade económica, também corresponderá uma maior movimentação de pessoas (menor taxa de desemprego, p. ex.). Também aqui o preço será irrelevante: não se criam mais carreiras só porque o combustível está mais barato, se o fluxo de passageiros não o justificar.
- Nos veículos ligeiros para utilização profissional, o racional é o mesmo do transporte pesado: ninguém viaja para “queimar combustível” se não tiver necessidade de se deslocar.
- Apenas no caso da utilização para fins privados poderá haver uma relação mais forte com o preço: valores baixos “convidam” as pessoas a utilizar mais o veículo próprio em deslocações que poderiam fazer utilizando transportes coletivos e a ceder a uma certa tentação em fazer a tal “voltinha” ou viagem de fim-de-semana ou férias, que um preço alto dos combustíveis poderá ter feito adiar. Mas este segmento representa apenas uma pequena parte do consumo total.
Parece pois facilmente entendível porque é que o consumo de combustíveis rodoviários, embora marginalmente sensível ao preço, está muito mais correlacionado com o estado da economia. Há ainda outro fator bastante importante: não são um produto que as empresas e os particulares possam armazenar, comprando em época de preços baixos para consumir em períodos de alta. Neste caso podemos dizer que se trata de uma atividade “just in time”.
É por isso que a significativa baixa de preços que se verifica de Julho a esta parte, não levou, nem a uma corrida aos combustíveis, nem a uma melhoria significativa da rentabilidade deste negócio.
António Comprido
Secretário-geral da APETRO