A qualidade dos combustíveis
Um tema recorrente na discussão sobre os méritos e deméritos dos combustíveis, prende-se com a sua qualidade. Para alguns não há quaisquer diferenças, para outros, elas existem e podem ter um impacte significativo na manutenção e no rendimento dos motores. O grande problema, como em quase todas as discussões que gravitam à volta dos combustíveis rodoviários, é que a discussão é na maior parte das vezes feita com argumentos emocionais, perceções e raramente fundamentada em estudos técnico-científicos que corroborem as opiniões emitidas.
Vejamos alguns dos argumentos dos que dizem que não há diferenças. A primeira é que toda a gasolina e gasóleo consumidos no mercado português têm a mesma origem: as refinarias da Galp Energia. A segunda é a de que se trata de um produto sujeito a normas técnicas apertadas e, como tal, não poderá haver diferenciação.
Em contrapartida os contra-argumentos, maioritariamente veiculados pelas Companhias Petrolíferas, é que os seus produtos são tratados depois da saída da refinaria com vista a melhorar as suas qualidades. Para além disso invocam os enormes orçamentos na área de I&D e nos testes no terreno da competição automóvel onde também são investidas somas significativas.
Quem tem então razão? Paradoxalmente ambos. Porquê?
Na verdade, os combustíveis comercializados em Portugal têm quase todos origem nas refinarias nacionais, embora haja alguma importação. Mas o facto de haver normas europeias e nacionais que definem a sua especificação, faz com que à saída da refinaria os produtos garantam essa especificação e não apresentem diferenças. Portanto, se ele não sofrer qualquer tratamento posterior, a sua qualidade é a mesma, independentemente da marca que o comercializa.
Contudo, muitas das empresas petrolíferas transportam para os produtos que comercializam, os ensinamentos recolhidos pelas suas atividades de I&D complementadas com os testes no terreno, nomeadamente, como já referi, nas competições automóvel. Como é que isso é feito, se há saída das refinarias os produtos são os mesmos? Muito simplesmente juntando aditivos em proporções muito bem definidas aos produtos, antes de serem enviados para os postos de combustível. Geralmente essa operação é feita quando os camiões cisterna vão às instalações, através de sistemas que injetam os aditivos nas variedades e quantidades apropriadas, sendo o sistema comandado por software propriedade de cada marca.
Parece pois claro, que há diferenças e que teoricamente qualquer operador pode proceder a este enriquecimento dos combustíveis, já que há fornecedores de aditivos que os comercializam. Contudo, existe uma grande diferença entre as companhias petrolíferas e os operadores que só entram na última fase da cadeia de valor: a venda dos produtos nos seus postos. É que os primeiros estão no seu core business e a melhoria dos combustíveis é uma preocupação permanente. Os outros limitam-se a comercializar os produtos sem qualquer capacidade tecnológica para investigar e inovar. Ambos têm o seu papel no mercado e compete aos consumidores fazer as escolhas que bem entenderem. Daí a dizer-se que é tudo igual, vai uma enorme diferença.
António Compruido
Secretário-geral da APETRO