O Street Racing
Há fenómenos criminais intimamente ligados aos grandes centros urbanos. A Polícia de Segurança Pública (PSP) sendo a força de segurança que se encontra maioritariamente nas grandes metrópoles de Portugal, tem a seu cargo a grande fatia da população portuguesa e, à boleia, alguns fenómenos de crime urbano. Um destes fenómenos mais falados nos últimos anos prende-se com as denominadas corridas ilegais, o termo mediatizado street racing (à semelhança do estrangeirismo carjacking para designar o roubo de viaturas).
O street racing consiste em levar a cabo corridas ilegais, ultrapassando os limites de velocidade legalmente estabelecidos e muitas vezes gerando negócio e lucro (apostas) com as corridas. Num dado espaço previamente combinado, com determinadas condições estradais é combinada a hora e as condições, o que também se verifica em blogs e websites específicos para esta comunicação. Os carros alinham-se lado a lado e vão aumentando a velocidade em corrida, muitas vezes duplicando o limite máximo de 120 km/h e até mesmo atingindo a fasquia dos 300 km/h. Curioso notar o paralelismo com os filmes da saga “Fast & Furious”, captando um público alvo específico de adolescentes e jovens adultos e mostrando o negócio em torno deste fenómeno, quer seja nos Estados Unidos da América ou no fenómeno em torno do drift em Tóquio.
É difícil estabelecer um nexo de causalidade para este fenómeno do street racing. A adrenalina, o sentimento de pertença a um grupo/dinâmica social (alguns dos corredores são adolescentes) ou por outro lado o individualismo, a tentação do fruto proibido ser o mais apetecido, a sensação de liberdade, a ânsia de ultrapassar os limites legais e eventualmente poder lucrar com isso, justificando o investimento feito na potência da viatura e vivendo isso na primeira pessoa, as competições entre as oficinas e marcas que competem, entre outros motivos.
Em Portugal, locais como o eixo Norte-Sul, a A16, a A1 e A2, a A4 ou as auto-estradas de Faro sempre foram falados como locais para a prática destas corridas com pontos de encontro, normalmente nas áreas de serviço dos postos de abastecimento de combustível. Mas o mais badalado foi a ponte Vasco da Gama, uma área que era um “hotspot” internacional para a disputa de corridas ilegais nas quais intervinham veículos alterados, muitos deles munidos com botijas para funcionar com óxido nitroso (o famoso “nitro”) para assim terem mais potência. Estes desafios nocturnos envolviam portugueses e estrangeiros (Itália, Espanha ou Roménia eram presença habitual) e chegavam mesmo a apostar “livrete contra livrete”, ou seja, se perdessem entregavam o seu carro ao vencedor.
No entanto, a PSP garante que o fenómeno está a diminuir desde 2006/2010 (altura em que foi mais preocupante e badalado). Algumas medidas de prevenção rodoviária implementadas, aliadas a uma actuação policial em sítios nevrálgicos com o radar ProVida e antes de as corridas terem início e também uma estratégia de encaminhamento para exames psicológicos para além das coimas aplicadas, determinando se a pessoa em questão estava apta para uma condução cívica e defensiva. Também para esta diminuição contribuem os open days no Autódromo Internacional do Algarve, as provas de arranques e de drift em pistas confinadas para o efeito por Lisboa ou Setúbal, retirando estes fenómenos de condução perigosa e corridas ilegais das auto-estradas, estradas nacionais ou mesmo em qualquer sítio onde haja rectas extensas na faixa de rodagem, onde também circulam pacatamente cidadãos na via de trânsito mais à direita, alheios ao perigo e cumprindo o Código da Estrada. Eles e as suas famílias, leia-se.
João Moura
Chefe do Núcleo de Protocolo, Marketing e Assessoria Técnica do Gabinete de Imprensa e Relações Públicas da PSP