Os relógios trocados no filme Rush
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Quem conseguiu descortinar os relógios dos campeões em Rush? Se ainda não viram o melhor filme de sempre sobre desportos motorizados, aqui fica um delicioso pormenor relojoeiro que passa por ser o único erro de casting. E se já viram o filme, vale a pena ir vê-lo outra vez para tentar descobrir onde e quando aparecem o Carrera em ouro e o Silverstone em aço que o museu da TAG Heuer emprestou à produção.
Sob a direcção de Ron Howard e guião de Peter Morgan (ambos já galardoados com Óscares), Rush tem dado muito que falar nestas últimas semanas – não só porque muitos aficionados o consideram o melhor filme de sempre tendo por pano de fundo a Fórmula 1 mas também porque o seu interesse ultrapassa em muito o desporto motorizado e tem recordado uma enorme rivalidade que entretanto ficou algo esquecida para o público em geral. E depois há o pormenor dos relógios de época no pulso dos protagonistas: um Carrera em ouro e um Silverstone azul.
A TAG Heuer ouviu rumores de que estava a ser preparada uma grande produção cinematográfica tendo por pano de fundo a Formula 1 dos anos 70 e, devido à sua presença incontornável como cronometrista oficial da Ferrari e não oficial de outras escuderias da altura, pensou logo em estabelecer contacto com os responsáveis do filme. Não foi necessário: a produção tomou a iniciativa em primeiro lugar, à semelhança do que já havia acontecido no filme de 1970 sobre as 24 Horas de Le Mans no qual Steve McQueen usou um cronógrafo Monaco e o fato de corrida do piloto suíço Jo Siffert que tinha bordado o logótipo da Heuer (que passaria a ser denominada TAG Heuer a partir de 1985).
Foram estabelecidos contactos entre as duas partes e, quando o realizador Ron Howard visitou o Grande Prémio do Mónaco (patrocinado pela TAG Heuer), já estava tudo formalizado. O Museu da TAG Heuer, através da sua directora Marie Ansel, disponibilizou uma lista de dez artigos que incluiu quatro cronógrafos mecânicos de mão e seis cronógrafos de pulso – um Carrera em ouro, um Silverstone azul, um Silverstone castanho, um Monaco, um Manhattan e um Chronosplit Ferrari.
Curiosamente, o Carrera em ouro estava pensado para o actor que fazia de Niki Lauda (o alemão Daniel Brühl) e um dos Silverstones para o personagem de James Hunt (interpretado pelo australiano Chris Hemsworth). Alguém na produção deverá ter achado intuitivamente que o Carrera em ouro tinha mais a ver com a personalidade exuberante do louro playboy britânico e houve uma troca, com o Silverstone a ir parar ao pulso do metódico austríaco.
O Carrera em ouro estava destinado a Niki Lauda porque o lendário austríaco era piloto da Ferrari e, quando a Heuer se tornou cronometrista oficial da Scuderia, Jack Heuer entregou pessoalmente a todos os pilotos da marca um Carrera em ouro com o respectivo nome e grupo sanguíneo gravados no fundo. Ainda hoje aquele que é o presidente honorário da marca (e descendente do fundador Édouard Heuer, em 1860) refere esse particular modelo Carrera em ouro como sendo o seu relógio preferido na história da companhia relojoeira fundada em St. Imier e actualmente baseada em La Chaux-de-Fonds… por óbvias razões afectivas, já que esteve pessoalmente ligado a esses pilotos que negociavam com a morte a cada curva nesses tempos épicos da Fórmula 1.
Jack Heuer tornou-se amigo pessoal de todos eles e alguns não sobreviveram ao enorme perigo que caracterizava as corridas da altura e que está tão bem caracterizado no filme; Niki Lauda escapou por pouco, como se pode constatar em Rush; Clay Ragazzoni ficaria confinado a uma cadeira de rodas mais tarde, já na década de 80. Na época de 1976 abrangida pela película, são ambos colegas de equipa e foi precisamente na presença de Regazzoni, um suíço, que Lauda assinou contrato com Jack Heuer para usar relógios e envergar o logótipo da marca no macacão.
Texto: Miguel Seabra
