Raidillon: acelerar em Spa-Francorchamps
Há muitas companhias relojoeiras associadas ao desporto automóvel, sendo a esmagadora maioria delas suíça. Uma das excepções é a Raidillon, marca belga de nicho inspirada no universo automobilístico e na lenda do circuito belga de Spa-Francorchamps.
A associação entre relógios e automóveis é natural e remonta ao final do século XIX, com o recurso das escuderias às manufacturas relojoeiras para a concepção de instrumentação de bordo. Sendo perfeitos exemplos de engenharia mecânica, relógios e automóveis apresentam muitos pontos de contacto e evoluíram paralelamente ao longo do século XX – sobretudo a partir do momento em que a associação entre os dois universos passou também a ter fins de marketing, com grandes marcas a estabelecerem parcerias entre si através de patrocínios ou modelos em edição limitada. E depois há as marcas de nicho, fundadas maioritariamente por aficionados das corridas desejosos de conjugarem as suas paixões.
Uma dessas marcas de nicho nascidas da inspiração automobilística é a Raidillon, detentora de um nome bem reconhecível no mundo do desporto motorizado: trata-se da mais famosa curva do lendário circuito belga de Spa-Francorchamps, considerado um dos mais bonitos do planeta.
Sim, a Raidillon é uma marca belga e das poucas de assinalável qualidade a não ser de origem estritamente suíça, mas tanto a concepção das caixas e dos mecanismos como a montagem são feitas em solo helvético – daí o mote ‘Swiss Powered, Race Minded’. Já as excelentes correias de pele e o design são belgas.
A história da Raidillon começa com a necessidade do seu fundador, distribuidor de marcas suíças de prestígio na Bélgica e grande adepto de automobilismo, em fazer algo que fosse mais de encontro aos seus desejos. Bernard Julémont fundou a Raidillon em 2001 (a apresentação oficial foi, claro, em Spa-Francorchamps) com um DNA declaradamente desportivo e inspiração nos tempos lendários das corridas automóveis, sobretudo na década de 1950; nos últimos anos, sob a batuta de Fabien de Schaetzen como CEO.
A Raidillon é mais do que uma marca de nicho; é uma ‘boutique brand’ com produção limitada (55 exemplares de cada modelo, número que tem a ver com a quantidade máxima de viaturas permitida nas grandes provas oficiais) comercializada na sua loja própria na Galerie de la Reine, em Bruxelas, e com alguma adesão internacional através de uma distribuição criteriosa ou compras avulso por parte de aficionados do desporto motorizado que se identificam com o imaginário criado à sua volta. E os preços, maioritariamente entre os 2.000 e os 5.000 euros, são bem razoáveis – não só tendo em conta a concorrência mas também tendo em conta a qualidade de design, de construção e da mecânica assente em calibres automáticos ETA de reconhecida fiabilidade: o 2824 e o Valjoux 7750.
Considerando a tiragem limitada e exclusiva, o catálogo da Raidillon até se apresenta bem completo. Há oito diferentes linhas: Casual Friday, Design, Night Panel, Timeless, Cruise, Havana, Racing e Phil Hill; cada qual tem características próprias, mas sente-se uma consistência transversal a todas elas – prova evidente de maturidade e bom gosto. A arquitectura das caixas redondas é neo-vintage e exala um estilo casual-desportivo; os mostradores apresentam toda a conotação automobilística nos mais pequenos detalhes e também nas cores – e há para todos os gostos, desde mostradores que replicam fatos de corrida ou os assentos até aos que mostram o indicador de reserva de corda como se fosse o indicador de gasolina.
E depois há os acessórios complementares em pele; sacos com o 55 em evidência, luvas de condução, botas vintage. Sem esquecer a alargada selecção de correias de pele cuidadosamente selecionada e manufacturada na Bélgica, com os pespontos em evidência e versões ‘sport’ perfuradas.
O grande destaque das novidades de 2014 apresentadas na feira de Baselworld vai para o modelo Circuit de Spa-Francorchamps, declinado em quatro variantes (dois modelos de três ponteiros, dois cronógrafos) com a referencia das 12 curvas de Spa-Francorchamps nas 12 horas do mostrador (ST, Stavelot; LS, la Source; ER, Eau Rouge; LC, Les Combes, e pelo circuito adiante) e as respectivas velocidades; até são referenciadas as zonas DRS (onde os pilotos podem abrir o aileron traseiro para ultrapassagem) do célebre circuito das Ardenas!
Trata-se de um dos modelos que mais gosto na colecção da Raidillon, mas há mais: aprecio particularmente os mostradores listados na linha Racing, o classicismo dos modelos Timeless, as cores quentes da linha Havana, a sofisticação negra dos Night Panel e o despretensiosismo das versões Casual Friday. Embora não seja fanático das corridas nem de automobilismo, gosto dos códigos estéticos da marca belga – aparentados com vários modelos da TAG Heuer no período áureo da Heuer (sobretudo de 1960 a 1975) de que sou aficionado, como os Autavia ou os Carrera. E o catálogo da marca está pejado de imagens históricas de Spa-Francorchamps. A descobrir em www.raidillon.com!
Miguel Seabra
Espiral do Tempo