Renault Clio Sport Tourer Luxe TCe 90 cv

Poderão ser muitos os motivos que levam alguém a decidir-se pela variante carrinha de um utilitário na hora de adquirir um automóvel novo. Entre eles estarão certamente os consumos comedidos e o espaço acrescido para mais alguma bagagem, mas também se quererá juntar uma imagem apelativa, um bom conteúdo tecnológico e, claro, um preço agradável. A combinação vencedora será aquela que conseguir conjugar, da melhor forma, razão e emoção.

É com este propósito que a Renault lança a segunda geração do Clio Sport Tourer e põe ao seu dispor uma motorização de 1,0 litros e 90 cv, que levou a chancela eco2 da marca francesa, garante de menor poluição e de consumos reduzidos. Baseada, claro, na plataforma do Clio, esta carrinha adopta a nova identidade visual da marca do losango, o que lhe confere um inegável apelo estético. Mas dos pilares A para trás, tudo muda face ao hatchback, da linha descendente do tejadilho ao estilo shooting break aos grupos ópticos traseiros, que têm um desenho específico, e ao portão da bagageira, de maiores dimensões. E já que à mala nos referimos, refira-se que este oferece um óptimo acesso, permitindo facilmente acomodar a carga, num total de 443 litros, um valor acima da maioria da concorrência no segmento, e que pode chegar aos 1380 litros através do rebatimento do banco traseiro, na proporção 60/40.

Na dianteira do Clio ST, as luzes diurnas LED inseridas na grelha são um pormenor muito agradável

Com mais 21 cm de comprimento que o modelo de 5 portas que lhe dá o nome, seria de esperar que não fosse só a bagageira a beneficiar deste aumento de espaço e que também o habitáculo ficasse mais desafogado. Tal não é o caso, pois o habitáculo replica na perfeição o encontrado no Clio. Apesar de o espaço para os joelhos dos ocupantes do banco traseiro estar ligeiramente maior, na hora de os três ocupantes ocuparem os seus lugares, o espaço é notoriamente apertado. É pena, porque, no restante, o habitáculo apresenta um bom nível, tanto dos materais – que são muito melhores do que os da geração transacta, mas ainda pecam por alguns plásticos mais duros – como da própria posição de condução, a que chegamos com facilidade e que nos coloca à mão todos os comandos necessários.

E é aqui que o Clio ST se destaca da concorrência. Tudo por “culpa” do sistema R-Link, que coloca na ponta dos dedos todas as regulações necessárias do sistema multimédia ou de navegação, e mesmo o painel eco2, que, tal como o nome indica, ajuda a manter os consumos o mais baixos possível, atribuindo uma classificação percentual à condução praticada consoante se seja mais ou menos “ecológico” (durante o nosso teste, o autor destas linhas conseguiu chegar aos 94%), o que se traduz no crescimento de uma folha verde no ecrã.

A posição de condução neste Clio ST é muito agradável e deixa “à mão” todos os comandos, incluindo os do sistema R-Link, um opcional obrigatório

Mas o que mais agradou no sistema R-Link, além da ligação à Internet e da disponibilização de uma loja de aplicações que podem ser descarregadas para o automóvel, foi a aplicação R-Sound Effect, já integrada no sistema, que simula o som do motor de vários veículos, permitindo ao condutor escolher entre várias opções, como, por exemplo, uma moto, um Clio RS ou mesmo… uma nave espacial!

Apesar de poder soar como tal, este Clio ST não é um RS. É verdade que o motor de 898 cc e 90 cv que equipa esta carrinha garante consumos comedidos, como o provam os 5,4 l/100 km de média ponderada alcançada no nosso teste, ou os 830 km de autonomia média que se pode esperar por cada depósito de combustível. Também é verdade que é um motor honesto, capaz de rolar em estrada aberta sem grande dificuldade, mas percebe-se alguma falta de fôlego – principalmente quando tem todos os lugares preenchidos e a bagageira cheia – quando se pretende assumir um ritmo mais emotivo e menos racional, o que obriga a utilizar mais a caixa manual de cinco relações que o equipa. Esta tem um funcionamento eficaz e fluido, não comprometendo em nada a tarefa de praticar uma condução mais empenhada.

Apesar de não deslumbrar, o comportamento dinâmico não merece reparos e o conforto em rolamento é de bom nível

Quanto ao comportamento dinâmico, voltamos à nota positiva. Apesar de maior do que na anterior geração, a distância entre eixos do Clio ST é igual à do hatchback, factor que, a juntar a uma suspensão traseira mais rígida (para lidar com o peso acrescido de uma bagageira com maior capacidade), faz com que o comportamento dinâmico seja idêntico ao Clio “normal”. É competente sem deslumbrar e o rolamento da carroçaria nas curvas mais apertadas não compromete. Aliás, o conforto de rolamento está em alta neste modelo, tal como o feedback que recebemos do volante acerca do que se passa na estrada, por baixo das jantes de 17”, revestidas com pneus Michelin Energy Saver, de medida 195/55.

Proposto no mercado nacional por €17 300 (a que se juntam cerca de €1000 em opcionais no caso da unidade ensaiada), o Renault Clio Sport Tourer não é, ao contrário da frase com que a Renault apresenta este modelo, a “perfeita união da emoção e da razão”. A razão sobrepõe-se claramente à emoção na altura de eleger este Clio ST como o automóvel a adquirir. Não desilude, é certo, oferece bons consumos de combustível e tem algumas características bem interessantes, mas não é um automóvel para o qual nos dirijamos todas as manhãs com um sorriso nos lábios… mesmo que estejamos a sair para o emprego.