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Quando o telefone toca… todo o meu corpo estremece!

Artigo
Quando o telefone toca… todo o meu corpo estremece!

Philippe Bianchi está há já mais de uma semana no Japão, numa cidadezinha pequenina junto a Suzuka, onde ninguém fala inglês, muito menos francês; onde, com os outros dois filhos e a esposa, assiste à luta incrível que o seu filho Jules trava com a vida.

Jules é forte e está na corrida mais importante da sua carreira. Jules, sobrinho de um outro grande campeão francês dos sport protótipos, dos carros de estilo Le Mans, como se costumava dizer antigamente, estava, possivelmente, a fazer um GP do Japão muito especial: havia a grande hipótese de se vir a tornar o companheiro de Vettel em 2015, na Scuderia Ferrari, pois era um elemento importante no grupo de pilotos que os italianos tinham debaixo de olho e apoiavam tanto noutras categorias, como também na própria F1. No entanto, o destino não quiz,  e não me parece que jamais venha a querer, que o francês viesse a ser uma realidade em Maranello para o próximo ano. É isto, por muito azar e por muita negligência também.

Chovia a potes em Suzuka, o que é muito normal nesta época do ano. As abertas não são senão passageiras, e no meeting room de Charles Whitting os comissários desportivos da prova tinham o apoio de Mika Salo, o finlandês ex-Ferrari de F1 que correu muitos anos no Japão e conhecia, ou deveria conhecer perfeitamente, as características da meteo japonesa.

A partida foi dada com o Pace Car e a visibilidade era nula. Depois de umas voltas de adaptação, ala que se faz tarde e a corrida a sério começa. Mais tarde, as condições pioraram, já se tinha passado a barreira dos 75 por cento (o que dava a totalidade dos pontos para a classificação dos dez primeiros), portanto, a assim chamada verdade desportiva não iria ser prejudicada.

A visibilidade era bem menor do que à partida, a chuva mais intensa e a luminosidade menor… Apesar de tudo isto, a corrida não foi suspensa, não foi dada a bandeira vermelha e deixou-se andar um pelotão de pilotos, onde alguns gritavam pela suspensão da prova nos microfones dos seus rádios. Sutil despista-se ao não se aperceber de um “riacho”, um de tantos que atravessavam a pista, possivelmente por não se aperceber também da diferença de cor do asfalto. Bate nos rails e há que tirar o carro daquela posição. Entra um trator para o lado interno da pista, com os carros em corrida aberta, só com as bandeiras amarelas e duas cruzadas um pouco antes do local do acidente. Para os responsáveis (?) da corrida, tudo bem.

Na box de Bianchi a equipa Marussia dá instruções ao seu piloto para não levantar o pé e não se deixar surpreender pelo piloto adversário da Caterham, o seu rival directo. Jules Bianchi, logicamente, não levanta o pé o suficiente para poder reagir a qualquer contrariedade. Infelizmente… escorrega exactamente no mesmo lugar de Sutil, só que, desta vez, havia muito mais água no asfalto, o carro entra em acuaplanning e bate, acelerado ainda pela parte de relva molhada, a cerca de 210 km/h, no trator que tinha o carro de Sutil pendurado no guindaste.

Jules não teve a menor chance de evitar o que quer que fosse, não pôde tão pouco evitar um embate que lhe provocou danos cerebrais que são irreparáveis e que o irão deixar deficiente para o resto de uma vida que começou há 25 anos. Isto se o telefone não tocar e o Philippe tiver de atender. Mas, que Deus me perdoe, possivelmente para todos, para o Jules e para a sua família, se ele não conseguir um milagre que todos esperam, mas ninguém acredita, quase será melhor que o telefone toque naquela pequena cidadezinha japonesa.

Domingos Piedade

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