The American Dream na F1
Quando a Liberty Media foi anunciada como a nova dona da F1, substituindo a CVC na detenção da maioria das acções da empresa, ninguém pensou, nem ,de perto nem de longe, que num pequeníssimo espaço de tempo houvesse tanta modificação para registar.,
Para começar, Bernie Ecclestone, que parecia ainda de pedra e cal na continuação da liderança daquele que foi e é um caso de sucesso de sua autoria, aparece, de repente, um pouco posto de parte e em dificuldade pelos novos donos, ou, pelo menos, pelos administrador Chase Carey – o homem do bigode a disfarçar uma costura no lábio resultado de um acidente de viação. O homem que, em Singapura, visitou todos os chefes de equipa para os sossegar quanto aos seus planos futuros.
Estes vão ser para aumentar os ganhos, ou melhor, para distribuir mais equitativamente as receitas da F1, que ele quer levar para números ainda mais astronómicos, ou pelo menos, assim o promete. A expansão da Fórmula um vai entrar num novo mundo, no mundo do entretenimento americano, e, para isso, vamos ter a entrada nestes planos da Live Nation, a maior organização mundial neste sector, com mais de uma centena de managers, mais de 300 artistas de primeira água e cerca de setecentos e cinquenta milhões de fãs nas suas redes sociais…
Números impressionantes num universo que Bernie desconhece por completo e a que sempre se recusou a “ser apresentado”. Eu penso que, se este passo inicial – e depois os outros que, evidentemente, vão surgir – se concretizarem, nunca mais teremos a Fórmula um antiga, nem mesmo a actual. Isto vai piar de uma forma muito diferente.
Esperava que esta transformação fosse mais suave, mas se o Bernie se vai embora antes dos anunciados três anos ainda da sua liderança, então vamos ter uma americanização em passo acelerado e as equipas pequenas vão ganhar com isso, ao passo que as grandes, e especialmente a Ferrari, que vai ter de se habituar a não receber bónus extra, vão ter de acertar a frequência financeira e a liquidez respectiva. Sergio Marchionne já foi avisado pelo novo chefe John Malone que, no caso de pensar entrar em litígio com a Liberty Media Corporation, está feito, pois estes têm dinheiro e tempo. Acho que a mensagem chegou a Turim.
Mas o sonho americano é capaz de prosseguir com a compra da McLaren pela Apple!!! Eu não quero ainda comentar, pois se a passagem de propriedade da F1 é já um caso consumado, a compra do grupo por cerca de mil milhões e meio de libras não está ainda confirmada. Especialmente a divisão automovel do grupo, que no ano passado produziu cerca de 1600 unidades, mas que é deficitária, e poderia ver assim todos os seus problemas resolvidos. Enquanto que a Apple, depois da compra da Beats Electronics há uns tempos atrás, por três mil milhões de dólares, iria fazer a segunda aquisição mais importante da empresa. Mas com muito poucas dores de cabeça para o Tim Cook, o CEO da empresa.
A Apple, que este ano já comprou a Didi Chuxing, a versão chinesa da Uber, por mil milhões de dólares, tem, segundo consta, reservas de capitais avaliadas em cerca de 230 mil milhões de dólares… Portanto, THE AMERICAN DREAM continua a existir!
Domingos Piedade