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O sector automóvel em Portugal

Artigo
O sector automóvel em Portugal

Não poderia iniciar esta colaboração com a Absolute Motors sem falar da situação do mercado automóvel em Portugal. Este sector foi, a par do sector da construção civil e imobiliária, o mais afectado pela crise económica que, desde 2009, afectou a economia mundial e, muito particularmente, o nosso País.

Logo no início de 2009 tivemos uma queda de vendas acima de quarenta por cento o que, para qualquer actividade económica, constitui uma situação bastante grave. Logo aí, as empresas tiveram de se reestruturar, diminuindo as suas operações, concentrando actividades e reduzindo o número de colaboradores. Este ano de 2009 acabou por não ser tão negativo, como se esperava inicialmente, porque a ACAP viu aprovada pelo Governo uma proposta que passou pelo reforço dos valores de incentivo ao abate e redução da idade dos veículos a abater.

Quando o sector se encontrava a recuperar da recessão de 2009, e apenas três anos depois, o mercado bateu no fundo e atingiu o volume de vendas mais baixo desde 1985!

Esta situação foi, ainda, mais dramática no segmento de particulares onde a descida atingiu, em algumas situações, os sessenta por cento. Só para se ter um termo de comparação, neste ano e num total de vinte e sete países da União Europeia, verificou-se uma média de vendas de vinte e quatro veículos por mil habitantes. Em Portugal, essa média foi de nove veículos!

Como consequência desta queda de mercado, as receitas fiscais geradas pela venda de automóveis, caíram para metade no ano de 2012.

No segundo semestre de 2013, o mercado começou a dar sinais positivos face ao ano anterior mas, ainda assim, muito abaixo dos valores normais para o mercado automóvel num país com a dimensão de Portugal. Só para se ter uma noção da realidade do nosso mercado, no ano de 2013 as vendas tiveram uma queda de cinquenta e dois por cento face ao ano de 2010!

Trata-se, portanto, de uma recuperação lenta mas, todavia, positiva. Em nossa opinião, serão precisos vários anos para que o mercado automóvel possa atingir uma verdadeira retoma.

Muitos analistas defenderam, na nossa opinião erradamente, que a retoma da economia nacional deverá ser feita, exclusivamente, pelo aumento das exportações. Na mesma linha defendem que o aumento do consumo privado apenas agravará o desequilíbrio da nossa balança comercial. Nada de mais errado!

Sendo, naturalmente, importante o incremento das exportações é, todavia, fundamental que exista uma dinâmica do consumo privado para que exista uma recuperação da nossa economia.

É, aliás, sintomático que a evolução da economia, em 2013, recuou menos do que o indicado pela última previsão do Governo. E, segundo as próprias entidades oficiais, para esta correção favorável não só contribuiu um desempenho, melhor do que esperado da balança externa, mas também do consumo privado, designadamente das vendas de automóveis! Ora aí está o reconhecimento daquilo que temos defendido.

Aliás, na execução orçamental de janeiro, o Imposto sobre Veículos foi o que viu a receita ter o maior crescimento (29,3%). Assim se confirma a tese de que o aumento de vendas de veículos ou, assim como de outros bens de consumo duradouro, é extremamente positivo para a economia do País.

Para 2014, não podemos de modo algum falar de uma previsão optimista, do comportamento do mercado, mas antes da continuação de uma evolução positiva iniciada na segunda metade do ano passado. Aliás, vários indicadores económicos apontam nesse sentido, designadamente os indicadores de confiança das famílias e das empresas ou a ligeira evolução positiva do consumo privado.

Finalmente, e apesar destes sinais positivos não nos podemos alhear que temos uma elevada taxa de desemprego, que a Comissão Europeia estima possa atingir os 16,8 por cento no final do ano, assim como o facto de a recuperação em Portugal continuar vulnerável a riscos externos e ao alto nível do endividamento quer no sector público, quer privado, o que, como referimos, parece indiciar que o caminho para se sair da crise poderá ser longo e difícil.

Hélder Pedro
Secretário-geral da ACAP

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