O regresso do Lancia Stratos. Mais um para o Salão de Genebra
Já não é a primeira vez que é aventada a possibilidade de o mítico Lancia Stratos conhecer uma interpretação “revivalista”, ajustada aos tempos modernos. Mas nunca, como agora, tal projecto terá estado tão perto de tornar-se realidade, pelo menos a fazer fé na informação avançada pelo Automotive News Europe, que adianta que o Stratos do século XXI de produção vai mesmo ser revelado, na sua versão definitiva, já no início do próximo mês de Março, no Salão de Genebra.
O projecto estará, ao que tudo indica, a cargo da italiana Manifattura Automobili Torino (MAT), a mesma empresa que já havia desenvolvido, por exemplo, o SGC03C de competição para o milionário norte-americano James Glickenhaus, um apaixonado pela Ferrari e pelas corridas, com vários modelos únicos na sua garagem. Já o projecto do novo Stratos, datado de 2010, foi originalmente financiado por outro milionário, mas alemão – Michael Stoschek, CEO da Brose (um dos maiores fornecedores de componentes para a indústria automóvel) –, dando origem a um único exemplar de um automóvel totalmente funcional, em cujo desenvolvimento e afinação final participou o piloto português Tiago Monteiro, na pista de testes da Fiat em Ballocco, e que acabou por não ter o desejado desenvolvimento comercial devido às objecções levantadas então pela Ferrari, já que na sua base estava, justamente, um modelo da marca de Modena.
O elemento comum a ambos os projectos é Paolo Garella, CEO da MAT, e responsável pelo novo Stratos quando, à data, ainda trabalhava para a Pininfarina, enquanto responsável pelos projectos especiais do estúdio de design transalpino. O projectista italiano terá solicitado, e recebido, autorização de Michael Stoschek, e do seu filho Maximilian, para replicar o novo Stratos fazendo uso do design e das tecnologias utilizadas no protótipo cujo desenvolvimento financiaram. E estará mesmo em condições de avançar para a produção de uma série limitada a 25 exemplares do modelo, que, no essencial, mantém os elementos utilizados no protótipo de 2010.
Elementos esses que, de uma maneira geral, asseguram que o novo Stratos se mantém fiel ao conceito do inesquecível modelo original, desenhado por Bertone e Campeão Mundial de Ralis em 1974/75/76 – tanto estética como conceptualmente. Na prática, e de uma forma simplista, trata-se de um Ferrari 430 Scuderia modificado, embora Paolo Garella assegure que o seu desenvolvimento foi semelhante ao de um automóvel totalmente novo, contando, tal como o Stratos dos anos de 1970, com carroçaria em plástico, motor central, transmissão de competição, suspensões ajustáveis a todo o tipo de utilização (prevendo-se que em Genebra sejam exibidos os projectos das versões destinadas às corridas de GT e aos ralis), dois depósitos de combustível laterais montados no centro da estrutura, compartimentos integrados nas portas para alojar os capacetes do piloto e co-piloto, capots dianteiro e traseiro removíveis para facilitar as intervenções mecânicas (ou a assistência em competição) e acesso independente ao motor.
Fazendo uso, tal como o Stratos original, de diversos componentes provenientes de modelos de produção do Grupo FCA, o novo Stratos recorre, também, a uma gaiola de protecção tubular integrada, com elementos com 40 mm de diâmetro e 2,5 mm de espessura, soldada ao châssis e capaz de satisfazer as normas impostas pela FIA – atributo que contribuirá não só para uma segurança acrescida, como para um melhor desempenho dinâmico. Châssis esses que, por seu turno, proveniente que é do Ferrari 430 Scuderia, verá a sua distância entre eixos reduzida em 200 mm, para 2600 mm, o que conferirá ao novo Stratos uma extraordinária agilidade.
Por comparação com o modelo original, o novo Stratos conta também com uma secção dianteira mais curta, e com uma diferente colocação do radiador. Atrás do cockpit está o motor 4.3-V8, igualmente oriundo do Ferrari Scuderia, com potência aumentada de 510 cv para 540 cv graças às alterações operadas nos sistemas de admissão e escape, podendo chegar aos 600 cv, se o seu proprietário assim o entender, mediante algumas modificações adicionais, tanto mecânicas como ao nível da unidade de gestão electrónica. A caixa de seis velocidades mecânica é do tipo sequencial.
Para dispor de um dos 25 exemplares a construir do novo Stratos, será necessário respeitar duas condições: adquirir um Ferrari 430 Scuderia no mercado de usados, e dispor, no mínimo, de meio milhão de euros para que no mesmo sejam operadas as modificações necessárias a transformar o cavallino rampante no ambicionado Stratos (valor este que aumentará na razão directa do número de opções escolhidas). Montantes que não estão ao alcance de qualquer um, mas suficientemente apelativas para que a MAT afirme ter já, pelo menos, uma dúzia de interessados na sua novel criação: afinal, com 25 exemplares a produzir, está mais do que garantida a exclusividade, mesmo face ao 430 Scuderia (de que foram produzidas 1200 unidades entre 2007 e 2009) ou ao Stratos original, de que a Lancia terá fabricado cerca de 500 exemplares há quatro décadas atrás.