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TAG Heuer Monza: um clássico moderno

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TAG Heuer Monza: um clássico moderno

A TAG Heuer apresentou na passada primavera um cronógrafo inspirado no seu passado que rapidamente integrou as listas dos modelos mais cobiçados num ano em que cumpre o seu 40º aniversário: o Monza, recentemente capa da revista portuguesa da especialidade Espiral do Tempo, e logo depois galardoado com o prémio Revival nos chamados Óscares da Relojoaria – o Grand Prix d’Horlogerie de Genève. O Monza original surgiu há 40 anos, na linhagem de grandes cronógrafos lançados na profícua era em que Jack Heuer liderou a marca fundada pelo seu tetravô Edouard – mas numa altura em que a indústria relojoeira suíça estava já a mergulhar na crise provocada pela invasão do quartzo asiático.

Ao longo da década e meia anterior, desde 1962 e até ao advento do Monza, em 1976, foram lançados vários ícones que posteriormente ganharam uma nova vida enquanto reedições ou reinterpretações. O Carrera foi a primeira reedição, em 1996, enquanto o Monaco surgiu como reinterpretação em 1998. Fortemente ligada a uma imagem moderna a partir da fusão entre a TAG (Techniques d’Avant Garde) e a Heuer, em 1985, a TAG Heuer surpreendeu com essa iniciativa rétro, que implicava um regresso aos clássicos, e não só continuou nessa senda como ainda foi imitada pela concorrência. Hoje em dia, praticamente todas as marcas com um certo historial revisitaram o passado em edições muito do agrado dos aficionados.

E os cronógrafos produzidos sob a égide de Jack Heuer têm mesmo muitos seguidores. “Os anos 60 e 70 foram décadas muito criativas no sector dos cronógrafos – estamos a falar da época em que surgiu o cronógrafo automático, por isso o negócio nesse sector começou novamente a crescer e o cronógrafo voltou a ser muito popular a partir do final dos anos 60”, confessou-me Jack Heuer antes da merecida reforma, já depois de cumprido o seu 80º aniversário. As décadas de 60 e 70 foram também um período dourado para o desporto automóvel; sendo um apaixonado pelas competições automobilísticas, Jack Heuer não perdeu a oportunidade de associar-se a corridas míticas ou a pilotos famosos – e se o Autavia, em 1962, recuperava a designação de um antigo instrumento de bordo da marca (o nome é a contração de ‘Automobilismo’ com ‘Aviação’), a partir do Carrera, em 1963, todos os cronógrafos dessa época passaram a ser baptizados com o nome de lendários circuitos/provas.

Entre as reedições posteriores aos ‘inaugurais’ Carrera e Monaco, o Autavia de 2003 e o Silverstone de 2010 eram versões muito próximas dos respetivos originais. No caso específico do Monza, as reinterpretações livres que surgiram primeiramente em 2000 e posteriormente a de 2011 não tinham qualquer ligação estética ao Monza original de meados da década de 70 que integrou a tal corrente de grandes cronógrafos lançados por Jack Heuer com a nomenclatura de circuitos lendários. Essas reedições adotavam uma caixa carré cambré inspirada num cronógrafo monopulsante dos anos 30 que até pareciam mais próximas do Camaro do que propriamente do ‘verdadeiro’ Monza lançado em 1976 para comemorar o triunfo da Ferrari no Campeonato do Mundo de Construtores de Formula 1 em 1975, graças a Niki Lauda e Clay Regazzoni.

 

O Monza original, de 1976

O Monza original, de 1976

A comemoração era devida: a Ferrari não ganhava o título de Construtores desde 1964. Jack Heuer teve a visão de se associar à Scuderia como cronometrista oficial em 1971, nos primórdios do sponsoring desportivo, e ambos os pilotos eram embaixadores da marca. O temperamental Regazzoni, um suíço-italiano, era mais adepto do Silverstone; o frio austríaco Lauda (que em 1975 ganhou o primeiro dos seus três títulos mundiais de piloto) usava mais o Carrera da geração lançada em 1969, com caixa em C e coroa à esquerda que indicava imediatamente que o calibre utilizado era o automático Chronomatic. Na verdade, o Monza de 1976 não era muito mais do que um Carrera em aço revestido com tratamento preto PVD.

Enzo Ferrari e Jack Heuer, em 1974

Enzo Ferrari e Jack Heuer, em 1974

Quarenta anos volvidos, a TAG Heuer apresentou finalmente um cronógrafo cujo esquema cromático remete diretamente para o cobiçado original de 1976 – embora com uma arquitetura que aproveita o formato carré cambré do ‘outro’ Monza do início do milénio num tamanho maior. Ou seja, é uma reedição que talvez devesse ser mais considerada uma reinterpretação, um cronógrafo de caráter vincadamente desportivo que evoca imediatamente uma conotação motorizada com a caixa e o mostrador pretos a contrastarem fortemente com o vermelho e o branco repartidos entre os ponteiros e o grafismo fiel ao modelo inaugural – sendo que a parte luminescente apresenta um branco ‘patinado’ para acentuar o espírito retro.

A caixa do Monza é grande sem ser sobredimensionada (42mm) e construída a partir de uma base de titânio de grau 5 (titânio de melhor qualidade que pode ser polido) escurecida com carbide de titânio (que torna a superfície imune aos riscos, ao contrário do PVD normal), mas a coroa e os botões apresentam-se em aço ‘natural’, tal como no original, embora numa disposição tradicional que não segue a da coroa à esquerda exigida pelo calibre Chronomatic em 1976. A disposição do mostrador é clássica: submostradores às 3 e 9 horas com janela para a data às 6. Mais potenciadores do espírito vintage: escala pulsométrica das 12 às 3h e taquimétrica das 3 às 12h), vidro de safira convexo e correia de couro envelhecido perfurada, para além da utilização do logótipo Heuer. Em suma: um excelente cronógrafo para quem gosta de retro-modernismo…

Miguel Seabra
Espiral do Tempo

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