Um novo ciclo político – um novo olhar sobre as prioridades na energia?
Quando faltam apenas alguns meses para as próximas eleições legislativas, começam a fervilhar as discussões sobre quem e como será formado o próximo governo, esquecendo-se muita vez o que é mais importante: a discussão dos temas que interessam a todos os portugueses. Felizmente, parece que há uma certa inversão nesta tendência, por certo fruto do descrédito que aquelas práticas trouxeram ao sistema político português e, mais concretamente, aos partidos políticos. A apresentação de soluções, com certeza baseadas numa conceção política que privilegie a melhor forma de organizar a sociedade em que vivemos, é essencial que seja feita em moldes sérios, realistas, explicando bem o que se pretende alcançar e, acima de tudo, como se pode lá chegar. É que muitas vezes ficamo-nos pelo “o quê” e negligenciamos o “como”, o que tem levado sistematicamente à quebra das promessas eleitorais e ao tal ceticismo dos eleitores, que é bem visível não só em Portugal, mas em muitos outros países europeus e não só.
Feita esta breve introdução, quereria agora abordar um dos temas que, não sendo dos mais apelativos em termos de opinião pública, tem uma importância fundamental no desenvolvimento da economia e no bem-estar dos cidadãos. Falo da Energia. Quando da tomada de posse do atual Governo, assistiu-se a um discurso político no sentido de recentrar o foco na competitividade, pondo a Energia ao serviço da Economia. Depois da saída do Secretário de Estado Henrique Gomes, e mais tarde com a reestruturação que se seguiu à do ministro Álvaro Santos Pereira, nomeadamente com a junção das áreas do Ambiente e Energia, voltámos a uma abordagem de privilegiar a sustentabilidade ambiental, esquecendo os outros pilares: social e económico. Portugal voltou a querer mostrar-se ao mundo como um campeão da agenda verde, sem se preocupar com os custos acrescidos que isso acarreta e, pior, colocando as nossas empresas e a nossa economia numa clara situação de desvantagem, já nem falo em relação aos Estados Unidos, mas mesmo face a muitos dos seus vizinhos europeus. Ora, sendo Portugal um contribuidor marginal das emissões de gases de efeito de estufa, e estando já numa boa posição relativamente às questões ambientais, porque não olhar para os outros dois pilares acima referidos?
Foi baseado nestas preocupações que escolhemos o título deste artigo: “um novo ciclo político – um novo olhar sobre as prioridades na Energia? Seria bom que conseguíssemos recentrar a discussão quanto às opções que se revelem mais adequadas e custo eficientes para atingir as metas ambientais de forma razoável, sem comprometer o crescimento económico pela via do preço, para as empresas e para os cidadãos; sem a regulamentação excessiva do mercado, que introduz estrangulamentos ao seu correto funcionamento; sem optarmos por soluções tecnológicas não tendo a preocupação de procurar as que são mais custo-eficientes e adequadas ao nosso estado de desenvolvimento e às necessidades da nossa economia. Esperemos que essa discussão aconteça e que a Energia deixe de estar capturada por visões unilaterais e desfocadas da realidade.
António Comprido
Secretário-geral da APETRO