O risco das misturas
Confesso que a ideia de escrever sobre esta matéria me surgiu há dias quando participava num evento onde se assinalava o sucesso de uma iniciativa, se realçava a importância de constituir uma equipa empenhada e motivada e os parceiros certos na senda da inovação.
Num ambiente único e acolhedor misturavam-se pessoas de diferentes áreas com uma particularidade em comum, a paixão por máquinas, aliás, devidamente representadas por três belos exemplares.
Para mim, apenas faltou o forte e inconfundível “ruggito della macchina” provocado pelo sortudo dono de um pé treinado para tais ousadias, pois que aquilo que os meus olhos contemplavam era um vasto conjunto de pequenas obras de arte que na perfeição se juntam e articulam, para dar prazer só ao alcance de alguns.
No coração daquela máquina, tão digna de ser vista e apreciada que até tem direito a janela, flui, igual sangue em corpo humano, um lubrificante fabricado com as melhores e mais evoluídas bases e aditivos, cumprindo as mais rigorosas especificações do fabricante e aprovadas pelos mais conceituados e reconhecidos organismos internacionais que regem estas matérias.
As exigências colocadas pelos fabricantes dos equipamentos aos fabricantes dos lubrificantes são hoje em dia tão específicas, complexas e determinantes para o sucesso do seu produto, vida útil e imagem, que nada pode ser deixado ao acaso.
Vem esta nota a propósito da necessidade de se garantir rigorosamente o equilíbrio de todos os componentes e seus substitutos. Quando lubrificantes são misturados, este equilíbrio é muitas vezes perturbado, daí resultando potenciais problemas mecânicos que levam a uma redução da vida útil do equipamento ou, por vezes, a consequências mais catastróficas.
Os lubrificantes modernos são produtos sofisticados, formulados para atender as elevadas exigências de lubrificação dos mais modernos equipamentos. A mistura de lubrificantes ou a sua substituição “desatenta”, pode acarretar perigos para o equipamento, para o negócio e para a carteira. Em caso de dúvida, não se devem misturar diferentes lubrificantes e se isso ocorrer acidentalmente o problema deve ser imediatamente resolvido.
Na situação menos gravosa, poder-se-á dizer que a mistura de diferentes lubrificantes pode resultar numa degradação do seu desempenho. Misturar um óleo de motor sintético e um óleo de motor com base mineral, com a mesma graduação API para automóveis de passageiros, não irá danificar o motor, mas ir-se-ão perder as características de desempenho que se esperam de um lubrificante sintético. Na outra extremidade do espectro, a adição de óleo de turbina típico numa bomba hidráulica, poderia significar um desastre.
Para garantir que alguns lubrificantes podem ou não ser misturados ou são adequados ao equipamento em questão, não é preciso conhecer como é que os lubrificantes modernos são formulados, mas é forçosamente necessário conhecer os requisitos exigidos pelos fabricantes e cumpri-los rigorosamente. A maioria dos lubrificantes são uma mistura de óleos base e aditivos e são seleccionados pelas suas propriedades físicas e químicas, tais como: viscosidade, índice de viscosidade, estabilidade à oxidação, resistência ao fogo, biodegradabilidade, miscibilidade, capacidade de carga em lubrificação hidrodinâmica, capacidade de dissipar calor, detergência, dispersância, compatibilidade com vedantes, para citar apenas os mais comuns.
A maioria dos lubrificantes são formulados com bases minerais altamente refinadas, fracções de destilados pesados de petróleo bruto mais aditivos. Polialfaolefina (PAO), ésteres orgânicos, glicóis e ésteres de fosfato são exemplos de sintéticos que hoje em dia são utilizados para satisfazer as necessidades específicas.
Os lubrificantes fabricados com base sintética não devem ser misturados com outros de origem mineral, mesmo tendo sido projectados para a mesma aplicação. As excepções incluem alguns PAO e produtos à base de éster. Mas mesmo assim, a compatibilidade é muitas vezes dependente da concentração podendo formar depósitos devido à incompatibilidade dos aditivos ou compatibilidade dos vedantes resultando aplicações comprometidas. Alguns lubrificantes são incompatíveis devido a diferenças químicas dos aditivos que conduzem a reacções químicas indesejáveis.
A incompatibilidade é mais insidiosa porque não há alterações visíveis a ocorrer quando os produtos são misturados. O problema aparece apenas depois com o aparecimento de falhas ou perda de desempenho. Diferentes fabricantes de lubrificantes podem usar diferentes aditivos para realizar a mesma função, por isso, recomenda-se precaução. Verificar a recomendação do fabricante é fundamental.
Os incidentes de mistura de lubrificantes podem ocorrer sem qualquer evidência de negligência bastando, por exemplo, que a concessão que dá assistência ao nosso carro mude de fornecedor de lubrificante.
A mistura acidental ou a incorrecta utilização de óleos lubrificantes pode ser minimizada através de boas práticas – formação adequada, boa segregação e rotulagem, monitorização dos equipamentos e dos processos, atenção aos relatos dos clientes e utilizadores e uma supervisão cuidada, são algumas que devem ser implementadas e garantidas
Se no caso de lubrificantes novos, a sua mistura pode ter as consequências descritas acima, no caso dos resíduos produzidos, concretamente dos lubrificantes usados, aplica-se o mesmo princípio, devendo ser observados procedimentos rigorosos, não apenas porque através do cumprimento dos requisitos legais se evitam coimas mas, e sobretudo, porque as boas práticas permitem potenciar o seu aproveitamento e valorização, com todos os benefícios económicos e ambientais inerentes…..
……porque o óleo tem mais vidas.
Votos de um Bom Natal e de um óptimo 2015.
Aníbal Vicente
Gerente da Sogilub