Sonhos ou pesadelos?
É já secular a diferença de capacidade financeira, económica, social e criativa, portanto de desenvolvimento, entre os vários países da Europa, isto é, entre o Norte e do Sul da Europa.
Na base dessas divergentes evoluções e capacidades estão diferenças culturais, climáticas, sociais e há quem afirme também religiosas.
Pessoalmente, sendo cristão «certificado» (batizado, comunhão solene, catequista quando jovem, casado pela igreja, e devoto a Fátima) concordo que o domínio do clero durante séculos nas sociedades do sul, fomentaram o conservadorismo e a inação e por outro lado, oposição à diferença, às minorias inovadoras e a todos os movimentos «underground» que noutros países (designadamente do Norte) contribuíram para uma sociedade mais evoluída e generosa.
Concordo, porque no essencial, cultura e esclarecimento resultam em coesão e isso não interessava ao poder de monarquias retrógradas, então essencialmente educadas pelo clero e portanto dominadas por estes. Numa palavra ao poder do próprio clero.
Há um provérbio chinês elucidativo: «Se queres Um ano de prosperidade, cultiva trigo; Se queres dez anos de prosperidade cultiva árvores, mas se queres Cem anos de prosperidade, cultiva pessoas»
O nível cultural e formativo de um povo, torna-o mais respeitador do individuo próximo, torna-o mais informado e por isso esclarecido e responsável. Torna-o também mais produtivo, participativo e empreendedor.
Com o evento e desenvolvimento geográfico das democracias modernas, também (com raríssimas exceções algumas muito localizadas) a dependência do clero católico foi-se reduzindo e essas sociedades são hoje bem mais desenvolvidas e promissoras que antes, mesmo no Sul.
No entanto e sobretudo nas democracias mais jovens, aquele obscurantismo foi substituído por outro, de origem diferente mas de igual natureza: a da classe política dirigente (partidarizada) e pelo ruído de desinformação e contrainformação por eles gerada, propagada nos media minuto a minuto.
Em Portugal, os nossos políticos, homens em geral fracos e de costas às avessas – não porque não entendam as questões centrais mas porque privilegiam o serviço às suas clientelas partidárias – esquecem-se dos seus concidadãos e dos desígnios nacionais que deveriam prosseguir, em prol de todos nós enquanto Nação, a médio e longo prazos.
Veja-se como exemplo a pobreza das conclusões do último Conselho de Estado. Mais uma vez a intenção era boa, mas os resultados prometem simplesmente «nada».
Por estas razões – fraqueza de caráter e clientelismos partidários dos políticos no ativo – eles não conseguem (diria antes que não querem!) um consenso sobre um Projeto para Portugal a 10 ou 20 anos, como outros países (por exemplo a Norte) periodicamente desenham.
«Se houver um General forte, não haverá soldados fracos» diz outro sábio provérbio chinês. Atualmente temos jovens melhor formados que nunca, temos uma capacidade de execução e de trabalho exemplares relativamente a outros povos, temos uma cultura sólida e secular, mas falta-nos o tal «General» ou um «Estado-Maior de Generais», coesos em torno do melhor para a Nação e não do melhor para as suas tribos.
Sem uma Visão e um projeto para o País, os nossos melhores talentos (jovens ou não) continuarão a abandonar estas paragens, a fortalecer outras, com as consequências imagináveis a poucos anos de vista, para este povo sofrido.
Atualmente, a fraqueza e pobreza geral destes nossos dirigentes, leva-os a agir em função dos ciclos eleitorais e não em função de um projeto, de uma Visão de compromisso partilhada. Assim fora e qualquer que fosse a cor do Governo, os vetores fundamentais dos desígnios relevantes seriam respeitados, como disse, em prol de algo maior, nobre e soberano: os Portugueses.
Meus caros políticos portugueses, um último sábio provérbio, também chinês que, na minha modesta opinião, reflete onde estamos, de ciclo em ciclo cumulativamente há pelo menos duas décadas: «Visão sem ação é um sonho. Ação sem Visão é um Pesadelo!».
Mário Lopes
Atlas Seguros
(Mariojglopes@gmail.com)